“A polícia escutou e logo controlou tudo”, disse Ana Pessotto, estudante da Universidade Federal de Santa Catarina que presenciou as duas explosões a uma quadra da linha de chegada da Maratona de Boston nesta segunda-feira.

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– Eu estava a uma quadra do local. Na hora o barulho foi alto e o chão tremeu todo – relatou Ana Pessotto sobre o momento exato em que as bombas estouraram.

A estudante está em Boston desde agosto de 2012 para cursar parte do doutorado em linguística pela Massachusetts Institute of Technology (MIT). Segundo ela, a polícia recomendou que as pessoas permaneçam em casa nesta noite para garantir mais segurança.

Em depoimento publicado em seu perfil do Facebook, ela relata com mais detalhes os momentos da explosão e o clima prévio de uma das maiores maratonas do mundo:

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“Eu e a Mariana fomos ver a maratona de Boston e fotografar. Uma festa linda. Tentamos muito chegar pertinho da linha de chegada. Depois de uma meia hora de tentativa, desistimos. Muita gente e muitas ruas fechadas. Fomos almoçar, num restaurante a uma, duas quadras dali. Macarrão à bolonhesa pra mim, ravioli pra Mari. Já tinha pensado na sobremesa, brownie com sorvete, meu preferido. O plano era terminar o almoço e voltar pro MIT pra trabalhar. Só que alguns minutos depois, ouvimos (e sentimos) um estrondo. O chão tremeu, as pessoas começaram a levantar e sair. Nos perguntamos o que seria, dei uma garfada no macarrão. Logo em seguida, o segundo estrondo, mais forte. Levantamos todos, vimos as pessoas correndo na rua. A Mari foi até a porta pra ver o que era. Peguei a mochila. Dei mais duas garfadas no macarrão. Ia ficar sem sobremesa. A Mari volta da porta e diz “vamos sair daqui”. Ainda tirei $20 da carteira e deixei na mesa, pobre do garçom. Saímos no meio da multidão assustada até o outro lado da rua. Mandei mensagem pro meu pai no Brasil. Em 5 ou 10 minutos estava tudo dominado por carros de polícia, caminhões de bombeiro, dezenas de ambulâncias, pessoas assustadas, muitas tentando encontrar parentes e conhecidos que estavam correndo a maratona. “Move! Move! Move!” gritava um policial. Sentimos a alegria alheia de ver muitos reencontros enquanto estávamos lá paradas, sem saber direito para que lado era seguro seguir. Começamos a receber mensagens dos amigos, perguntando sobre nós. Alguém pediu nosso telefone emprestado pra avisar a mãe. Finalmente, um policial chega e diz “vão pra casa. ainda não sabemos o que está acontecendo. Saiam daqui. Vão pra casa.” Com o metrô fechado, voltamos a pé. No caminho, presenciamos mais reencontros: cenas de parentes avistando os seus na multidão de corredores que ficou contida na metade do caminho e que não pôde terminar a prova. Uma das corredoras, que acabava de reencontrar filhas e marido, nos contou que havia duas vítimas fatais. Ela tinha acabado de cruzar a linha de chegada quando a primeira bomba explodiu. Ao cruzar a ponte, Mari deu entrevista pra BBC, por telefone. Enquanto isso, eu vinha pensando nos que se feriram, nos que se foram, e principalmente nos que os perderam.”

::Sobre as explosões em Boston:

Por volta das 20h desta segunda-feira o FBI passou a classificar as explosões durante a Maratona de Boston como ataques terroristas. Duas bombas estouraram próximas à linha de chegada durante a tarde, e outras três foram encontradas próximas ao local. Pelo menos duas pessoas foram mortas e mais de 100 ficaram feridas. A região ficou tomada de fumaça e boa parte da estrutura montada para a maratona foi abalada. Milhares de pessoas foram retiradas do local, que foi isolado. Outro estouro ocorreu na Biblioteca Presidencial John F. Kennedy minutos depois, mas ainda está sendo investigado.

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Veja o mapa com o local da chegada onde ocorreram as explosões: