O Diário Catarinense entrevistou os três candidatos à prefeitura de Itajaí. Confira abaixo a entrevista com a candidata Anna Carolina Martins (PSDB):
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“A cidade cresceu na economia, mas definhou do ponto de vista política”, diz João Paulo Bastos Gama
“Vamos tomar medidas para reativar a economia a partir do porto”, diz Volnei Morastoni
A senhora e seu candidato a vice são vereadores. Pode faltar experiência administrativa?
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Por quê?
Por só ter ocupado cargos legislativos¿
Na minha ideia, ninguém nasce prefeito. A experiência se adquire. Quando entrei como vereadora no primeiro mandato, também me subestimaram, mas eu fiz um mandato de excelência. Isso pode ser acompanhado pelo próprio site institucional da Câmara, todas as proposições que fiz, e fiscalizei com bastante afinco. Não deixei a desejar e fiz ecoar as vozes das ruas. Então, estou muito tranquila. Até porquê, não vou ter apenas quadros políticos. Terei quadros técnicos. Assim como o Porto vai ser liderado por um técnico, as demais secretarias também vão ter. E isso foi uma falha forte que o governo anterior teve.
A sua coligação tem 12 partidos. Com tantos políticos, não é difícil fazer um governo técnico?
Primeiro as pessoas disseram que se eu saísse candidata a prefeita ficaria isolada. Agora as pessoas estão reclamando que tem muita gente me apoiando. Essas pessoas que vieram me apoiar, por incrível que pareça, vieram vestindo a camiseta sem promessa alguma. Obviamente, se a gente tiver sucesso, o governo vai ser partilhado. Aliás, compartilhado, não loteado. Os partidos vão ter que indicar técnicos. Eles já sabem e isso foi previamente acordado. Não vai ter problema alguma. Até porque nós temos um grupo de partidos grande, mas temos um blocão. Juntamos sete partidos para fazer 32 candidatos (a vereador). Não são partidos grandes, são partidos de médio e pequeno porte.
A senhora passou por diversos partidos antes de chegar no PSDB. Acha que está no ninho certo agora?
Eu estou muito feliz no PSDB, porque se eu puxo o telefone e ligo pra um senador, ele me atende. Se ligo para um deputado estadual, ele me atende. Se ligo pra um deputado federal, também. Isso eu não tinha nos outros partidos. Fizemos nosso lançamento de candidatura e sem ninguém saber quem viria colocam 3 mil pessoas dentro da vila. Nas minhas caminhadas um dia vem senador, no outro vem deputado. O PSDB deixa eu trabalhar com tranquilidade. Fui com a intenção de ser vereadora, a candidatura a prefeita foi algo natural. Algo que assumi só em junho e mediante alguns compromissos. Dentre eles, não sentar para falar com partidos que tiveram algum desvio de conduta com essas operações do Gaeco, não lotear as secretarias e ter um programa de governo feito junto com a comunidade. Eles me deixaram fazer isso. Como vereadora da oposição, apontei demais. O prefeito tem 15 partidos com ele e era algo que eu também questionava. E eram 15 grandes partidos. Eu apontei os erros e sei que isso vai ser apontado pra mim. Por isso, não quero o poder a qualquer custo. A gente vem com uma grande responsabilidade aí pela frente. A arrecadação do município vai cair quase que à metade.
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O orçamento previsto para o ano que vem será 30% menor. A senhora acha que é uma previsão otimista, então?
Deste ano, a estimativa era de 1,2 bilhão. A estimativa que vamos votar na Câmara no final de ano é de R$ 980 milhões (para o orçamento de 2017). Se estão falando em R$ 980 milhões, acho que a arrecadação chega no máximo a R$ 750 milhões.
Vai faltar dinheiro. A senhora vai cortar onde?
Já está faltando dinheiro. Essa é a verdade. Uma das nossas propostas é logo ao iniciar ao governo fazer um choque de gestão. Hoje, o senhor prefeito (Jandir Bellini, do PP) tem cortado da saúde, da educação, das pessoas mais simples. A gente acha que tem que cortar da carne. Vamos exemplificar o Porto. Ele acaba sendo comandado pelo governo federal (por causa da Lei dos Portos, de 2013, que transferiu deliberações antes tomadas localmente para o governo federal), precisa ter uma estrutura como ele tem? Será que não podemos enxugar? Nós visualizamos de pronto, conversando com a cadeia portuária, 16 cargos comissionados ali que não têm função alguma. E são salários de R$ 10 mil a R$ 15 mil.
