– Um único dia preso pode acabar com a vida de uma pessoa. Eu fiquei mais de um ano preso. Não me arrependo de nada do que fiz. Estava lutando pelo que achava certo, para que o País fosse melhor.

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As palavras são ditas com alguma dificuldade por Júlio Adelaido Serpa, 66 anos, ex-presidente do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Joinville.

Serpa é um dos mais de 65 catarinenses que foram perseguidos e presos no Norte do Estado. No mês em que o golpe militar completa 50 anos, o grupo relembra nesta terça, às 19h, na Câmara de Vereadores, os fatos que deram origem à ditadura que silenciou, perseguiu, prendeu, torturou e matou brasileiros em diferentes períodos, ao longo de 21 anos.

O evento começa com um ato de instalação da Comissão Estadual da Verdade em Joinville em comemoração aos 35 anos do Centro de Direitos Humanos (CDH) Maria da Graça Braz.

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– Escolhemos os 50 anos do golpe pela relevância da data, mas também porque é um momento importante para que a gente possa trabalhar a cultura dos direitos humanos – explica Luiz Gustavo Assad Rupp, coordenador do CDH.

O Centro de Joinville foi criado no fim dos anos 1970, quando ainda era muito forte a repressão política e havia na cidade uma forte onda de violência.

Antes de Joinville, que tinha cerca de 100 mil habitantes na época, somente Olinda (PE) e São Paulo (SP) contavam com um serviço estruturado e voltado aos direitos humanos durante a ditadura.

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A ideia do CDH não é apenas lembrar a existência do golpe militar, mas mostrar que há um resgate a ser feito na história das pessoas, envolvendo questões como a verdade e a justiça. Por isso a importância da presença da Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright (CEV), que foi incumbida de examinar as violações de direitos humanos durante a ditadura militar em Santa Catarina e auxilia a Comissão Nacional da Verdade (CNV) nas discussões que envolvem o período mais sombrio da história recente do País.

O procurador do Estado Naldi Otávio Teixeira, que liderou a tomada dos depoimentos de vários presos políticos em Santa Catarina pela comissão, vai palestrar sobre direitos humanos e apresentar o andamento do trabalho do grupo em Santa Catarina.

– Os joinvilenses poderão conhecer melhor a sua história e discutir, refletir, a partir dos depoimentos e dos testemunhos dessas pessoas – diz a professora e historiadora Derlei Catarina De Luca, que também integra a comissão.

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