Para o menino Aron Schimerski não basta ser um dos primeiros Bombeiros Mirins do Brasil, é preciso ganhar a medalha de superação da corporação de Joinville. Aos 12 anos, ele teve que construir caminhos para ultrapassar as muralhas erguidas pelo autismo e conquistar o mundo fora de si mesmo. Desde pequeno a família sabia que ele era diferente. Demorou a falar. Andou na ponta do pé. Mas quando manifestou o desejo de seguir os passos dor irmão mais velho Arryson, de 18 anos, todos apoiaram.
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Quando ainda criança, Aron recebeu o diagnóstico que o enquadrou na Síndrome de Asperger, um espectro do autismo em grau leve. A mãe do menino, Vânia Schimerski, garante que em um assunto que ele gosta, ele vai longe. Como todo autista, a relação que o menino tem com o mundo é bastante objetiva. Recentemente, ele aprendeu o humor durante as férias na casa dos avós e a sessão intensiva de filmes do Mazzaropi. Virou piadista de carteirinha. Mas agora precisa aprender o freio da piada.
– Parece que ele veio sem o semancol – brinca a mãe, que se envergonha quando o filho faz piada em momentos inoportunos.
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Mas antes piadista, do que isolado no próprio mundo. Além de fazer as pessoas rirem, Aron é um menino de sensibilidade aflorada. Não poeticamente, mas no sentido literal do sentir. Nas palavras de Vânia, ele alterna períodos de hipo e hiper-sensibilidade. E hoje consegue descrever o porquê de algumas reações de agonia em relação às outras pessoas.
– Ele não gostava que as pessoas tocassem nele. Hoje ele fala que sentia como se fossem picadas. E no ouvido tinha sempre um zumbido – conta a mãe.
Quando Aron está hiposensível, Vânia fica de olho. É o período em que ele mais se machuca, porque simplesmente parece estar imune à dor. Participar dos bombeiros mirins faz com ele aprenda limites. conforme a própria mãe descreve, “ele não tem noção do perigo”.
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– Para o autista é muito importante a voz de comando – considera Vânia.
Na escola, essa voz vem da auxiliar, que está sempre ao lado do menino. Mesmo que manifeste uma inteligência acima do normal, ele precisa ser guiado neste mundo ao qual vem se abrindo. Com todas as evoluções na interação social, os traços do autismo sempre desenharão os contornos de Aron, que se perde caso suas rotinas quebrem. Se for para sair para a aula às 12h45 e, por qualquer motivo o relógio aponte o 46, o bombeiro mirim bloqueia, de acordo com Vânia, “simplesmente se perde todinho”.
Menino Mazzaropi
A ansiedade faz com que ele viva acordado, feito sentinela. É o despertador da casa que passa anunciando “vamos, já está na hora de acordar, já dormiram demais”. O bom humor não é privilégio de quem convive com ele em casa. Na corporação, ele também é meio Mazzaropi e tira sarro de quem estiver por perto. A ex-monitora dele que o diga. Ana Carolina de Almeida, de 16 anos, era quem cuidava dos primeiros passos de Aron quando ele começou como bombeiro mirim. Ele a viu chegar à corporação e logo disse:
– Desengonçada, né? – caiu no riso e continuou – Ela tem 16 anos, mas parece que tem uns cinco pelo tamanho.
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Ver o irmão com uniforme dos bombeiros e participando de treinamentos foi a inspiração de Aron. Enquanto o colega de corporação a quem o menino chama de “Louro José” o abraça, o mirim elabora uma justificativa para o interesse em trabalhar na corporação.
– Porque eu achei muito legal – disse ele lembrando dos treinamentos do irmão mais velho e já foi logo emendando a piada – Passou desodorante Loro? Porque tá com cheiro de ranço.
E uma gracinha vem atrás na outra. Mesmo com o ouvido sensível, Aron não se incomoda com a sirene dos bombeiros, só com a da irmão Maria Paula, de 6 anos. E se você perguntar a ele com quem aprendeu a fazer graça, pode esquecer do Mazzaropi, a resposta é muito mais simples:
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– Eu só falo a verdade.
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