Durante a alta temporada, o Norte da Ilha em Florianópolis sofre uma espécie de invasão sul-americana, cujos generais são os argentinos. Depois do Réveillon, as ruas de Canasvieiras (ou Canasbieras, como pronunciam os hispanohablantes) encontram no espanhol sua segunda língua e as cores azul e branco da nação hermana pintam as calçadas.

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Esse fluxo de turistas causa um impacto que vai muito além do econômico, é também cultural. Um dos traços mais marcantes desse intercâmbio é o idioma. Um rápido passeio pelas calles de Canas comprova facilmente que a língua de Camões é diferente da de Cervantes e é necessário um pouco de treino para compreender o que é hablado numa conversa qualquer.

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Sabendo dos entraves que a diferença entre esses idiomas pode causar, um bar tocado por uma família argentina em Canasvieiras lançou neste ano um menu com tradução de alguns termos culinários do português para o espanhol. Nele, a alface vira “lechuga” e o catupiry se transforma em “tipo de queso suave y cremoso”.

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— Os clientes chegam a passar uns 20 minutos olhando para o nosso cardápio e quando descobrem que sou argentino, ficam mais tranquilos – explica o garçom Cristian Pico Camacho.

Nas areias de Canas, Diego Árias, 38 anos, carrega uma placa “Se acepta peso argentino”. O vendedor ambulante, que deixou a terra de Maradona há seis anos devido à crise, pede que a entrevista seja em português e considera Canasvieiras uma sucursal de Mar del Plata.

— Gosto de desafios e aprender português sozinho foi um deles.

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Já o vendedor de uma loja de eletrônicos, Antônio Bispo, 46 anos, é fluente em espanhol graças aos anos que trabalhou como guia turístico em Foz do Iguaçu.

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— Creio que falar bem a língua espanhola pode ser um diferencial, uma vez que 90% do nosso público é argentino.

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Mas a coisa não é tão fácil do lado lusófono da história. O vendedor Luiz Carlos, 39 anos, trabalha há quatro anos no Norte da Ilha e confirma a necessidade de dominar o idioma dos hermanos.

—Vou brincando com o espanhol a cada temporada, trocando ideia com os turistas. Hoje, por exemplo, aprendi que canudo pode significar um tipo de sorvete.

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Cassiane Dorigon ministra aula de espanhol há 22 anos em Florianópolis. Para ela, esse contato tão próximo com o idioma facilita o aprendizado e, dependendo da intensidade, pode ser inclusive considerado uma imersão:— O resultado é positivo. O aluno que tem esse contato chega com uma visão mais ampla dos conteúdos e conceitos. Eles aprendem instintivamente, que é como sempre deveria ser — reforça.

Mas Cassiane pondera que em alguns casos esse contato pode levar a vícios de linguagem e também a alguns equívocos:

— Como as línguas são parecidas é mais fácil ousar. Mas às vezes a brincadeira não funciona — brinca.

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Não passe vergonha com o portunhol

Acreditar: Creditar valor, dinheiro

Apellido: Sobrenome

Berro: Agrião

Cola: Fila (de pessoas) ou rabo (de animal)

Cuello: Pescoço

Embarazada: Grávida

Exquisito: Requintado

Fecha: Data

Grasa: Gordura

Oficina: Escritório

Zurdo: Canhoto

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