Para a Prefeitura de Joinville, o ano de 2015 acaba nesta sexta-feira. A chegada do recesso de fim de ano ajuda a virar uma página conturbada e polêmica na história do Executivo da cidade, ano em que a gestão do prefeito Udo Döhler teve de atravessar águas agitadas: greve parcial dos servidores, abertura de CPI na Câmara de Vereadores e uma crise na administração da saúde municipal envolvendo o Ministério Público de Santa Catarina, além de projetos que não saíram do papel e outros que esbarraram em articulações da oposição.

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Mas Udo, que se diz bem disposto e pronto para tentar a reeleição em 2016, avalia que, apesar do ano difícil, a Prefeitura conseguiu cumprir o que considera a missão mais difícil de todas.

– Limpamos a máquina pública. Nos deparamos aqui com um cenário assustador de corrupção e desvios de conduta. A população está vendo, em todo o Brasil, escândalo atrás de escândalo, e é por isso que me orgulho de ter mantido erguida aquela que foi uma das minhas principais bandeiras nas eleições de 2012: mãos limpas – disse o prefeito em entrevista concedida nesta quarta-feira ao jornal “A Notícia”.

Aos 73 anos, Udo usou o clima descontraído para contar que continua com a mesma rotina de acordar cedo e ser um dos primeiros a chegar à Prefeitura, além de fazer um balanço de seus três anos como chefe do Executivo municipal. Preocupado com projetos que têm encontrado dificuldades para tirar do papel, Udo não escondeu que já faz planos para a corrida eleitoral do ano que vem.

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– Quando me perguntarem qual a principal realização da minha gestão, vou dizer que foi ter modernizado e otimizado a gestão pública, ter devolvido as crianças às suas escolas, e ao povo os seus espaços de lazer e entretenimento. Estamos fazendo uma gestão honesta e focada no cidadão – disse Udo.

O prefeito comentou ainda temas polêmicos, como a pavimentação, a Lei de Ordenamento Territorial (LOT), que está travada na Câmara de Vereadores, a relação com as outras esferas de poder e fez previsões para o cenário político e econômico de 2016.

Confira os principais trechos da entrevista:

A Notícia – No início do ano, o senhor falou que a mobilidade seria uma das principais bandeiras da sua gestão em 2015. Para isso, projetos como a LOT e o estacionamento rotativo precisariam de celeridade no Legislativo. Os projetos não saíram da Câmara. Como o senhor avalia o resultado disso?

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Udo Döhler – O comprometimento do Executivo com estes dois projetos não desmente minhas palavras. Todos os esforços na esfera que nos compete foram feitos, demos a devida celeridade, cuidamos para deixar tudo de acordo com a legislação municipal e não atropelar nenhuma etapa importante do processo. Se a dedicação no Legislativo não foi a mesma, daí entramos em uma seara mais complicada. Fato é que todos sabiam que estes dois textos, em especial a LOT, exigiriam um esforço extra dos vereadores responsáveis pelas comissões, e tenho fé de que eles trabalharam da melhor maneira que puderam. Entendo que adaptar ambos ao Plano de Mobilidade de Joinville é um desafio. Embora não tenhamos visto grandes avanços na Câmara nos quesitos LOT e estacionamento rotativo, nada impede que uma força-tarefa dos parlamentares no início de 2016 consiga recolocar os temas em pauta. É importante ressaltar que, nesse meio tempo, não é a Prefeitura ou a Câmara que perdem, e sim Joinville e todo seu potencial de desenvolvimento econômico.

A Notícia – Há a previsão de construção de três pontes em Joinville, elevados, corredores de ônibus e parques, investimentos que superam os R$ 100 milhões, mas nenhuma delas começou. Essas obras podem sair do papel em 2016?

Udo – Discordo da afirmação de que nenhuma delas começou. Essas obras envolvem trâmites enormes, pois se trata de investimentos grandiosos e isso leva tempo. O ano foi de recessão econômica, e quando o ministro da Fazenda visitou Joinville, já nos deu o parecer de que as portas do cofre estavam fechadas em 2015. Mas mesmo com as previsões negativas, fizemos nosso trabalho, buscamos recursos em todas as outras frentes possíveis e demos início aos estudos de impacto ecológico, à elaboração oficial dos projetos. Como já disse, mobilidade é um dos grandes temas da nossa gestão e, nesse quesito, a construção de pontes e elevados impacta diretamente no nosso planejamento, ajuda a desafogar o trânsito, dando mais espaços para nossos ciclistas e para nossos corredores de ônibus. É claro que queremos tirar tudo do papel o quanto antes, mas não podemos atropelar as coisas. Acredito que ainda no primeiro semestre de 2016 teremos muita coisa nova para mostrar e entregar ao joinvilense.

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A Notícia – Existe um clamor popular por asfalto em Joinville. As pessoas e vereadores da oposição constantemente batem nessa tecla. Como o prefeito explica a falta de investimento nessa área?

Udo – Não investir em asfalto foi uma questão de escolha e de foco. Volto a dizer que nunca se investiu tanto na infraestrutura dessa cidade como nesta gestão. Eu poderia investir R$ 60, milhões, R$ 70 milhões em asfalto e acabar com muitas reclamações e deixar nossas crianças fora dos CEIs e nossos adolescentes fora das escolas. Só que isso seria uma tática eleitoreira, apenas para juntar votos para as próximas eleições, e não é assim que essa administração funciona. Chegamos aqui, em 2013, com 19 escolas interditadas, leitos de UTI faltando para quem mais precisava e ruas esburacas. Investir no nosso capital humano, nas pessoas da cidade, na saúde e na educação foi a escolha da minha gestão. Não vou asfaltar uma rua na zona Leste e deixar 50 crianças sem sala de aula na zona Sul. É uma questão de foco, de definir o que é mais importante e resolver os maiores problemas.

