Durante a campanha eleitoral, quando poucos acreditavam que seria eleito presidente do Irã, Hassan Rouhani apresentava como uma de suas propostas “parar de fingir que negociamos com o Ocidente”.
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Cinco meses após vencer a votação, derrotando Said Jalili, negociador-chefe para temas nucleares no governo de Mahmoud Ahmadinejad, Rouhani dá sinais de querer cumprir a promessa.
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Neste domingo, revertendo uma década de paralisia nas negociações, Irã e o chamado grupo 5+1 (composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, China e Rússia, mais a Alemanha) anunciaram um entendimento histórico, obtido em três rodadas de conversas com os representantes do novo presidente.
Pelos próximos seis meses, em troca da suspensão de parte do programa de enriquecimento de urânio iraniano, as potências irão aliviar as sanções – especialmente nos setores de petróleo e bancário. O fim dessas restrições representará uma injeção de US$ 7 bilhões na economia persa.
O Irã enriquece urânio a 20%, nível que levanta suspeitas de que seu objetivo é dotar-se de armas nucleares (o que requer enriquecimento a 90%). Pelo texto firmado, o país irá se limitar a enriquecer urânio a 5% nos próximos seis meses (veja quadro ao lado).
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O país vive pressionado por sanções desde 2006, mas o endurecimento destas retaliações em 2012 mergulhou o país em crise profunda. A inflação atingiu oficialmente 36% no final de outubro, e o desemprego supera 11%.
O acordo é sólido, embora restem seis meses de negociações difíceis para um pacto completo, alertaram analistas. Para Suzanne Maloney, especialista em Irã na Brookings Institution, entre os pontos positivos estão as verificações “mais amplas do que nunca” sobre o programa nuclear.
Um potencial obstáculo para um acordo mais amplo será a insistência de Teerã de que tem direito a enriquecer urânio, o que os EUA negam. Israel liderou as vozes negativas ao texto e denunciou ontem “um erro histórico”.
– A partir de agora, durante os próximos seis meses, Israel será mais seguro do que era – rebateu o secretário de Estado americano, John Kerry.
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As monarquias árabes do Golfo também veem com desconfiança o acordo. Temem que o fim das restrições ressalte as ambições regionais do país persa.
Principais compromissos do acordo
Irã
– Não enriquecerá urânio a mais de 5% durante seis meses.
– Nas reservas existentes de urânio enriquecido a 20%, o Irã guardará a metade em óxido de urânio para fabricar combustível destinado ao reator TRR. Diluirá o estoque restante a 20% de UF6 (hexafluoreto de urânio: o gás que alimenta as centrífugas de urânio) a menos de 5%.
– Suspenderá as atividades nas centrais de Natanz, Fordo e Arak.
– Não abrirá novas instalações.
– Serão entregues informações detalhadas à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), incluindo mapas das instalações, uma descrição de cada edifício em cada instalação nuclear.
As seis potências
– Suspenderão os esforços para reduzir as vendas de petróleo bruto do Irã, permitindo que os clientes atuais do país continuem comprando os mesmos volumes.
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– Suspenderão sanções dos EUA à indústria automotiva do Irã e a seus serviços vinculados.
– Não emitirão nova sanção do Conselho de Segurança da ONU, da União Europeia e do governo americano.
– Irão estabelecer um sistema de financiamento que permita o comércio humanitário para satisfazer as necessidades do Irã.
– Suspenderão sanções da UE e dos Estados Unidos sobre o ouro e sobre os metais preciosos, assim como sobre os serviços relacionados às exportações iranianas.