O resgate do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville foi até a rua Gercy Rodrigues Alves, no bairro Santo Antônio, na zona Norte, no início desta quarta-feira. No quintal de casa, a aposentada Isaura Alves Delfino, 69 anos, aguardava o barco da corporação com a água na altura da cintura. Por causa da forte chuva, o rio Cachoeira — que passa junto à via — transbordou, transformando o asfalto em uma espécie de rio.

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A senhora estava quase pegando no sono quando sentiu o colchão “flutuar”. Ela não imaginava que a água fosse chegar nesta altura dentro do imóvel, já que o terreno possui um sistema de drenagem implantado por causa das cheias de outros anos. O irmão mais velho da aposentada, de 80 anos, dormia no outro quarto e não conseguia sair da cama por causa da água. Isaura chamou a filha, que imediatamente acionou o resgate dos bombeiros.

— O barco veio buscar a gente aqui em casa e só conseguiu nos deixar “em terra firme” ali na rua Marquês de Olinda, perto do PA Norte (cerca de 700 metros distante ) — conta a senhora.

Moradora do local há 30 anos, a aposentada passou por outras enchentes, mas nunca nesta proporção. Ela dormiu na casa da filha e retornou à residência por volta das 7 horas. Somente com a claridade do dia é que Isaura se deu conta do tamanho do estrago. Todos os cômodos da casa foram afetados: lama no chão e paredes, móveis, sofás e colchões molhados. Durante a noite desta terça-feira, a precipitação na zona Norte da cidade chegou a 167 milímetros.

O pico da maré, aliado à quantidade de chuva, fez com que os rios da cidade transbordassem. No Centro, choveu aproximadamente 103 milímetros, volume previsto para um mês – no local, o rio Cachoeira também transbordou. Os alagamentos na região central afetaram o transporte coletivo, que pode ser paralisado nesta quinta-feira caso volte a chover forte na cidade.

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No Jardim Sofia, o rio do Braço provocou a interdição total da rua Dorothóvio do Nascimento (próximo ao Kartódromo) e de laterais.

— Agora, vamos passar o dia limpando e tentar recuperar o máximo dos móveis. Mas, na verdade, nem sei se vale a pena limpar, porque vai que chove mais! Eu espero que não, porque pode alagar tudo de novo — preocupa-se a senhora.

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Bairros da região Norte permanecem com ruas alagadas

A Prefeitura ainda não contabilizou o número total de atingidos pela enxurrada. Os principais bairros foram o Pirabeiraba, Jardim Paraíso, Costa e Silva, Aventureiro, Jardim Sofia e Vila Nova – sendo esses dois últimos considerados os mais críticos. Balanço realizado pela Defesa Civil nesta quarta-feira, contabilizou 24 deslizamentos, 15 quedas de muro, 201 telefonemas, mais de 80 resgates pelo Corpo de Bombeiros e 40 ruas interditadas nos bairros Sofia e Vila Nova.

No mais afetado da Zona Norte, um morador, que não quis ter a identidade revelada, disse que as ruas começaram a encher no início da madrugada desta quarta e, por volta das 11h30, o volume de água ainda não havia baixado. Em algumas vias, a água chegou a um metro de altura.

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Durante a manhã, muitas pessoas que residem no Jardim Sofia permaneceram em frente às casas para observar se o nível da água iria aumentar. Alguns moradores não conseguiram sair de casa para ir ao trabalho. A estação meteorológica localizada na Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente (antiga Fundação 25 de Julho), em Pirabeiraba, registrou 167 milímetros de água nesta terça-feira.

— Em 2005 e 2008, perdemos tudo. Como desta vez foi pior, nós vamos ficar aqui e fechar a rua para carros porque eles passam rápido e acaba entrando mais água nas nossas casas – desabafa o morador.

Aproximadamente 15 famílias estão desalojadas no bairro Jardim Sofia. A Prefeitura instalou um abrigo temporário na Escola de Educação Básica Rodrigo Lobo, na rua Cuba. Conforme Teresinha Buzzi de Andrade, diretora da escola, algumas pessoas estão dentro de carros em frente à unidade, aguardando a água baixar para poder retornar para casa. As dez salas de aula, com capacidade para 200 pessoas, poderão ser utilizadas.