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A senhora tem uma meta de corte de comissionados?
Tenho meta de união de secretarias. Consigo, de pronto, reduzir cerca de 10. Quando falo de secretarias, incluo autarquias, fundações e subprefeituras. Nesse grupo, temos 34. Pelo menos 10 eu consigo fazer a união. Vamos ter que fazer um estudo mais aprofundado quando entrarmos no governo, mas uma ideia estrutural, em virtude da lei, a gente consegue. Nos cargos comissionados, houve uma ação de inconstitucionalidade movida pela procuradoria do município, que vinha correndo desde 2010 e saiu uma decisão ano passado na qual os desembargadores determinaram que o senhor prefeito exonerasse quase 400 cargos. Então, eles existem. Não é mentira. Não são cargos comissionados, são cabides de emprego. Que fique claro, nenhum prefeito governa sem cargo comissionado, eles são muito importantes. Secretário é cargo comissionado. Eu tô falando é do excesso.
Quantos vai cortar?
Pelo menos esses que foram por determinação judicial vão sair.
E quais são as secretarias que a senhora pretende extinguir ou fundir?
Eu não quero extinguir, mas eu vou fundir. Um exemplo é a Secretaria de Desenvolvimento Social, que pode ser unida à Secretaria de Habitação e à da Criança, Adolescente e Juventude. Em algumas ocasiões isso já aconteceu em Itajaí e outras cidades. Esse é um exemplo que gosto de dar.
Talvez pela exuberância econômica que vivia, Itajaí deixou um pouco de lado o IPTU, que hoje é mais baixo que em cidades do mesmo porte. Pretende aumentar o imposto para melhorar arrecadação?
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Não no primeiro momento. Vamos iniciar janeiro mantendo os valores, porque a cidade está passando por uma situação econômica muito difícil e não é hora da maltratar as pessoas. Depois a gente vai fazer uma avaliação criteriosa. A gente sabe que existe essa disparidade, mas tem que ser uma avaliação que não dá para fazer de janeiro para fevereiro. Não posso lançar o IPTU em fevereiro com aumento sem a avaliação do que é justo. Então, para este primeiro momento, não.
Seu programa prevê um Fundo de Compensações de Impacto Viário. Como funcionaria?
Esse fundo seria uma percentagem do lucro do Porto para que gente fizesse investimento na mobilidade. A gente sabe o impacto que o Porto traz à cidade. Eu quero que seja um porto dentro de uma cidade e não uma cidade dentro de um porto. A gente tem que lembrar sempre disso. Temos o porto, sim, que é muito importante. Mas temos a pesca, a construção civil, a indústria naval, vamos fazer um investimento legal no turismo, então temos outras coisas na cidade além do porto. Então, quando ele voltar a crescer novamente, vamos estudar isso para que isso seja revertido para a cidade.
E como vai funcionar a Política de Incentivo à Inovação e ao Empreendedorismo, também previsto no plano de governo?
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De várias formas. A gente vai investir firme no InovAmfri, que é um projeto em parceria entre o governo do Estado e Amfri (associação das prefeituras da região), já tem um terreno separado (para o Centro de Inovação). Temos a Feapi (Fundação de Educação Profissional e Administração Pública) aqui em Itajaí. Tenho escutado muito das mães nas ruas que elas pedem que o colégio tenha novamente iniciação ao trabalho. Que tenha algum exemplo de alguma profissão, não apenas o esporte e o lazer, mas que tenham essa opção também. Porque aqui em Itajaí, infelizmente, a criminalidade está muito ligada à juventude. A gente tem que ocupar as crianças.
O InovAmfri prevê a criação de um distrito tecnológico, com a criação de um bairro modelo. A senhora pretende abraçar o projeto?
Com certeza, isso não vai ser esquecido. A gente vai dar continuidade a um projeto que não é só de Itajaí. Temos esse espaço, vai ser lá na Itaipava. Já foram feitos alguns estudos, mas é algo bem complexo, que não envolve apenas Itajaí, mas a toda a região da Amfri.
