Em setembro de 2012, o Teatro Ademir Rosa (TAR), considerado o melhor de Santa Catarina, reabriu com pompa no Centro Integrado de Cultura, o CIC em Florianópolis, depois de um hiato de três anos fechado para obras. Passados quase quatro anos da reinauguração, o urdimento, estrutura na parte superior da caixa cênica que sustenta varas de cenário e iluminação – a mesma que levou ao fechamento do local para uma reforma que custou R$ 8,5 milhões –, é a causa do alerta para risco à segurança de funcionários e artistas feito pela Funarte.

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Um laudo técnico de 31 de maio feito pela Fundação Nacional das Artes (Funarte), órgão vinculado ao Ministério da Cultura, sugere a ¿intervenção imediata para sanar irregularidades¿. O estudo foi elaborado a pedido da própria Fundação Catarinense de Cultura (FCC), administradora do espaço. Dentre os problemas apontados estão o colapso da estrutura metálica da caixa cênica – classificada como grau de risco crítico –; vestimenta cênica (cortinas, pernas, bambolinas, etc.), feita com materiais de baixa qualidade; e não conformidade técnico-construtiva.

O documento de 23 páginas com fotos, assinado pelo arquiteto da Funarte Fernando Frascari, avalia 37 quesitos e conclui a ¿não execução dos itens de acordo com o exposto no Memorial Descritivo da Reforma (…), total falta de esmero na execução dos serviços, divergência de materiais utilizados com os especificados, tanto na estrutura metálica¿.

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A JK Engenharia, responsável pela obra entre 2009 e 2012, contesta. Segundo o engenheiro e diretor da empresa, Jacson Koester, todo o contrato na época foi seguido à risca.

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– Todo equipamento está sujeito à fadiga. É necessário um plano de manutenção. Em fevereiro deste ano, quando houve a queda de uma das varas, estava claro que não havia sido feita nenhuma manutenção até então – diz Koester.

A FCC informou, por meio da assessoria de imprensa, que fará uma reunião com a JK Engenharia nesta quinta-feira (14), quando serão expostas as questões apresentadas no laudo e para que sejam sanadas todas as fragilidades apontadas.

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A fundação não se manifestou se há um plano de manutenção preventiva e nem se seguirá a sugestão da Funarte de fechamento do teatro para intervenção. ¿Os técnicos da FCC seguem monitorando a estrutura da caixa cênica para que todos os espetáculos sejam realizados com segurança¿, diz a nota.

Reforma do Teatro em 2011
Reforma do Teatro em 2011 (Foto: Roberto Scola / Agencia RBS)

Manutenção foi pedida em dezembro de 2015

Já em dezembro do ano passado, técnicos da FCC solicitaram a contratação de serviço de vistorias e reparos no urdimento do teatro, que em menos de cinco anos já estava com rachaduras e ruptura de soldas, colocando em risco a vida de técnicos e artistas.

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Urdimento é a estrutura responsável por sustentar todas as varas de cenários e equipamentos de iluminação – que podem pesar até 20 toneladas. É também utilizado para suspensão de artistas.

Na solicitação, disponível para consulta no Sistema de Gestão de Protocolo Eletrônico (SGPe) da Secretaria Estadual de Administração, os técnicos ressaltam que ¿a falta de segurança no urdimento foi um dos principais motivos para o fechamento do teatro em 2009.¿

No dia 2 de fevereiro deste ano, um acidente no urdimento quase provocou uma fatalidade. Às 15h45min, a vara motorizada de número 20 despencou de uma altura de sete metros pelo rompimento de um elo de fixação localizado abaixo da caixa de contrapeso. Caso houvesse pessoas no palco, as consequências seriam fatais.

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De acordo com nota da FCC, a instituição tomou a iniciativa de solicitar à Funarte uma vistoria na caixa cênica do Teatro Ademir Rosa logo que a equipe verificou a necessidade de ajustes na estrutura do palco, sem afetar a parte da plateia. ¿A visita dos técnicos da Funarte foi realizada em março de 2016 e o laudo final da vistoria foi protocolado na FCC no dia 6 de julho deste ano e todas as providências estão sendo tomadas¿, esclarece o comunicado.

(Foto: Laudo Funarte / Reprodução)

A FCC informa também que em fevereiro de 2016, quando o teatro esteve fechado, foi realizado o reforço nas caixas de contrapeso para manter a segurança da estrutura do palco, bem como outras medidas de prevenções emergenciais.

Em 2013, o teatro foi interditado pelos bombeiros durante um mês para adequações nas normas de segurança.

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JK Engenharia diz que o problema foi causado por falta de manutenção

A JK Engenharia foi a empresa responsável pela execução da obra. Em 2009, quando o TAR foi fechado, o valor estimado foi de R$ 5,9 milhões, incluindo reparos no cinema do CIC, mas acabou custando R$ 8,5 milhões. Na época, Joceli de Souza era o presidente da FCC e aprovou todas as obras.

O Teatro Ademir Rosa ocupa uma área de 1.746,46 m² do total de 9.993 m² do CIC. Tem 906 poltronas revestidas em couro, palco com 25 metros de largura por 17 metros de profundidade, fosso de orquestra com 3,5 metros e boca de cena de 14 metros de largura por sete metros de altura.

No processo disponível no SGPe, aparecem as solicitações da FCC, atas de reuniões entre técnicos da instituição, explicitando a preocupação com o teatro, e a troca de e-mails e notificações entre a Fundação e a JK Engenharia.

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A empresa contratada esclarece, em contranotificação, que ¿não é a sua eventual responsabilidade pela realização dos serviços de recuperação apontados na notificação em questão. Eis que a obra realizada restou em definitivamente entregue em 15/12/2013 e, ainda, os problemas apontados decorrem de evidente falta de manutenção¿.

O engenheiro e diretor da JK, Jacson Koester, afirmou à reportagem que, em princípio, quem elaborou o laudo não tem atribuição técnica para tal. Deveria ser feito por um engenheiro mecânico, não arquiteto.

– Na reunião desta quinta vamos analisar as responsabilidades civis. Se for verificado que é nossa responsabilidade, vamos arcar com a execução da obra. A empresa cumpriu o seu papel. Os responsáveis técnicos avaliaram. Acho que falta gestão. Essa situação, apontada pelo laudo, poderia ter sido evitada com manutenção constante, no máximo semestral – ressalta Koester.

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