O despacho emitido nesta quinta-feira que convocou os responsáveis pelo transporte público a prestarem esclarecimentos à prefeitura cita algumas conclusões dos gestores que administraram o sistema durante o período de intervenção do poder público.

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Uma das mais graves é que a Glória, principal empresa do Consórcio Siga, priorizaria o pagamento de despesas particulares de seus dirigentes e seus familiares em detrimento dos salários dos funcionários. Há também indícios, segundo os interventores, de que uma “parcela significativa” dos recursos arrecadados com as passagens foi destinada a pagar custos que não têm relação com a atividade desempenhada pela empresa.

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Ainda em relação à Glória, informações que constam no relatório da intervenção, citadas na notificação, revelam o pagamento de salário e de vale-alimentação a pessoas que não exerciam atividades na companhia, problemas na concessão de férias e abono de faltas não justificadas. Também não haveria controle dos recursos empregados na compra de peças – supostamente adquiridas por um valor superior ao praticado pelo mercado – para o reparo e manutenção dos veículos da frota.

Os interventores também indicaram a contratação e a manutenção de linhas telefônicas para pessoas não vinculadas à companhia, o que “caracteriza nítido desperdício dos limitados recursos financeiros”. Um suposto contrato de exclusividade com a Ipiranga Distribuidora também impediria que a Glória buscasse melhores preços de combustível no mercado. Todos esse fatores implicariam em um “aumento injustificado” do custo operacional da empresa que, “mesmo enfrentando severa crise financeira e acumulando um passivo milionário”, administrava as receitas de arrecadação “sem qualquer critério”.

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O relatório da intervenção ainda apontaria que, só em 2014, foram interpostas 58 ações judiciais contra a Glória decorrentes de dívidas trabalhistas, estimadas em R$ 1,6 milhão. Neste ano, foram outras 69, totalizando R$ 610 mil. O Ministério Público do Trabalho entrou com ação civil pública para cobrar danos morais coletivos em função do descumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e fundiárias. (Colaborou Fernanda Ribas)

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Contraponto

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Marchiori afirma que ainda não teve acesso à notificação feita pela prefeitura de Blumenau e espera que os interventores cumpram a lei:

– É lamentável que os interventores não tenham entregue esse documento à maior interessada, que é a Glória, para se defender. Não tivemos acesso à prestação de contas dos interventores e muito menos a essa notificação. Poderia comentar um monte de irregularidades que os interventores cometeram ao longo dos 27 dias que ficaram na empresa, mas prefiro fazer isso no momento adequado, nos autos do inquérito. Se há tanta irregularidade assim, os interventores devem explicar por que recomendaram ao prefeito que no dia 4 de dezembro a intervenção cessasse. Para mim isso é contraditório. O que eu vejo é uma tentativa de criar factoides para justificar uma medida que já se sabe que vai ser tomada. O governo quer romper o contrato a qualquer preço. É uma estratégia. Não tenho dúvida disso.