A meteorologia ganhou fama quando as previsões do tempo começaram a se tornar uma exigência em jornais e na TV. Entretanto, o campo de atuação do meteorologista é muito maior: empresas privadas, órgãos públicos de agricultura ou energia, Defesa Civil e empresas de comunicação têm contratado cada vez mais profissionais da área.
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Responsável por decifrar as confusas mudanças climáticas que provocam alterações nas rotinas das pessoas, o especialista deve “viver no futuro” e ter vasto conhecimento em Matemática, Química e Física. Confira como foi o encontro dos estudantes Leonardo Tomé e Natália Martins com o meteorologista da Epagri/Ciram Clóvis Corrêa:
Leonardo Tomé – Nós dois somos alunos do técnico em Meteorologia no IFSC. Qual a diferença entre a graduação e um curso técnico?
Clóvis Corrêa – O técnico trabalha com eventos mais padronizados, enquanto o graduado em um curso superior consegue fazer de fato a previsão do tempo e de acontecimentos mais incomuns, que fujam da normalidade. O meteorologista é o único profissional que tem autorização legal para fazer estas previsões, e o técnico se concentra na parte operacional da profissão. Se o fenômeno climático é algo que acontece sempre de uma maneira parecida, o técnico tem conhecimento para decifrar os dados que produzimos e emitir uma opinião. Agora, em casos como a onda de neve registrada em SC neste ano ou do Furação Catarina – um evento inédito que atingiu o Estado em 2004 -, cabe ao meteorologista formado trabalhar com os eventos anteriores para avisar a população.
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Diário Catarinense – Nestes casos em que há divergência de opiniões, quem dá o veredito final sobre o fenômeno?
Corrêa – Em eventos comuns, dificilmente há muita divergência entre as previsões, pois a tecnologia de hoje permite uma análise bem mais precisa do comportamento das massas de ar, por exemplo. Já em casos excepcionais, geralmente é quem tem mais conhecimento sobre aquela região específica que fala mais alto. No caso do Furacão Catarina, o Ciram foi o primeiro a anunciar os riscos que a população sofria, o que gerou bastante confusão. Os centros nacionais de meteorologia negaram que haveria um furacão – afinal, o fenômeno nunca havia sido visto por aqui -, e fomos ameaçados de ter os diplomas cassados por criar um caos público sem necessidade. Como tínhamos certeza que ele viria, passamos por um trabalho dobrado para convencer os outros centros meteorológicos, o governo do Estado, a mídia e a Defesa Civil. É por isso que parte da função do meteorologista é se comunicar com a população e saber expor suas conclusões de maneira proveitosa.
Leonardo – Como é o curso da UFSC?
Corrêa – Vivemos em um terreno muito especial para a profissão em Santa Catarina, pois temos aqui todos os principais eventos climáticos: tornados, enchentes, frentes frias, granizo, estiagem, ressacas do mar, neve e geadas. Justamente aqui, onde há todo esse campo para se pesquisar, não havia uma graduação em Meteorologia até o ano passado e quem estudava os acontecimentos eram os pesquisadores de outros Estados. O curso da UFSC ainda está caminhando, mas acredito que já esteja dando boas respostas.
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Confira o vídeo da conversa com Clóvis Corrêa:
Por dentro da profissão
DISCIPLINAS
O curso da UFSC é baseado num modelo seguido por todas as faculdades e recomendado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), com um começo voltado às disciplinas básicas (principalmente Matemática e Física) e matérias específi cas distribuídas ao longo dos quatro anos de formação. Segundo o coordenador Renato Ramos da Silva, a primeira turma ingressou no ano passado, e o curso é mais dedicado aos eventos climáticos extremos, como deslizamentos de terra e enchentes. Durante a faculdade, o aluno deverá ter contato com disciplinas de Climatologia, Oceanografi a, Técnicas de observação, Métodos estatísticos, Termodinâmica e Agrometeorologia. No último semestre deve ser feito um trabalho de conclusão de curso, e o estágio pode ser realizado ao longo da graduação.
MERCADO DE TRABALHO
O mercado para meteorologistas anda bem aquecido. O professor Ramos destaca um concurso para professores realizado no ano passado, que teve dificuldades para encontrar um profissional conceituado. Ele acredita que o mercado de energias renováveis esteja se tornando um grande filão para os meteorologistas, principalmente com o desenvolvimento das energias solar e eólica. Já o meteorologista Clóvis Corrêa ressalta o rápido desenvolvimento tecnológico na área, e acredita que isso possa transformar o mercado drasticamente nos próximos anos. “Quando comecei, a imagem do satélite chegava borrada, uma vez por dia e com oito horas de atraso. Fazíamos previsões de no máximo 24 horas. Hoje, temos imagens quase em tempo real e conseguimos prever para semanas, até meses”, relembra Corrêa.
OPÇÕES DE ATUAÇÃO
O meteorologista tem diversos caminhos para seguir após a graduação, mas Clóvis Corrêa acredita que o maior deles seja o Estado: ainda que esta seja uma demanda relativamente estável, alguns tradicionais empregadores são o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a Defesa Civil, as Forças Armadas e o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cepetec). As secretarias estaduais e municipais de Meio Ambiente também buscam profi ssionais que se interessem pela área. Já os centros de consultoria relacionadas à previsão do tempo, gestão ambiental e geração de energia têm criado mais espaço no mercado com bastante intensidade. As maiores empresas de comunicação, especialmente aquelas que fazem previsão do tempo, também podem ter meteorologistas contratados.
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DO QUE PRECISA GOSTAR
Para o coordenador do curso da UFSC, o aluno precisa ser alguém que “pensa no futuro”, pois o profissional está o tempo inteiro trabalhando para disponibilizar estimativas e previsões ao público. O estudante também deve gostar de computação porque grande parte das informações chega por radares, satélites e equipamentos eletrônicos. Por fim, deve-se ter um grande interesse por Matemática e Física e curiosidade sobre os fenômenos da natureza. Corrêa, por exemplo, conta que vem de uma família de pescadores e veleja esportivamente até hoje, então o interesse pelo céu e pelo mar é algo presente na sua vida desde criança. “Cada um dava uma opinião sobre o clima baseando-se na própria experiência, apenas olhando para o céu, e isso me incomodava desde jovem. Esse é o princípio básico para a escolha de qualquer faculdade: lembre-se que você pode passar o resto da vida fazendo aquilo, então só faça o que te interessa e te faz feliz”, orienta.
RENDIMENTO INICIAL
A profissão é regulamentada pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA-SC), que estipula um rendimento mínimo de seis salários mínimos (R$ 4.068) para a jornada de seis horas; 7,25 salários (R$ 4.915) para sete horas e 8,5 salários (R$ 5.763) para oito horas. Entretanto, Corrêa afirma que poucas empresas pagam o piso, e a remuneração inicial pode ser mais baixa do que a esperada. O concurso do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), do ano passado, ofereceu três vagas com renda inicial de R$ 4.229, e um outro de 2011, para o Crea-RJ oferecia R$ 5 mil mensais.