O delegado Maurício Luciano, titular da 17ª Delegacia de Polícia (DP) do Rio de Janeiro, afirmou não ter dúvidas de que foi o jovem Caio Silva de Souza o responsável por acender o rojão que feriu mortalmente o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade em um protesto contra o aumento das passagens de ônibus, na quinta-feira passada. Caio foi preso na madrugada desta quarta-feira em uma pousada em Feira de Santana, na Bahia.
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Imagens obtidas pela Polícia Civil mostrariam o suspeito minutos antes do lançamento do artefato explosivo sem a camiseta no rosto. O depoimento de um fotógrafo também teria sido esclarecedor sobre a identidade do homem.
– Não tenho dúvida de que foi ele, mas não temos a confissão. Não admitiu nem negou (ter acendido o artefato). Deixou muito claro que não falaria sobre o caso – disse Luciano em entrevista coletiva no final da manhã na Cidade da Polícia, na zona norte do Rio, onde Caio foi levado após desembarcar de avião na cidade.
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Conforme o delegado, o advogado do rapaz, Jonas Tadeu – o mesmo de Fábio Raposo, que teria entregue o dispositivo a Caio -, teria entrado em contato para demovê-lo de continuar em fuga. Souza teria comprado uma passagem de ônibus para a cidade de Ipu, no Ceará, na segunda-feira, após saber que o autor do crime fora identificado. No município moram avós paternos, disse o delegado.
O suspeito desembarcou em Feira de Santana e foi localizado pelo serviço de inteligência da Polícia Civil, disse Luciano, ao mesmo tempo que seu advogado e a namorada tentavam impedi-lo de seguir fugindo.
– Ele estava extremamente acuado, assustado. Disse que estava sem comer há dois dias, sem dormir – observou o delegado.
Em conversas com vizinhos e familiares, o responsável pela investigação foi informado de que Caio é uma pessoa quieta e se “transforma” durante as manifestações. De acordo com Luciano, o pai – separado da mãe – teria tentado impedi-lo de participar dos protestos. A casa onde mora a mãe “é miserável e ela não tem renda alguma”, declarou.
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– Nas relações pessoais e profissionais, ele parece ter uma personalidade completamente diferente. Sob efeito da multidão, ele se transforma, e passa a agir de uma forma extremamente violenta. É uma pessoa muito pobre que, talvez manipulada, passe a agir assim.
O delegado deve tomar mais depoimentos nos próximos dias e não garantiu que Caio e Fábio Raposo sejam Black Blocs, mas a maneira como atuam os aproxima do grupo, ponderou.
Novas investigações
O chefe de Polícia do Rio de Janeiro, Fernando Veloso, disse na entrevista coletiva que está em andamento uma investigação para apurar se as pessoas envolvidas em atos violentos agem em sintonia. Outro fato que a Polícia Civil irá se debruçar é sobre possível aliciamento de jovens em ações de depredação durante os protestos.

Foto: Reprodução
Na noite de segunda-feira, o Tribunal de Justiça do Rio decretou a prisão do suspeito. Na terça, a polícia divulgou uma foto do jovem. A imagem foi estampada em cartazes do disque denúncia.
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Souza é suspeito de ter disparado o rojão que atingiu a cabeça do cinegrafista em uma manifestação contra o aumento das passagens de ônibus no Rio ocorrida no último dia 6. Andrade estava internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Municipal Souza Aguiar e teve a morte cerebral confirmada na manhã da última segunda-feira.