Abatido, o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), 61 anos, trancou-se em casa no fim de semana.

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A reclusão do prefeito se iniciou na sexta-feira, horas depois de a Polícia Civil anunciar a conclusão do inquérito policial que apurou as responsabilidades pelas 241 mortes no incêndio da boate Kiss, na madrugada do dia 27 de janeiro.

O inquérito policial apontou indícios de homicídio culposo, conclusões que serão remetidas à 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, e supostos atos de improbidade administrativas que serão enviados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instaurada pela Câmara dos Vereadores de Santa Maria.

A reclusão de Schirmer alimentou boatos na cidade no fim de semana. A estratégia, no sábado, foi o principal assunto na Boca Maldita, um tradicional ponto de encontro no Calçadão, no centro da cidade.

Ali, durante boa parte do dia, as pessoas debatem política, futebol e outros assuntos. Antes da tragédia da Kiss, aos sábados, Schirmer era um dos debatedores da Boca Maldita.

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O local nasceu nos anos 80, inspirado na Boca Maldita paranaense, que existe em Curitiba (PR) desde 1956.

Há um ponto em que amigos e inimigos políticos de Schirmer concordam: ele teria adotado a estratégia errada desde o começo para lidar com a tragédia. Fechou-se no gabinete e usou leis municipais, estaduais e federais como argumento para se isentar de responsabilidades jurídicas.

Em contrapartida, Schirmer pedia que funcionários da prefeitura atuassem na ajuda aos pais das vítimas e sobreviventes do incêndio.

– O Schirmer deveria ter vindo para a rua e trabalhado ombro a ombro com aquelas pessoas que ajudavam a resolver os problemas criados com a tragédia, e com a polícia, que apurava o fato. Ao não marcar presença, ele se omitiu e agora está pagando o preço – avaliou um dos amigos do prefeito, que falou com a condição de que seu nome não fosse revelado.

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Esse amigo ajudou o atual chefe do Executivo a vencer sua primeira eleição, em 1972, para vereador de Santa Maria pelo extinto MDB, atual PMDB.

Schirmer teria se fechado por ser centralizador das decisões

Esta estratégia adotada por Schirmer seria decorrência do seu perfil de concentrador de decisões. Uma outra pessoa próxima diz que, com isso, ele agrega apenas pessoas que concordam com ele.

Os inimigos políticos do chefe do Executivo estão apostando que a estratégia do isolamento alimentará um desgaste da administração municipal causado pela responsabilização da tragédia apontada pelo inquérito policial.

Acreditam, ainda, que o movimento Fora Schirmer! Impeachment Já!, que começou tímido e tem uma manifestação marcada para as 16h desta segunda-feira, em frente ao gabinete do prefeito, na Praça Saldanha Marinho, deverá crescer.

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O ato está sendo organizado pelas redes sociais.

– É uma bola de neve descendo a montanha – comparou um frequentador da Boca Maldita.

A última vez em que Schirmer apareceu em público foi na sexta-feira, uma hora depois de o delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, ter lido o relatório do inquérito policial durante uma concorrida entrevista coletiva no Centro de Ciências Rurais, na UFSM, justamente onde estudavam 65 dos 241 jovens mortos.

Na ocasião, no prédio da Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV), Schirmer leu um comunicado em que chamou de “aberração jurídica” as conclusões dos policiais sobre a responsabilidade dele na tragédia da Kiss.

Permitiu que fossem feitas cinco perguntas pelos jornalistas e, desde de então, está fechado em casa.

Durante todo o sábado, Zero Hora tentou conversar com o prefeito, sem sucesso. Neste domingo, o chefe do Executivo informou, por meio de sua assessoria, que não irá falar com a imprensa. Schirmer alegou que está dedicando o fim de semana para a família.

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