No dia 27 de julho, depois de almoçar com o papa Francisco no palácio episcopal do Rio de Janeiro, Jaime Spengler aproximou-se do pontífice para apresentar-se e conversar.

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– Sou um franciscano que está tentando aprender a ser bispo – disse ele, arrancando um sorriso do papa.

A forma como Spengler se definiu no encontro com Francisco deixa entrever algumas das características que mais chamam a atenção em sua escolha como novo arcebispo da Capital.

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Considerada uma das mais importantes do país, a arquidiocese de Porto Alegre representou nas últimas décadas o ápice da carreira para os religiosos que a comandaram. Os três arcebispos que vieram depois do lendário Vicente Scherer assumiram o cargo na condição de sexagenários calejados pela experiência de já ter comandado outras dioceses e permaneceram na função até a aposentadoria.

Em oposição a isso, Spengler é um novato. Foi elevado a bispo pouco mais de dois anos atrás e nunca teve a experiência de dirigir uma diocese. Porto Alegre é, para ele, início de carreira. Se a tradição de permanecer no posto até a aposentadoria se repetir, terá 22 anos para trabalhar, até a data da renúncia compulsória.

A idade é outro diferencial. Aos 77 anos, Dadeus Grings era o bispo mais velho em atividade no Brasil. Com apenas 53, Spengler passa a ser o arcebispo mais novo. E traz algumas características capazes de facilitar o diálogo com as novas gerações. É descontraído, informal, bem-humorado. Na última cerimônia do lava-pés, realizada na Fundação de Atendimento Socioeducativa (Fase), provocou gargalhadas entre os adolescentes selecionados para recebê-lo:

– Ninguém aqui tem chulé, né? – brincou.

Outro aspecto notável, também contido na apresentação que Spengler fez de si ao Papa, é o fato de ele ser um franciscano, integrante da ordem fundada por São Francisco de Assis há oito séculos. Isso pode ter desempenhado um papel importante em sua escolha para o cargo. Jorge Mario Bergoglio escolheu ser chamado de Francisco por desejar uma igreja mais franciscana – mais pobre e mais identificada com o social.

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A proveniência de Spengler, Santa Catarina, é outro fato novo. João Becker foi o último não gaúcho nomeado arcebispo de Porto Alegre, mais de cem anos atrás – e mesmo assim ele havido crescido no Estado, depois de emigrar da Alemanha aos oito anos. Durante todo o século 20, a Igreja do Rio Grande do Sul foi um celeiro de sacerdotes, exportando bispos para todos os cantos do país. A vinda de um catarinense para cuidar do rebanho católico de Porto Alegre pode vir a ser vista como um símbolo do fim de uma era de fartura de vocações.