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Isso dá um gancho para falar de região metropolitana. Às vezes, Itajaí, Balneário Camboriú, Navegantes, parecem uma cidade só, com problemas comuns. Itajaí exerce hoje o papel de liderar a região?
Não lidera, de forma alguma. Deveria. Pensar hoje só em cidade é muito pequeno, temos que pensar em região. Nós temos que pensar em um sonho antigo de Itajaí, que é ter uma ligação por ponte ou túnel com Navegantes, e que poderia ser encabeçado pela Amfri, se a gente tivesse um envolvimento. Tem a questão do transporte, que é interessante a gente pensar de forma regional.
A senhora falou em ponte ou túnel ligando Itajaí e Navegantes. Há recursos para esse tipo de obra?
Se for uma ponte ou túnel, isso liga as duas cidades, e obviamente são despesas divididas juntamente com o governo do Estado. Existem projetos de captação desse recursos, mas existe a necessidade de iniciativa e vontade das prefeituras competentes para que isso aconteça. Não adianta Itajaí querer uma ponte e Navegantes querer um túnel.
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E como fazer de Itajaí protagonista dessa discussão regional?
Eu tenho muita vontade de ser protagonista disso se eu tiver oportunidade. Obviamente vamos ver como vão ficar as prefeituras das outras cidades depois da eleição para ver como fica o trânsito político. Eu conheço todos (os candidatos) e me dou bem com todos, espero que isso não seja um problema na frente. É um assunto que eu pretendo trazer à tona. Nós temos aqui o Hospital Marieta (Konder Bornhausen) que precisa ser rediscutido. O hospital recebe dinheiro do governo do Estado, sim, mas é muito financiado pelo itajaiense, sendo que atende a região inteira. Eu gostaria de ter o auxílio de todas as pessoas, porque todas estão sendo prejudicadas. A mesma coisa o Pequeno Anjo (hospital infantil ligado à Univali). São assuntos em que o prefeito de Itajaí deveria estar à frente.
Seu plano de governo fala em ¿eliminar ações assistencialistas do atual governo¿. Que tipo de ações assistencialistas a senhora quer eliminar?
Várias ações são assistencialistas aqui no governo (risos). Quer que eu cite todas? Vai me colocar em saia justa (risos). O que nós queremos é dar oportunidade para todos. O que tenho ouvido andando os quatro cantos da cidade é que as pessoas querem trabalhar. Das pessoas mais simples aos empresários. Grandes empresários dizem que tem vontade de fechar as portas. Infelizmente, Itajaí recebeu uma mancha de que é uma cidade corrupta, porque de fato é. As investigações estão aí comprovando. As pessoas simplesmente não querem mais investir aqui. Tem empecilhos muito grandes junto à prefeitura, principalmente na parte de urbanismo, que deveriam ter uma gestão tecnológico, para evitar esse tipo de procedimento e constrangimento para quem depende disso. Que as pessoas possam acompanhar de casa depois de fazer um protocolo, sabendo com quem está, quanto tempo vai demorar. Tem gente aguardando mais de um ano para a aprovação de um projeto. É muita gente perdendo dinheiro por falta de habilidade ou por não querer ter habilidade e dar celeridade às coisas.
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Itajaí viveu recentemente a Operação Dupla Face, em que agentes públicos são acusados de dificultar tramitação de processos para cobrar propina. Como impedir que esse tipo de caso se repita?
De forma bem simples: transparência, gestão tecnológica para ter controle total das coisas, colocar à frente dessas pastas pessoas que realmente entendem da pasta e não têm passagem (ocorrência policial) ou qualquer outro tipo de problema. E usar o controle interno que a prefeitura tem. A gente tem uma controladoria (Controladoria Geral do Município) para fazer avaliação de contratos, avaliação de serviços e a gente não ouviu um piu. Nem antes e nem depois da operação. A gente já tem meios, mas é preciso ter alguém que dê oportunidade para essas pessoas fazerem.
Nos últimos 20 anos, Jandir Bellini (PP) governou por 16 anos e não tem direito a reeleição agora. Como avalia esse fim de ciclo político?
