Uma das ações mais naturais desde que os seres humanos habitam a Terra, a amamentação tem se tornado alvo de polêmica. A Hora do Mamaço, evento criado pela organização comunitária brasileira Aleitamento Materno Solidário (AMS) em 2012, chega à terceira edição neste sábado para fortalecer o direito à amamentação em qualquer lugar.

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>> Mães contam experiência de amamentar em público em Blumenau

Em Blumenau, as mães se reúnem no jardim do Teatro Carlos Gomes. Vão amamentar, esclarecer dúvidas e mostrar que oferecer alimento ao filho é um gesto saudável e precisa ser resguardado. Desde junho, a lei estadual 16.396 garante o direito à amamentação em qualquer lugar público e determina advertência e multa de R$ 2 mil e R$ 40 mil para estabelecimentos que descumprirem a norma. Há muito anos, porém, o Estatuto da Criança e do Adolescente já determina que o poder público, as instituições e os empregadores proporcionem condições adequadas ao aleitamento materno.

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Mesmo sendo primordial, mães vem sofrendo represálias por amamentar em público. Janine, Jerusa, Scheila e Mariana são exemplos de mulheres que sofreram constrangimentos, de olhares de reprovação a pedidos para amamentar no provador de uma loja.

Para o pediatra e professor do curso de Medicina da Furb Tarcísio Lins Arcoverde, este comportamento é reflexo da sexualização da imagem do seio:

– As pessoas têm dificuldade de aceitar que o seio materno alimenta. É curioso que num shopping, por exemplo, onde tem uma praça de alimentação, criem uma salinha de amamentação. É claro que se ela se sente desconfortável ao dar de mamar em público ela deve ter um lugar reservado, mas a amamentação deve ser encarada como alimentação natural.

Ele questiona ainda a exposição de mulheres seminuas nos meios de comunicação em comparação ao choque de encontrar uma mãe amamentando em um shopping:

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– Uma coisa curiosa é que expor os seios do ponto de vista do Carnaval, por exemplo, não há nenhum problema, mas se uma mulher expõe o seio para alimentar o próprio filho as pessoas ficam horrorizadas. É incompreensível.

A psicóloga do Banco de Leite Humano de Blumenau, Celene Kucher, divide a opinião com o pediatra, destacando que a sociedade moderna prioriza a função estética do corpo e por isso o seio é visto, primeiramente, como órgão sexual e de apelo erótico. Ela ainda ressalta que eventos como o Mamaço podem ajudar a mudar o pensamento em relação à amamentação em público.

– O seio tem essas duas funções que são nobres, de sexualidade e de alimentação, mas no momento em que a mãe está amamentando ele é da criança, é para isso que serve. Acho que à medida que as pessoas ouvem falar mais nisso, com esses eventos, e isso ganha a força do coletivo, a consciência vai mudando – avalia.

Confira também a opinião da nutricionista da Secretaria de Saúde de Joinville e facilitadora do Ministério da Saúde para a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil, Janine Guimarães:

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“Cada vez mais fica evidente o descompasso entre o avanço científico sobre a amamentação e o ato de amamentar enquanto uma prática socialmente instituída. A amamentação precisa ser encarada como um dos atributos que caracterizam a maternidade como um bem social compartilhado. Necessita, portanto, ser compreendido como um processo político e social, na medida em que é um ato compartilhado e, portanto, regulado pela sociedade que imprime sua ideologia. É uma opção da mulher, determinada por suas condições concretas de vida. Neste sentido, a rede de apoio, que inclui a família, os amigos, os profissionais de saúde e toda a sociedade são fundamentais para encorajar e amparar a mulher que amamenta. Se a construção de um estado mais digno no futuro depende dos investimentos na infância, a amamentação rompe as fronteiras da saúde para ser discutida como uma questão de cidadania, entendendo que o primeiro direito que toda criança tem neste mundo é o direito ao leite materno como salvaguarda à vida”.

Serviço

Hora do Mamaço

O quê: Amamentação coletiva

Onde: Jardim do Teatro Carlos Gomes

Quando: Sábado, 2 de agosto

Horário: 10h

Participação gratuita e aberto a todos: mães que amamentam e pessoas que apoiam a causa