Quando surgiu a pauta sobre o movimento “criação com apego” (attachment parenting, nome original), eu nada sabia sobre o assunto. Mas a primeira coisa que pensei foi: que mãe que não tem apego pelo seu filho? Qual a novidade?

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A proposta difundida pelo pediatra norte-americano William Sears tem como pilares alguns pontos polêmicos, como amamentação no peito até que o filho decida desmamar (o que pode ocorrer pelos três ou quatro anos de idade); atender todas as vezes que o bebê chora, pois ele não sabe fazer “manha” e precisa ter suas vontades satisfeitas; e deixar o filho dormir sempre na cama dos pais – atitudes que, segundo o médico, contribuem para que a criança cresça mais segura e feliz. Há quem diz que é um nome novo para uma forma antiga de criar os filhos.

Fiquei pensando: será, então, que não fui uma boa mãe? Deveria ter ficado em casa, parado de trabalhar para cuidar das crianças? Será que fui muito dura, não permitindo que dormissem sempre na minha cama? Algumas seguidoras da cartilha de Sears levam os preceitos ao extremo. Uma atriz, por exemplo, diz que desde o parto, há seis anos, não faz sexo com o marido porque os filhos dormem junto na cama.

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Depois, fui entrevistar um grupo de mães de Florianópolis que procura seguir os ensinamentos do attachment parenting. Imaginei encontrar mulheres neuróticas com a maternidade. Que nada. São jovens tranquilas por terem optado dar um tempo à carreira para cuidar das crianças, como mostra o Donna deste domingo. Claro, elas sentem falta do trabalho, mas a criação das crianças é prioridade. E um detalhe: todas têm marido que as apoia e têm condições de bancar, sozinhos, as despesas da casa. nquanto conversávamos, em um parque, observava a naturalidade dos filhos das minhas entrevistadas (de quatro meses a seis anos de idade). Brincavam, de vez em quando pediam colo à mãe. Iguais a todas crianças.

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Aliás, desconfio que fiquei mais nervosa do que a mãe de uma menina de um ano e nove meses, que subia sem parar em todos os brinquedos e escorregadores, sozinha, sem ajuda. A mãe dela esteve sempre tranquila e a garota é muito independente para quem não tem ainda dois anos. Até que a “criação com apego” não torna a criança tão dependente quanto eu acreditava…

Depois de entrevistá-las, fui atrás de uma pediatra e uma psiquiatra que trabalha com terapia de família e constatei o quanto o tema é polêmico. Elas são absolutamente contrárias às ideias da “criação com apego”. Dizem que o aleitamento é muito importante no primeiro ano de vida, para a saúde física e emocional da criança, mas, depois, perde nutrientes. Além disso, é preciso o rompimento da simbiose mãe-filho para que ambos possam crescer como indivíduos. Também não aprovam o fato de os filhos dormirem na cama dos pais, a não ser esporadicamente. A conclusão a que cheguei é óbvia: não existem regras fixas quando se trata de educação de filhos. Cada mãe, ou casal, segue o que acha ser o mais acertado.

Eu retornei ao trabalho seis meses depois do nascimento dos meus dois filhos. Claro que me sentia culpada por deixá-los na escolinha para poder trabalhar, como toda mãe se sente. Amamentei os dois por mais de um ano. Percebia eles crescendo felizes e saudáveis, e nunca me arrependi das opções que fiz. Hoje são adultos, seguros, tranquilos, felizes. E só passavam para a minha cama quando estavam doentes ou tinham pesadelos. Ou, então, para brincar e ver filme, nas noites frias de sábado, no inverno. Coisas que fazemos até hoje. E como é bom.

A conclusão é óbvia: não existem regras fixas quando se trata da educação de filhos