A Notícia – O PMDB não é mais o maior partido na Câmara de Vereadores. Agora, a posição é ocupada pelo PSDB, que atua com mais ênfase na oposição. A nova configuração da Câmara tem afetado o alinhamento de pautas entre o Executivo e o Legislativo?

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Udo – Começamos a gestão com quatro vereadores do PMDB na Câmara, e esta realidade permaneceu inalterada. Nossa base aliada continua firme e focada nos propósitos que definimos no início da gestão. Contudo, seria ingenuidade pensar que com apenas quatro parlamentares é possível prever o comportamento de uma casa composta de 19 legisladores. Sei que a Câmara tem cumprido com sua pauta de 2015 e, de fato, não tem decepcionado. Praticamente todos os projetos que saíram do Executivo e passaram por lá foram aprovados, com exceção daqueles que ainda estão tramitando. É evidente que, nos últimos meses, aconteceu uma dança das cadeiras dentro da Câmara e alguns vereadores mudaram de partido, alterando um pouco o equilíbrio de forças, mas eu sei e eles também sabem que nesta e naquela esfera, nossa principal preocupação deve ser o joinvilense, e não os partidos.

A Notícia – Em novembro de 2012 o senhor convocou todos os 19 eleitos e, publicamente, deu seu número pessoal de telefone e disse que todos poderiam lhe telefonar a qualquer momento. O bom relacionamento continua? Todos eles podem ligar para o senhor?

Udo – Todos, com exceção de um. Procuro atender, ajudar e ouvir as demandas dos vereadores sempre que possível ou sempre que eles me convocam. Afinal, foram legitimamente escolhidos pelo joinvilense e são a verdadeira ponte entre a população e a Prefeitura. Contudo, infelizmente não é via de regra para todos eles que o foco de nossas legislaturas deva ser o bem-estar do cidadão. Quando um parlamentar esquece de seus compromissos como legislador e assume publicamente que esta lá apenas para bater no prefeito, quem apanha é o povo. Digo isso porque uma postura assim só serve para atrasar o andamento de projetos importantes, vitais eu diria, para garantir a qualidade de vida de muita gente na nossa cidade. Eu aqui, na Prefeitura, não posso me dar ao luxo de decidir se gosto ou não de determinado vereador e forçar a aprovação do que eu quiser. Há um processo legal que deve e é respeitado por nós do Executivo, e nós fazemos isso de olho no bem-estar da população. Se todos agissem da mesma maneira, metade dos nossos problemas estariam resolvidos.

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A Notícia – Os governos estadual e federal têm sido atenciosos com Joinville?

Udo – O governo estadual, sim; o federal, nem tanto. Colombo tem sido um grande aliado e nos ajudou em situações delicadas. É um governador que olha com carinho para a região Norte de Santa Catarina, embora tenhamos enfrentado alguns problemas que exigiram intervenção municipal para que as obras continuassem em andamento. Brasília já não tem o mesmo zelo conosco. A captação de verbas é difícil e é muita inocência pensar que podemos dar conta de toda a demanda de obras da nossa cidade com a arrecadação do IPTU, por exemplo. É graças ao bom relacionamento que conseguimos trabalhar com a duplicação da Santos Dumont, começar as obras do elevado da Tuiuti, planejar a duplicação da Dona Francisca e, mais recentemente, entregar a rua Minas Gerais. Os poucos investimentos que vêm de cima, do governo federal, só chegaram até Joinville porque conseguimos provar que nosso modelo de gestão era eficiente, que somos vanguarda em muitos aspectos. Isso nos torna um investimento seguro, um lugar onde há razões concretas para se investir.

A Notícia – De volta à infraestrutura, e a ponte do Adhemar Garcia? O senhor fala que a crise cortou repasses para o Estado, mas pelo cronograma inicial, a obra deveria ter começado no ano passado, antes do agravamento da crise.

Udo – Quando a ponte desapareceu do orçamento do governo do Estado para 2016, não chegou a ser uma surpresa. Nós buscamos exaustivamente financiamento junto ao Fonplata, de US$ 40 milhões. Desde 2013, foram várias audiências em Florianópolis, sempre com encaminhamentos positivos, com o financiamento do Banco do Brasil como fonte de recursos. Em dado momento, até seria o Estado que faria a licitação. A crise, contudo, suspendeu repasses importantes, e um projeto ambicioso como o desta ponte não pode ser feito com pouco dinheiro. O desembarque da obra no Estado não significa que nós tenhamos desistido do projeto. Só avalio que vamos precisar esperar que o momento econômico melhore, e a melhor das previsões aponta que o País só deve se recuperar plenamente no final de 2016.

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A Notícia – O senhor está animado para as próximas eleições? Em que pé estão as articulações para 2016?

Udo – Não só animado, mas preparado. Constantemente me perguntam se, caso soubesse das dificuldades e dos entraves que enfrentaria na Prefeitura, me candidataria novamente à vida política. Ora, não só faria tudo novamente como é o que estamos planejando para 2016. É difícil? É, sim. Mas o desafio engrandece e temos conseguido eliminar a corrupção da esfera pública de Joinville. Só quem vive a cidade sabe a importância da integridade nos processos, e é isso que estamos garantindo. No cenário eleitoral de 2012, tivemos um duro embate no segundo turno, e apostar nas nossas bandeiras e numa campanha limpa se mostrou a melhor estratégia quando vencemos. O cidadão não gosta de buracos nas suas ruas, mas gosta menos ainda da política corrupta e suja que se pratica em outros lugares. Em 2016, vamos aumentar ainda mais nossa presença na Câmara de Vereadores e vamos conseguir vencer mais uma vez.