O cotidiano violento do Brasil, nesses tempos de ira solta pelas ruas, nos ensina que não é preciso sair do país para fazer cobertura de guerra. A triste e estúpida morte do cinegrafista Santiago Andrade mostra isso a todos nós, profissionais da mídia. É provável que um simples capacete, até mesmo aqueles de plástico usados por ciclistas, tivesse salvo a vida dele. Ajudaria a proteger contra o morteiro, que nesse caso específico era um explosivo sem estilhaços de metal, apesar do seu grande poder destrutivo. Mas quem usa capacetes nas ruas do Brasil? Poucos repórteres. Dois colegas que acudiram Santiago, jornalistas da agência britânica Reuters, usavam capacete. Sabiam bem do potencial traumático das passeatas destrutivas dos black bloc e das balas de borracha da PM carioca. Talvez até tenham cobrido alguma guerra, antes de se aventurar no Rio que cada vez menos é paraíso e cada vez mais se assemelha a uma enlouquecida Casa da Mãe Joana.

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No RS muitos repórteres já usam coletes à prova de bala – não em passeatas estudantis ou de protesto, mas em incursões por áreas assoladas por tiroteio ou sob ocupação policial. Talvez tenha chegado a hora de cobrir passeatas com capacete, por mais ridículo que possa soar. No Rio, sem dúvida, ter apenas a cabeça dura (“elogio” com que nós, repórteres, estamos acostumados) já não adianta. A selvageria dos protestos, tanto de parte dos manifestantes quanto da polícia, está a recomendar táticas de proteção só vistas no front.

* Repórter, autor do livro Em Terreno Minado, sobre coberturas jornalísticas em área de risco