Uma das ações mais naturais desde que os seres humanos habitam a Terra, a amamentação tem se tornado alvo de polêmica. Atualmente, mães precisam lutar pelo direito de dar de mamar aos filhos em locais públicos, pois se tornaram vítimas do preconceito de quem considera o ato “nojento”, “feio”, “mal educado” e até “imoral”.

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Janine, Jerusa, Scheila e Mariana são mães que amamentam em livre-demanda (como orienta a Organização Mundial da Saúde) e já sofreram algum tipo de constrangimento, de olhares de reprovação a pedidos para amamentar no provador de uma loja. Além de situações embaraçosas, elas têm em comum a mesma opinião: quem é contra a amamentação em público – ou acredita que as mães deveriam ser mais discretas -ignora a função primordial do seio de alimentar a cria e trata o órgão apenas como objeto sexual.

>>> Confira aqui o vídeo com entrevista de mães sobre o Mamaço

“Escondido é mais bonito”

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Jerusa da Silva Horácio, 32 anos, é mãe em tempo integral desde o nascimento da primeira filha, Sofia, há 10 anos. Sempre prezou pela criação das crianças com naturalidade e o nascimento de Celeste, hoje com um ano e quatro meses, a aproximou ainda mais da luta pelos direitos das mães, como amamentar em público. Mesmo engajada, a representante do Aleitamento Materno Solidário (AMS) também já foi alvo de constrangimentos:

– Eu estava no mercado e a Celeste estava no sling (faixa de tecido amarrada ao corpo da mãe que sustenta o bebê) mamando e a pessoa chegou e perguntou o que era, então eu mostrei e ela disse “Ah, é um bebê, e está mamando! Bem que você faz deixar escondido, porque é muito feio ficar com os peitos de fora”. Eu me senti tão mal que tirei a Celeste e a deixei mamando fora do sling porque eu não estava fazendo nada errado ou feio.

Convite para o provador

Foi muito jovem que Scheila Bianca Kleticoski, 19 anos, se viu cheia de dúvidas sobre a maternidade. Logo após o nascimento da filha Heloisa, de cinco meses, a falta de conhecimento fez com que deixasse de ir a alguns lugares por medo de não encontrar espaço para dar de mamar à menina. A ajuda veio da internet e Scheila compreendeu que amamentar era natural e importante. Mas como nem todos têm o mesmo entendimento, ela enfrentou situações embaraçosas. Enquanto fazia compras foi convidada por uma vendedora a amamentar no provador da loja. Ela também teve fotos amamentando Heloisa excluídas de uma página de apoio ao aleitamento e de seu perfil no Facebook pela administração do site – as imagens foram consideradas pornográficas.

– As pessoas acham que a mulher está se expondo demais, mas isso não tem explicação. Depois que ela nasceu, meu marido mudou de opinião. Antes ele achava que tinha que colocar fralda para esconder, mas agora entendeu que é uma necessidade dela e não é vergonha para mim, pelo contrário, é um orgulho poder nutrí-la com o meu leite.

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Bebê na faculdade

Mariana Spadacci, 25 anos, atrai olhares por onde passa. Mas quando está amamentando Maria Valentina, de um ano e dois meses, os olhares nem sempre são de admiração pela sua beleza, mas de reprovação por estar exposta enquanto alimenta a filha. Estudante de Comunicação Social, Mariana leva Maria à faculdade desde os três meses, já chegou a amamentar em aula e garante que nunca houve problema entre colegas e professores. Na rua a situação é diferente.

– Nunca aconteceu de falarem algo para mim, mas ficam olhando. Às vezes as pessoas parecem assustadas, parecem estar pensando “Por que ela tá fazendo isso aqui?” – conta.

Mariana nunca pensou sobre amamentar em público antes de ser mãe e também nunca teve problemas com o ato, apesar de perceber que muitas pessoas se sentem incomodadas na presença de lactantes:

– Eu nunca tive problema pra amamentar no shopping, no mercado, no terminal, no ônibus… Nunca pensei que isso seria uma causa pela qual a gente precisaria correr atrás. O fato é que ao ver uma mulher com o seio de fora amamentando as pessoas acabam sexualizando a situação.

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Nada de salinha

Janine Scheffer, 35 anos, não permite nem sequer a menção de amamentar em um local mais reservado. Enquanto conversa sobre os hábitos do filho Pedro, de dois anos e cinco meses, e é informada pela assessora de um shopping* de que pode dar de mamar em qualquer lugar mas que há uma sala específica para o ato, não hesita em responder:

– Eu sei, é ótimo, mas eu não uso porque eu tenho que ficar segregada, em um espaço que geralmente é ao lado do banheiro, longe da minha família e dos meus amigos e eu não estou fazendo nada de errado, estou alimentando o meu filho.

A mãe que atua como doula só se aprofundou nas informações referentes à amamentação depois da experiência que teve com a primeira filha, Ísis, de cinco anos, e que desmamou aos oito meses. Queria garantir a melhor nutrição possível e decidiu amamentar como determinam a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde: em livre-demanda nos momentos em que o filho tiver fome, e não em horários determinados. Com isso, amamentar em público passou a ser uma rotina tão comum quanto em casa. Janine diz que ainda não ouviu pedidos para amamentar longe das vistas alheias, mas nem por isso foi menos pressionada:

– Os olhares de reprovação sempre estão ali, principalmente se estamos na praça de alimentação, meu marido está comendo, a Ísis está ali e eu estou dando de mamar, sempre tem alguém que olha e só falta perguntar porque eu não vou lá pra salinha!

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