Um ano depois, o inquérito policial que apura a morte do jovem João Grah segue sem conclusão. O caso emblemático da violência no futebol de SC poderia ter servido como um marco contra a impunidade. A Polícia Civil teve acesso a uma série de elementos, como vídeo do momento do crime, testemunho de um menor de idade que confessou a autoria e identificação de suspeitos.
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Polícia diz que inquérito será concluído até 2 de outubro
Outras investigações sobre crimes que envolvem o esporte não chegaram a levantar tantas informações. Por isso, a sensação é de que 365 dias se passaram e a chance foi perdida. A Polícia Civil garante que o inquérito está em fase de conclusão e deve ser enviado ao Ministério Público até a semana que vem, quando se espera pela responsabilização dos envolvidos.
A morte de João Grah, que voltava de um jogo do Avaí em Curitiba, após ser atingido por uma das pedras arremessadas contra o micro-ônibus em que estava, na BR-101, em Balneário Camboriú, está longe de chegar ao estágio de outro caso chocante no cenário nacional.
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Três acusados pela morte de um torcedor atingido por um vaso sanitário em um jogo em Pernambuco, em maio de 2014, foram condenados a mais de 20 anos de prisão no começo deste mês. Os suspeitos foram presos na primeira semana após o crime e assim ficaram até o julgamento.
Como cada situação é diferente, especialistas evitam comparações, mas consideram que um ano é tempo demais sem alguém responsabilizado em um caso teoricamente menos complexo. E apontam possíveis problemas.
Vários fatores explicam demora
Com base nas informações do caso, tornadas públicas ao longo da investigação, o DC ouviu três especialistas em segurança pública e direito penal (veja ao lado). Eles indicam pontos que levaram à demora, como falta de perícia no micro-ônibus e nas imagens do crime, ausência de técnicas modernas de investigação por parte da Polícia Civil e falta de estrutura para a solução do crime.
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Relembre outros casos de violênica das torcidas em SC
Para Eugênio Moretzsohn, coronel aposentado do Exército, o vídeo e o micro-ônibus deveriam ser periciados. Mas, conforme o Instituto Geral de Perícias (IGP), só foi pedida a análise das pedras. As imagens não teriam qualidade suficiente e foram descartadas.

O delegado Osnei Oliveira confirmou ao DC, há dois meses, trabalhar de acordo com a demanda por ter apenas dois policiais para atuar em homicídios. Assim, a morte de João Grah não ganhou a prioridade exigida pelos familiares e pela opinião pública.
– Como a polícia tem experiência em investigar crimes de homicídio, já deveria ter havido um indiciamento. É lamentável e não vejo explicação para um fato que repercutiu tanto – afirma Juliano Keller do Valle, professor de processo penal.
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– Especialistas indicam as razões para o crime seguir sem solução:
Juliano Keller do Valle, professor de Processo Penal
“Cada inquérito depende de uma investigação mais profunda, no qual envolve material humano especializado, viaturas, treinamento etc. Nossa Polícia Civil, que já foi referência neste aspecto, está estagnada no tempo. Não há modernas técnicas de investigação. É provável que isso tenha contribuído para o atraso no desfecho, haja vista que a espécie de crime (homicídio) é comum na tradicional investigação policial. Não há nada de novo que justifique tamanho atraso neste caso.”
Eugênio Moretzsohn, coronel aposentado do Exército e especialista em segurança
“Somente a pedra passou por perícia? E o veículo não? As imagens também precisam ser periciadas, sim, pois são evidências robustas para os autos. O principal das imagens é a inteligência que elas permitem desenvolver, principalmente em cima da identificação dos veículos. Se as imagens não tiverem sido o ponto de partida da investigação, então, estamos perdidos. Várias ações poderiam decorrer de um trabalho sério de inteligência nas imagens.”
Alceu de O. Pinto Júnior, professor de Direito Penal e Criminologia
“O problema desse inquérito, ao que me parece, é externo. O responsável por toda e qualquer investigação seria da Polícia Civil (ou Federal). Na prática não está funcionando assim. A Polícia Militar faz grandes investigações, o Ministério Público faz grandes investigações, e a Polícia Civil está sucateada. Nessa disputa de poder/espaço, a Civil é esquecida e enfraquecida. E quando nos deparamos com um caso de repercussão ou de difícil solução, então a responsabilidade de apuração é empurrada para a Polícia Civil.”
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Vídeo mostra momento em que pedras são jogadas em micro-ônibus
Adolescente confessou o envolvimento, mas foi liberado após depor
Investigação policial confirma envolvimento de torcida organizada