Câmeras de vídeo ligadas 24 horas por dia, alarmes, cercas elétricas e até vigilância privada. Nada disso tem sido suficiente para impedir a ação de bandidos nem para aliviar o sentimento de insegurança e medo que aflige quem se transformou em vítima.
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:: Você já vivenciou ou conheceu alguma situação de insegurança no seu bairro? ::
É o sentimento de insegurança, um índice que não se explica pelo número de assaltos ou roubos de uma cidade nem pelo investimento em segurança pública. Tem a ver com as histórias relatadas todos os dias em delegacias, em redes sociais ou para amigos e vizinhos.
Um dos casos mais recentes, o do taxista Miguel Ramos Martins, de 51 anos, que foi morto com pelo menos 15 facadas em Araquari no dia 3 de março porque não tinha troco para R$ 100, reacende o debate sobre esse sentimento. Passar pelo trauma de ter uma arma apontada para a cabeça em um assalto, sofrer um sequestro-relâmpago, ver a sua casa ou loja invadida por bandidos ou ser espancado e ir parar em uma UTI de hospital são situações violentas que fazem das vítimas pessoas condenadas pelo medo.
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Nesta reportagem, “AN” relata histórias vividas neste começo de ano por joinvilenses que estão angustiados pela sensação de violência sem limites. Eles sentem o enfraquecimento da segurança pública, que, mesmo não aparecendo nas estatísticas policiais, muda radicalmente a rotina de vida e a maneira de encarar gestos simples, como chegar em casa, ir para o trabalho ou receber visitas. Para evitar qualquer represália ou exposição a outros atos criminosos, as identidades das pessoas não serão reveladas nesta reportagem.
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Números não explicam
A redução das taxas de criminalidade nem sempre é o suficiente para que as pessoas se sintam mais seguras. Duas pesquisas recentes, uma do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e outra da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam um crescente sentimento da população de que a violência está mais próxima de suas vidas.
Em Joinville, em 2013, ocorreram 1,8 mil roubos e 4,2 mil furtos. Mais de 500 pessoas foram presas, mas menos da metade continuou detida pelos crimes. Os números, embora significativos, não aumentaram desde 2008, quando registrou-se cerca de 5,8 mil ocorrências desse tipo durante o ano, um aumento em torno dos 3%.
Segundo as pesquisas, a realidade é bastante semelhante em todo o País. Mesmo assim, a sensação de insegurança só perde para a ideia de que a saúde vai mal. Embora não haja dados específicos sobre a sensação de insegurança em Joinville, os estudos mostram que, de uma maneira geral, jovens e pessoas com maior nível de instrução tendem a sentir-se menos seguros.
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O estudo do Ipea revelou que o medo de ser vítima da violência é capaz de alterar costumes, hábitos e comportamentos da população. Mais da metade dos entrevistados disse ter evitado certos locais de recreação ou reduziram os lugares de compras. E pelo menos um quinto deles pensa em mudar de bairro ou trocar o número de telefone.
O estudo do Ipea indica ainda que, para os entrevistados, a violência não deve ser somente um assunto das instituições públicas. Eles acreditam que toda a sociedade deve ser responsável por ações de combate e prevenção.
A conta que todos pagam
Mesmo quem nunca foi vítima de um sequestro-relâmpago ou teve o carro roubado paga a conta da violência. Isso porque existe uma relação direta entre o número de casos registrados e o índice de sinistralidade do trânsito. Na prática, o índice afeta o bolso: o seguro fica muito mais caro em áreas onde a violência é mais registrada.
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Segundo o corretor de seguros André Bürger, esse índice tem afetado diretamente o bolso de quem tem de transferir um seguro de veículo de outras cidades para Joinville e para o litoral.
– Tenho caso de clientes que o seguro quase dobrou. Mas, em média, o seguro aumenta cerca de 20% em relação a Blumenau, por exemplo – diz o corretor.
A preocupação envolve todo o setor. Até o Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Santa Catarina (Sindemosc) tem uma série de atividades para garantir que os motoristas tenham uma postura defensiva no trânsito, evitando se transformarem em vítimas.
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– O mercado é muito sensível. Os coeficientes são calculados de cidade para cidade, de região para região. E claro que o seguro fica mais caro – diz Bürger.