Há 12 anos no comando da Arquidiocese de Porto Alegre, Dadeus Grings anunciará seu substituto nesta quarta-feira.
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Zero Hora – O senhor apresentou sua renúncia dois anos atrás. Estava ansioso por este momento?
Dadeus Grings – Sim. Sou o bispo mais idoso em atividade no Brasil. Mas somos provisórios neste mundo. Temos de viver cada momento como se fosse único e último da vida. A Igreja é estável, definitiva. Temos de fazer como se ficássemos sempre, porque não trabalhamos para nós. Não se para. Neste dois últimos anos, a Igreja não parou. Todos os conselhos, reuniões e pastorais continuaram. Fiquei na expectativa, mas trabalhando.
ZH – Quais são os planos para o futuro?
Dadeus – A gente continua bispo sempre. As atividades continuam. A gente brinca que entra na idade do “já que”. Porque já que está desocupado, poderia pegar uma novena, fazer uma palestra, dar um curso. Não terei mais o compromisso da administração, que é o que mais desgasta. Vou estar livre disso, mas para servir no que precisar.
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ZH – Onde o senhor vai morar depois da aposentadoria?
Dadeus – Vou primeiro falar com o novo arcebispo, para ver se ele vai precisar de mim para algum projeto. Mas tem várias alternativas. Tem o seminário de Viamão e tem várias paróquias que já ofereceram para eu ficar junto ao pároco, para depois até atender as pessoas que chegarem lá, dando aconselhamento, orientação. A gente na Igreja tem o modelo da família. Como bispo emérito, serei uma espécie de vovô. O avô não interfere na administração da família, mas está presente, com carinho, com orientação.
ZH – O que o senhor vai passar de informação para o novo arcebispo?
Dadeus – A primeira coisa que vou passar para ele é minha agenda, com compromissos assumidos até o fim do ano. O que ele puder assumir, passo para ele. O que ele não puder, eu cumpro. Por exemplo, vamos ter agora oito ordenações. Isso cabe ao arcebispo. Mas se ele quiser que eu faça alguma, não tem problema.
ZH – E que desafios o senhor vai dizer para ele que é necessário enfrentar?
Dadeus – O problema das vocações, que é um desafio aumentar. O nosso sonho é formar 20 padres por ano. Todas as paróquias têm um pároco, mas precisamos criar novas paróquias. Não criamos novas paróquias para não ter déficit de padres.
ZH – O que o senhor diria que foi a marca de seu período como arcebispos?
Dadeus – Uma coisa importante foi a reorganização da arquidiocese, em que criamos uma estrutura nova, a dos vicariatos. Dividimos a arquidiocese em seis vicariatos. Cinco territoriais e um ambiental, o da cultura. Desses cinco vicariatos territoriais, um já virou diocese, o de Montenegro. O de Guaíba também já está se preparando para isso. Os vicariatos são importantes porque com eles nós descentralizamos a administração. Porto Alegre é uma arquidiocese muito grande, com um terço da população do Estado. Por isso temos a necessidade de ficar mais perto, com o bispo morando lá no vicariato.
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ZH – Como o senhor avalia hoje as várias polêmicas em que se envolveu, como as brigas com médicos e advogados, a controvérsia com os judeus e as declarações sobre pedofilia?
Dadeus – Eu acho que temos de ter a coragem de denunciar as coisas. Na questão dos judeus, por exemplo, disseram que eu estava negando o Holocausto. Mas eu estava apenas dimensionando, dizendo que não foram só judeus que morreram lá. Os outros não são lembrados. Não é justo.
ZH – Em algumas dessas ocasiões, o senhor foi criticado pesadamente. Isso o abalou?
Dadeus – Não, isso não. Nós temos de orientar nossa população desorientada. Teve a questão da homossexualidade. Disseram que iam fazer uma manifestação na frente da catedral. Na véspera, perguntaram o que eu achava. Eu disse: “Primeiro vamos ver a manifestação, depois me pronuncio”. Mas no dia da manifestação, em vez de uma multidão, tinha quatro pessoas com cartaz. Não tinha por que responder, não tinha ressonância nenhuma.
ZH – Vai ser difícil deixar a função?
Dadeus – Não, não. Apareceram muitos livros que eu queria ler e não tive tempo. Tenho muitos livros reservados para ler.
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