As pessoas que precisam usar essa estrutura devem entrar em contato com a Defesa Civil, no ramal 199, ou procurar diretamente o local do abrigo.

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O tráfego foi liberado no viaduto da Avenida Santos Dumont durante o dia para ajudar a desafogar o trânsito na região.

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Mais de 50 pessoas para ajudar as vítimas da enchente

O Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville atendeu a 334 ligações entre a noite de terça e a manhã desta quarta-feira, com pedidos de resgate de pessoas em situação de risco e em apoio à Defesa Civil. Neste período, três guarnições com cerca de 20 bombeiros, além de apoio aquaviário e de mergulhadores, se revezaram para atender às ocorrências.

Além da corporação, cerca de 50 pessoas que integram o Grupo de Ações Coordenadas da Defesa Civil na cidade estiveram mobilizadas desde a tarde de terça até a desta quarta-feira no atendimento às pessoas atingidas pela chuva. As equipes ainda trabalharam de madrugada no atendimento à população.

Dentre as ocorrências atendidas, quatro aconteceram no Vila Nova. A rua Bento Torquato da Rocha registrou pouco mais de meio metro de água. Os moradores se surpreenderam com o volume de água, já que nem na enchente de 2008 as ruas ficaram alagadas neste nível. A diarista Albertina Behling, 41 anos, colocou os três cachorros dentro de casa, para evitar que ficassem molhados no quintal.

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— Faltaram uns dois centímetros para a água entrar em casa. O estrago poderia ter sido pior — afirma a moradora.

Bairro Vila Nova atingido pelas chuvas em Joinville
Moradores do Vila Nova nunca haviam presenciado uma enchente desta proporção Foto: Gabriela Florêncio / A Notícia

O rio Águas Vermelhas provocou o alagamento de 36 ruas e afetou 15 unidades públicas (escolas, CEIs e postos de saúde). O terminal de ônibus do Vila Nova chegou a ser interditado totalmente, mas no início da tarde já operava com quase todas as linhas.

Por volta das 12 horas desta quarta, a água havia baixado bastante no bairro e os moradores começavam a limpar os terrenos. O aposentado Samuel Pereira de Assunção, 66 anos, retirou dois sacos de lixo de 150 litros com entulhos trazidos pela enxurrada. Segundo ele, a enchente nunca tinha atingido o terreno do imóvel, limitando-se somente à calçada. Desta vez, faltou pouco para a água invadir o imóvel.

Além dos alagamentos, a Defesa Civil também registrou 23 deslizamentos entre os dois dias de chuva. O mais grave deles ocorreu na rua Joinville, no distrito de Pirabeiraba. Em toda a cidade, foram registradas interdições, totais ou parciais, em 40 ruas, entre elas, a rua 15 de Novembro e a Dorothóvio do Nascimento.

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Previsão de mais chuva para esta quarta-feira

A Defesa Civil mantém o alerta de chuva intensa nesta quarta-feira em Joinville, com volume de 70 milímetros de precipitação. O fenômeno está previsto para acontecer entre o final da tarde até a manhã desta quinta-feira (18). Já o pico de maré está previsto para acontecer durante a madrugada de quinta-feira, às 3 horas, com nível de atenção de 1,7 metro.

Por causa do cenário de solo encharcado, devido às fortes chuvas de terça-feira, a orientação do órgão é para atenção aos pontos de deslizamentos. As pessoas devem informar sobre os riscos de deslizamentos ou outras ocorrências relacionadas ao clima à Defesa Civil, no número 199.

Quinta-feira (18):

Pancada de chuva à tarde, com previsão de 30 milímetros de precipitação.

Sexta-feira (19) e sábado (20):

Persiste chuva isolada de média intensidade.

Locais de maior volume de chuva na terça-feira

– Pirabeiraba – Secretaria de Agricultura (antiga Fundação 25 de Julho) – 167 mm

– Pirabeiraba – Quiriri – 132 mm

– Centro – 103 mm

– Vila Nova – 89 mm

– Aventureiro – 80 mm

– Paranaguamirim – 69 mm

– Costa e Silva – 53 mm

– Iririú – 29 mm

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