Algemado, pálido, olhar desanimado, usando tênis Nike rosa choque, bermuda preta e camiseta preta com a imagem de Katrina: a linda mulher adornada de joias e rosto de caveira que simboliza a ideia de que todos são iguais, independente de posição social ou beleza física.

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Raphael Fernandes Naldoni, 27 anos, tinha acabado de ser preso em flagrante pela PM traficando ecstasy, dia 18, em frente a Capela Nosso Senhor do Bonfim, no Abraão, Florianópolis. O jovem de classe média foi preso por tráfico internacional de drogas, pela PF, em 2011, e depois solto pela Justiça Federal. Também foi preso pela PM com dois fuzis de guerra, em 16 de julho, e ganhou liberdade provisória da Justiça Estadual uma semana depois.

Policiais do 4º BPM – os mesmos que o prenderam com os dois fuzis, em 16 de julho – o flagraram dia 18 entregando R$ 9 mil em dinheiro para um parceiro que lhe alcançou uma cartela com mil comprimidos de ecstasy. Com a venda da droga lucraria R$ 41 mil.

Era nas baladas mais caras de Florianópolis que vendia os comprimidos a R$ 50 cada, em média. Toda quarta-feira fechava um camarote de R$ 2 mil numa boate de luxo, no Centro de Florianópolis. Cercado de belas mulheres, gastava R$ 10 mil numa noite.

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Momentos depois da prisão, no Abraão, Raphael falou com exclusividade ao DC. O tempo todo fez questão de passar uma imagem de vítima, às vezes entrando em contradição, e sempre em tom de voz baixo. Falou que não tem pai nem mãe. Perguntado porque está no crime se tem dinheiro, respondeu:

– O crime me persegue – .

Em seguida, negou ser traficante.

– Não podem (policiais) me ver, que já me prendem. Não sou do crime, faço curso de inglês. Sou designer gráfico e estava abrindo uma empresa de locação de material para festas – .

Mula na Europa

Raphael Naldoni não admitiu que a droga ou o dinheiro apreendidos pela PM com ele e o parceiro, dia 18, eram dele. Disse que estava indo correr no Parque de Coqueiros e só parou na capela porque foi ao armazem ao lado comprar um gatorade. Mostrou o tênis cor de rosa para “provar”.

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Natural de São Paulo, aos nove anos de idade veio morar em Santa Catarina. Concluiu o Ensino Médio em uma escola de São José.

Em 2011, foi preso por tráfico internacional de drogas pela Polícia Federal, na Operação Voyage, que desarticulou uma quadrilha com 28 jovens de classe média, que levavam cocaína com alto grau de pureza para a Europa e traziam ecstasy para o Brasil. Raphael era um deles. Serviu de mula em algumas viagens. O processo continua em segredo de Justiça até hoje.

Raphael assumiu usar ecstasy e LSD “uma vez ou outra”, mas negou ter levado droga para a Europa.

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– Fui a Itália tentar tirar minha cidadania. Minha família é de Firenze (Florença) – .

Na época, o Ministério Público Federal o indiciou apenas por associação ao tráfico. A Justiça Federal o condenou em primeiro grau pelo crime com pena de quatro anos e um mês de reclusão em regime semiaberto.

Batizado pelo PGC

Central de Triagem do Estreito, o Cadeião, Penitenciária de Florianópolis e Colônia Penal Agrícola de Palhoça. Estas foram as três unidades por onde Raphael Naldoni passou. Foi batizado no sistema prisional pela facção Primeiro Grupo Catarinense (PGC), autora dos atentados em SC.

– Não conheço e não tenho nem vontade de conhecer (a facção). Trabalhava na fábrica de ventiladores da cadeia – .

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Raphael Naldoni disse que não eram dele os fuzis de guerra encontrados por policiais do 4o BPM, embaixo da cama que ele dormia, em Coqueiros, dia 16 de julho. Conforme a PM, Raphael estava guardando o armamento, há uma semana, para o PGC. Esperava a ordem para repassar os fuzis, que seriam utilizados em novos ataques.

– Estava dormindo quando a polícia entrou. Eu dividia a casa com um amigo. Há mais de um mês meu amigo não aparecia. Muita gente frequentava a casa. Eu não sabia que tinha fuzil lá – .

Da pena resultante da prisão pela Polícia Federal, cumpriu oito meses e 17 dias. A Justiça Federal o absolveu por falta de provas. O processo foi arquivado e Raphael continuou a ser réu primário. Até hoje, já que não tem nenhuma condenação.

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Na noite do dia 18, após a prisão, suspirou chateado por retornar ao Cadeião.

– É o pior lugar que existe. Das cadeias, é o pior. Em uma semana emagreci seis quilos. A comida é horrível. Teve um dia que fiquei com 43 pessoas numa cela para oito – .

Raphael disse que estava querendo resolver sua vida antes de ser preso com o ecstasy, no Abraão.

– Queria tirar cidadania italiana e ir pra lá trabalhar – .

Perguntado em que trabalharia na Itália, ficou na dúvida.

– Não sei, depende da área – .

Ficha criminal

2008

– primeiro processo por tráfico de drogas

2011

– 5 de dezembro – preso por tráfico internacional de drogas pela PF na Operação Voyage.

– 19 de dezembro – condenado em primeiro grau por associação ao tráfico (artigo 35 da Lei n. 11.343/2006) com pena de quatro anos e um mês de reclusão em regime semiaberto.

– passou pelo Cadeião do Estreito, Penitenciária de Florianópolis e Colônia Penal Agrícola de Palhoça. Foi batizado pela facção PGC.

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2012

– 22 de agosto – foi solto depois de cumprir oito meses e 17 dias de pena, em razão de decisão definitiva do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que o absolveu por falta de provas. O processo foi arquivado. Sem mais recursos, Raphael continuou a ser réu primário.

2013

– 16 de julho – preso em flagrante por posse de arma de uso restrito das forças militares. Encaminhado ao Cadeião.

– 23 de julho – Justiça Estadual concede liberdade provisória com duas medidas cautelares

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– 18 de outubro – preso em flagrante pela PM pagando R$ 9 mil em troca de 1 mil comprimidos de ecstasy para outro traficante. Transferido para o Cadeião.