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Eu vejo uma nova era. Se pegar uma foto da classe política nos anos 1970 são os mesmos que de certa forma ainda comandam nesta cidade. Então, estamos falando de uma reviravolta muito grande. O nosso projeto quer oxigenar, renovar, abrir oportunidades para pessoas com mais ousadia, criatividade, dinamismo, autencidade para chegar, para combater, para bater na mesa se for necessário. Nada do que está aí vai ficar.
Nada?
Nada.
Seu plano fala em abrir concurso público para secretarias que estão carecendo de quadros técnicos. Tem dinheiro para isso?
Tem que ter. Preciso de fiscal da Famai (fundação municipal de meio ambiente) na rua. Antes tinha muito dinheiro, mas o dinheiro foi desviado. As operações estão aí comprovando. Hoje Itajaí vai ter menos dinheiro, mas esse dinheiro vai ser utilizado nas coisas em que precisa ser utilizado. Como a gente vai fazer uma gestão mais enxuta, como exemplifiquei, quando a gente tiver maior controle das contas, a gente vai economizar também. As pessoas fazem isso em casa. Eu estou muito tranquila de que a gente vai virar a volta.
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Itajaí perdeu uma chance histórica durante o momento de exuberância econômica?
Perdeu, com certeza. Falo pelo Porto de Itajaí. Quando ele era considerado a galinha dos ovos de ouro, o porto cinco estrelas, era um momento em que a gente deveria ter investido, mas viramos as costas. Os outros portos de Santa Catarina cresceram, se desenvolveram, utilizaram a tecnologia, Itajaí nada. Itajaí não tem uma grande obra. Mesmo sendo o maior PIB do Estado, como se manteve por dois anos, não fez nenhuma grande obra. A gestão é marcada por corrupção, por derrubada de ponte, por não ter feito nem desfile cívico alegando que não tinha dinheiro. Perdemos um bom momento.
E como retomar isso?
Primeiramente, fazendo como a gente está fazendo. De fato tenho conversado com as pessoas. Esse governo eu não vou fazer sozinha. Vou fazer com pessoas que entendem. Sou advogada por formação. A gente está sendo orientado por educador, profissional da saúde, cada pasta vai ter essa referência. Vai ajudar muito. O choque de gestão vai ajudar muito também. As pessoas acreditarem que não são as velhas raposas vai ajudar nisso também. A gente tem vendido esperança e trabalho. As pessoas têm visto isso. Eu me credenciei como candidata a prefeita pelo meu trabalho na Câmara de Vereadores. Isso não era uma vontade política, era uma expectativa que veio de fora para dentro. Muita gente mata e muito gente morre para ser prefeito de Itajaí porque é uma cidade maravilhosa. Pode ser explorada de diversas formas. Tenho certeza de que se a gente pegar a frente desse processo, vamos transformar Itajaí novamente.
Itajaí vive um momento de fragilidade na representação política que contrasta com a importância econômica e populacional. A cidade hoje não tem deputados federais ou estaduais. Se eleita fazer, como pretende atuar para que Itajaí recupere força política?
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É de grande responsabilidade para o próximo prefeito de Itajaí ajudar a eleger um deputado estadual e um deputado federal. Estamos falando de 136 mil habitantes, Itajaí tem capacidade eleitoral de colocar dois estaduais e um federal que representem a cidade. A gente sente o enfraquecimento de Itajaí referente a isso, mas torcemos para que (os eleitos) sejam pessoas daqui.
Aquele momento econômico que colocou a cidade na liderança estadual do PIB levou a múltiplas candidaturas e fragmentação de votos?
Na verdade, o prefeito deveria liderar esse processo. Digo isso porque aqui não é qualquer cidade. O prefeito está aqui há oito anos seguidos e as maiores lideranças estavam na coligação dele. Ele não conseguiu conduzir o processo. Entre eles houve um racha enorme. Como houve agora para decidir o candidato do continuísmo. Antes deles chegarem ao nome, tiveram quatro ou cinco opções. (o escolhido foi o adversário João Paulo Bastos Gama, do PP). Foi uma briga interna muito grande e só Itajaí saiu perdendo com isso.
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Mas a sua candidatura, não.
A minha não.
Nuvem de palavras do candidato