Fatah e Mathin tiraram a sorte grande: eles então entre os poucos ganeses já empregados em um grupo de mais de 500 imigrantes que vieram ao Brasil durante a Copa do Mundo em busca de trabalho e se instalaram em Criciúma, no Sul de Santa Catarina. Na soma com outras cidades, a estimativa da Secretaria de Assistência Social é que até agora a região tenha 1,4 mil africanos. Todos os dias, uma média de quatro a cinco chegam à cidade.
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O diretor de uma loja de materiais de construção, Sandro Cardoso, afirma que via Abdul Mathin Eliasu, de 26 anos, e o amigo Abdul Fatah Mohammed, de 25 anos, passarem todos os dias até que decidiu conversar com eles. Espantado com a situação em que se encontravam, resolveu ajudá-los. Além de tirá-los da casa, que dividiam com mais 20 pessoas e na qual passavam por dificuldades, e alugar uma casa para eles, empregou Mathin no departamento de logística da loja. Cardoso conseguiu trabalho para outros ganeses com outros empresários e garante que eles são ótimos funcionários.
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– Pelo contato profissional que tivemos com eles, eles são exemplo de trabalho, educação e pontualidade. Esse pessoal está querendo trabalhar e não vejo impedimento nenhum em unir o útil ao agradável. Assim que tivermos vagas, temos perspectivas de contratar mais alguns – afirma.
A proposta era fazer um teste e depois empregar Fatah também, mas a empresária Sabrina Horr, conheceu o rapaz e quis ajudar. Na semana seguinte, Fatah começou a trabalhar com serviços gerais na casa de Sabrina, onde está muito bem adaptado.
Os dois jovens têm histórias parecidas. Amigos há quase 10 anos, ambos são muçulmanos e buscaram estudar. Fatah é formado em finanças, mas não conseguiu trabalho em Gana. Mathin não conseguiu terminar a faculdade por falta de recursos. Mais velho de cinco irmãos, ele recebeu ajuda da família, que juntou dinheiro para que ele viesse ao Brasil buscar um trabalho para ajudar os familiares em Gana.
Eles chegaram juntos ao Brasil no dia 20 de junho e afirmam que não tinham nenhum conhecido instalado no país antes de chegar aqui. Fatah disse ter pesquisado sobre o Brasil, que havia oportunidades de trabalho e pessoas receptivas. Encantado com o que leu, guardou dinheiro para buscar uma vida melhor por aqui.
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Abdul Fatah Mohammed trabalha com serviços gerais na casa de Sabrina Horr
Foto: Caio Marcelo/Agência RBS
Encaminhados
A secretária de assistência social de Criciúma, Solange Barp, conta que para empregar ainda mais imigrantes africanos, a assistência social faz cadastros e entra em contato com empresas e depois organiza entrevistas na Casa de Passagem São José.
– As equipes estão indo até as casas deles para ver a documentação, quem está apto. Trazemos para a Casa de Passagem para que as empresas entrevistem e vejam se eles têm condições para fazer determinado tipo de trabalho – diz.
Na semana passada, 120 ganeses foram encaminhados para outras cidades. Em Nova Veneza, cerca de 90 já trabalham em um frigorífico. Outros 30 foram empregados na indústria têxtil, em Indaial.
Regularização
A Polícia Federal comunicou que não pode se pronunciar a respeito do caso, mas garante que os ganeses não estão cometendo crime nenhum por simplesmente vir ao Brasil. Em Criciúma, foram protocolados mais de 200 pedidos de refúgio.
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Eles chegam ao Brasil com visto de turismo, válido por 90 dias. Para permanecer no país, entram com um pedido de refúgio, com o qual ganham um protocolo provisório, que autoriza a permanência no país até que venha a resposta do Comitê Nacional para Refugiados (Conare), que pode levar até um ano.
Os imigrantes, mesmo que ainda não estejam regularizados, não podem ser expulsos nem interditados sem a decisão do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). Com o protocolo provisório eles podem fazer carteira de trabalho, CPF e permanecem legalmente no Brasil. Se o pedido for negado, eles terão que deixar o país.