O empresário catarinense Alexandre Fernandes está acostumado a tratar de investimentos milionários. Ex-secretário de Articulação Internacional do governo do Estado, ele ajudou a formular a estratégia que atraiu a BMW para Araquari. Agora, está na linha de frente de outro megaempreendimento previsto para a região: o Terminal Graneleiro da Babitonga (TGB). Fernandes apresentou detalhes do projeto em reunião da Associação Empresarial de Joinville (Acij) realizada segunda-feira à noite.
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Os detalhes do projeto do TGB abrem a série de reportagens Xô, Crise, que vai destacar ao longo dos próximos dez dias, ações e investimentos que empresas da região Norte estão implementando para superar a crise. O objetivo da iniciativa é valorizar o empreendedorismo local e aqueles que conseguem enxergar além, mesmo em momentos críticos.
O TGB será erguido na Estrada Laranjeiras, na zona portuária de São Francisco do Sul, e receberá um investimento totalmente privado que chega a R$ 600 milhões. Com área ocupada de 601 mil m², terá capacidade para movimentar até 14 milhões de toneladas de produtos como soja, milho, açúcar e farelo de soja. Traduzindo em números, isto seria o equivalente a uma geração de receitas, inicialmente, de cerca de US$ 170 milhões, calcula o empresário.
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O terminal vai atender à demanda de exportação de açúcar e grãos de países como China e Emirados Árabes. O potencial do agronegócio justifica: as safras de grãos vêm batendo recordes. Por isso, nem mesmo a atual crise esfria os ânimos do investidor.
– Não estamos tirando o pé do projeto – garante Fernandes.
Durante a fase de implantação, a expectativa é de que aproximadamente mil vagas de trabalho sejam abertas. Na fase operacional, o TGB vai gerar 295 empregos diretos. O relatório de impacto ambiental do projeto já foi protocolado na Fatma. Agora, a espera é pela liberação das licenças que permitam o início das obras.
Fernandes é cauteloso ao falar de prazos, mas acredita que, com todas as licenças em mãos, é possível viabilizar o empreendimento em um prazo máximo de 28 meses. Uma ação do Ministério Público Federal (MPF) que questionava alterações no Plano Diretor e na Lei de Zoneamento Urbano de São Francisco do Sul – que teriam, segundo a denúncia, favorecido a implantação do TGB – foi negada pela Justiça e não deve ser um empecilho para o andamento do projeto.
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Envolvimento social
Durante a apresentação, Fernandes explicou que a questão social é um aspecto importante do empreendimento. Para dissipar as dúvidas da comunidade, o TGB realizou quatro pré-audiências públicas em São Francisco para explicar detalhes do projeto antes da audiência oficial, que reuniu cerca de 700 pessoas.
– As pessoas são contra quando elas têm medo, então procuramos desmistificar a obra – disse.
Além da preocupação em estabelecer um diálogo com a comunidade, os investidores estão prevendo uma série de obras como contrapartida do empreendimento, entre elas, a instalação de 16 pontos de ônibus cobertos e melhorias em hospital, escolas e vias de acesso, além de parcerias com instituições de ensino da região para capacitação de profissionais.
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Impulso para melhorias logísticas
O projeto do TGB prevê a instalação de um píer de atracação com 316,8 metros de extensão, com dois berços localizados em um canal de 14 metros de profundidade. Esta estrutura estará conectada à retroárea por meio de uma ponte de 375 metros de comprimento, por onde as cargas passarão com destino a gigantescos silos, capazes de armazenar mais de 24 mil caminhões de açúcar, 12 mil caminhões de grãos (soja e milho) e mais de cinco mil caminhões de farelo de soja.
O TGB também contará com um ramal ferroviário, que poderá atender a uma composição com até 800 metros de comprimento. Ele será instalado inteiramente dentro do terminal, o que garantirá que as manobras de trens não comprometam o trânsito externo. Os veículos poderão ser descarregados sem a necessidade de quebra ou parada de composição, apenas reduzindo a velocidade.
Todo este potencial ainda deve estimular o desenvolvimento da infraestrutura logística para exportação da região, avalia Fernandes. Apesar de o projeto prever o escoamento das mercadorias, principalmente, por ferrovias, ele também exigirá boas condições rodoviárias para a circulação de caminhões. E é aí que entra, também, a expectativa por um desfecho envolvendo o lote 1 da BR-280, trecho de 36 quilômetros entre a BR-101 e o Porto de São Francisco do Sul, que já está licitado, mas sem previsão de emissão da ordem de serviço para o início das obras.
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– Um terminal como o nosso vai botar mais pressão no governo federal para esse investimento – acredita o empresário.
Parte do gargalo que envolve embarques de produtos brasileiros para o exterior também deve ser amenizada com o empreendimento. Segundo dados de 2013 da agência marítima Williams Brasil, subiu de 32 para 49, em novembro daquele ano, o número de navios que aguardavam para embarcar açúcar nos portos brasileiros.
Projeto nasceu em 2007
O catarinense Alexandre Fernandes é um dos três sócios do terminal graneleiro. Os outros dois são internacionais: a Al Khaleej Sugar, dos Emirados Árabes Unidos, maior refinaria independente de açúcar do mundo e uma das maiores compradoras deste insumo do Brasil; e a Nidera Sementes, da Holanda, especializada em serviços de processamento, armazenagem e logística de grãos e oleaginosas, com subsidiárias em mais de 20 países.
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O namoro com árabes e holandeses começou em 2011, mas o empresário catarinense conta que já desenhava o empreendimento na região desde 2007. A decisão por São Francisco do Sul acabou sendo fácil: a Estrada das Laranjeiras está a apenas dois quilômetros da BR-280 e a apenas três da linha férrea operada pela ALL, diferenciais logísticos que facilitam a operação.
– É o lugar ideal – resume o empresário.
Além disso, o governo do Estado já firmou protocolo de intenções se comprometendo a construir dois acessos ligando a linha férrea no terminal da BR-280 ao TGB.
