Passados pouco mais de dez anos do golpe militar, grupos de funcionários das fábricas de Joinville se reuniam para conversar sobre as preocupações do momento: boatos de crise e ameaças não muito claras de demissões.

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Recém-chegado de Ituporanga, no Vale do Itajaí, João Schmitz reuniu alguns colegas e decidira fazer um panfleto para distribuir nos portões das fábricas. Ao invés de expressões usadas pelos sindicalistas, com palavras de ordem falando de garantias para os trabalhadores, João usou uma simples metáfora: Quando um pai de família não tem dinheiro suficiente para sustentar a casa, ele não manda seus filhos embora.

O texto, que deveria ser encarado como um pedido para que ninguém fosse mandado embora, acabou passando de mão em mão pela cidade e, como recorda hoje o próprio João, “em tempos de ditadura, não ia dar boa coisa”.

O resultado, que poderia ter ficado apenas nas consequências pessoais – um ano sem emprego e uma série de perseguições políticas -, acabou dando início a uma luta pelos direitos humanos em Joinville. Com a ajuda de alguns colegas ligados à Igreja Católica e a um grupo que começava a se articular em defesa da causa, João criou, em 1979, o Centro de Direitos Humanos de Joinville, o terceiro mais antigo do País.

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Terça-feira à noite, na Câmara de Vereadores de Joinville, João Schmitz ocupava uma das primeiras filas de cadeiras do plenário, no ato de comemoração dos 35 anos da instituição.

– O problema do golpe e da ditadura não era o grupo que estaria ou não no poder. Era a falta de liberdade. Ninguém vive sem liberdade – disse.

Concentrado, ouviu com atenção as palavras de Naldi Otávio Teixeira. integrante da Comissão Estadual da Verdade. E assentiu com a cabeça ao perceber semelhanças com o que havia falado pouco antes.

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– A palavra é li-ber-da-de – disse o palestrante.

Um, palestrante. O outro, espectador. terça-feira à noite, o sentimento era um só: lembrar os anos de chumbo é dar às pessoas o direito de conhecer melhor a história do Estado e do País.

O futuro e a memória

Em vez de fazer uma simples defesa do trabalho do CDH, o coordenador Luiz Gustavo Assad Rupp afirmou que, em conversas internas, os voluntários consideram que o melhor seria que, no futuro, o CDH deixasse de existir.

– Seria muito bom se os direitos humanos fossem plenamente respeitados. Mas infelizmente isso está longe de acontecer. Por isso é tão importante esse trabalho que está completando 35 anos.

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Na rede

Todos os internautas poderão ter, ainda neste ano, acesso a todos os arquivos, documentos e depoimentos de presos políticos e militares que participaram das audiências públicas da Comissão da Verdade em Santa Catarina.

Segundo Naldi Teixeira, já está formalizado o pedido para que um site seja criado junto à Casa Civil ou à Assembleia Leigislativa. A intenção é tornar o acesso a estas informações mais fácil e rápido.

– É um tesouro que não pode ficar só nos gabinetes. Todo mundo tem de ter acesso. E a internet é a melhor ferramenta – argumenta.

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