Nas últimas duas décadas, ele se tornou referência mundial no vôlei. Campeão olímpico, tricampeão mundial e premiado como melhor jogador em todas as competições que conquistou, Gilberto Godoy Filho, o Giba, decidiu compartilhar com quem acompanha sua trajetória os momentos marcantes de sua vida pessoal e profissional. Aos 38 anos, ele acaba de lançar a biografia intitulada “Giba Neles!”, recheada de exemplos de superação, como a cura da leucemia identificada aos quatro meses de idade e a recuperação de uma queda que lhe rendeu 150 pontos no braço, mas também de muitas polêmicas (veja no fim da matéria) – que Giba prefere chamar de lições de vida.
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Ídolo do vôlei, Giba lança biografia em Florianópolis
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Em Florianópolis, onde fez uma sessão de autógrafos na noite de segunda-feira, o ídolo do vôlei brasileiro falou ao Diário Catarinense sobre a concepção do livro, a abordagem dos episódios polêmicos, a relação com Santa Catarina e o cenário atual do esporte. Confira o vídeo e abaixo mais detalhes da entrevista:
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Giba fala sobre o lançamento de seu livro e sua relação com Florianópolis
Desde o primeiro capítulo, você fez questão de tratar de todas as polêmicas que envolvem sua carreira, sentia a necessidade de dar uma satisfação aos torcedores?
Todo mundo coloca como polêmica, dizem “você quis fazer polêmica”. Não. Começo o livro com o caso do doping, que para mim foi a virada da minha vida. Nós somos humanos, somos passíveis de erro. O doping veio em 2003 e ou eu enfiava a cabeça no buraco ou levantava e partia para cima. De 2004 a 2010, fui eleito o melhor jogador do mundo. Então não é uma polêmica, é uma lição de vida. O livro não escrevi de modo nenhum para fazer polêmica, nem os pontos que todo mundo está apontando, acho que coloquei para enaltecer as pessoas que estavam ali de alguma forma, seja o jogo de 2010, o doping, ou o corte de Ricardo. Não existe polêmica, existe: vamos parar e repensar um pouquinho?
Veio pessoalmente lançar o livro, Florianópolis é uma cidade especial para você?
Claro, aqui foi a última superação que passei, uma das maiores. A gente veio para cá naquela fusão de Sky e Cimed, mas pelo fato de ter tido uma fratura por estresse na canela (às vésperas da Olimpíada de Londres), não consegui jogar, infelizmente não consegui demonstrar meu jogo para a torcida daqui. Mas tive pessoas que me ajudaram demais, que estiveram do meu lado e me fizeram participar da minha última Olimpíada, então é um lugar muito importante. Mesmo não jogando, todo mundo me acolheu de um jeito maravilhoso. Obrigado a Floripa.
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Como vê o cenário atual do vôlei em Santa Catarina, sem nenhum time masculino na Superliga?
O esporte no geral, tirando o futebol, claro – o futebol para mim é religião, porque é todo mundo apaixonado, os outros são esportes. Estes esportes estão diretamente ligados à economia do país. Se pararmos para pensar, em 2004, quando fomos campeões olímpicos, todos da seleção jogavam na Itália, porque a economia não estava bem. Quando a gente voltou para cá, em 2009, a economia estava subindo. Isso está diretamente ligado, não tem jeito. E hoje a economia do país está bem triste, nem precisa falar nada, então é normal que Bruninho, Lucão, a maioria dos jogadores comece a sair do país e, os times que estão aqui, poucos têm um investimento alto.
No livro você fala que, quando saiu do voleibol da Rússia para voltar a jogar no Brasil, em 2009, teve um choque com a diferença de estruturas dos clubes e competições. Isso evoluiu desde então?
É muita coisa… Nosso país é muito novo, não tem como comparar uma Superliga que tem 15 anos com um campeonato italiano que tem 70. Tudo é feito da história. A história mostra que se você não tiver uma estrutura baseado nessa história você não vai conseguir chegar no ápice, não vai chegar na excelência, acho que o Brasil ainda está longe de chegar à excelência dentro do campeonato brasileiro, mas está na busca.
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Considera ter vivido o auge do vôlei no Brasil ou esse auge ainda está por vir?
Acho que a gente criou o auge, com muita determinação, muita luta, e não veio assim, do nada. Nossa geração começou junto em 1993 e em 2000, quando o Bernardo assumiu a seleção junto com a comissão técnica, que é sem palavras – ele também é uma pessoa sem palavras – ele soube lapidar a gente, que já tinha uma experiência. Soube moldar para que nós todos fossemos grandes campeões. É uma trajetória, uma história muito bonita de ser contada.
Qual a expectativa para a Olimpíada de 2016?
O Brasil continua dentro das cinco maiores potências mundiais, junto com Rússia, Polônia, Estados Unidos e França, uma dessas cinco equipes vão levar as três medalhas. Continuo apostando bastante e acreditando no trabalho do Bernardo, a maioria desses 12 jogadores que devem ir para a Olimpíada eu já joguei junto, acredito bastante no trabalho deles e da comissão técnica.
As polêmicas de Giba
Maconha – Em dezembro de 2002, Giba foi pego em exame antidoping do campeonato italiano por uso de maconha. A sentença veio no início de 2003, com oito jogos de suspensão. Na época, o jogador admitiu o uso, que explicou na sua biografia ter relação com um momento complicado de sua vida pessoal, com o término de seu primeiro casamento. Ao receber a visita de uma italiana com a qual estava saindo, ela lhe ofereceu a droga e ele aceitou. “Eu, vivendo um turbilhão de emoções e pensamentos, caí na tentação”, descreve no livro.
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Corte de Ricardinho – O então capitão da seleção brasileira, que havia sido eleito o jogador mais valioso da Liga Mundial daquele ano, foi cortado às vésperas dos Jogos Pan-Americanos de 2007. Desde então, muitas foram as versões levantadas sobre a dispensa, como briga por premiação e nepotismo. No entanto, “Giba Neles!” narra que o levantador chegou um dia após o combinado ao hotel em que ficariam concentrados para a preparação ao Pan e, portanto, Bernardinho juntou a todos para comunicar a decisão de dispensar o capitão. Ricardinho já havia se desentendido com a comissão técnica e manifestado a vontade de deixar o grupo durante a Liga Mundial, mas na ocasião voltou atrás e pediu desculpas a Bernardinho. “Ricardo desistiu de ir embora, ficou um clima de merda”, conta Giba.
“Jogo da vergonha” – No Campeonato Mundial de 2010, o Brasil teria um caminho mais fácil na fase final se perdesse para a Bulgária na última partida da primeira fase. No livro, Giba admite que, por decisão exclusiva dos jogadores, e não de forma unânime, a seleção decidiu que entregaria o jogo. A derrota brasileira em uma partida de baixíssima qualidade dos dois lados da quadra – os búlgaros também preferiam perder- ficou conhecida como “jogo da vergonha”. Apesar do episódio, o Brasil saiu campeão daquela competição. “Na minha opinião? Perder aqui para ganhar lá na frente”, escreve Giba.