Querem te fechar novamente, tu que ficaste três anos interditado, sob reforma, à mercê de martelos, furadeiras, espátulas e chaves de todos os tipos. Muito dinheiro foi investido e muito suor foi derrubado sobre as tuas paredes durante a tua interminável reforma, a tua recauchutagem pomposa, aquilo que se chamou até de tua renascença; e no entanto, depois desse tempo todo, depois dessa gastança incrível, estás aí, ainda inseguro, ainda incompleto, ainda necessitado de cuidados básicos como extintores nas paredes e saídas de emergência e sinalização adequada e aberturas de ventilação e detector de fumaça e hidrantes instalados e corrimão na escada e luminárias indicativas.

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Milhões de reais foram gastos para que, nove meses após a tua reabertura, tu passasses a vergonha de receber baldes pelo assoalho, porque pinga água do teto milionário quando chove nos teus domínios – deve ser uma marca de estilo das reformas de teatros em Florianópolis, porque o mesmo acontece no Pedro Ivo Campos. O Corpo de Bombeiros descobriu agora que estás todo errado quando o assunto é prevenção a incêndios, e ninguém teve jeito de dizer que os políticos que te reinauguraram desse jeito, ao fazerem isso, ou assumiram o responsabilidade de pôr em risco a nossa vida ou demonstraram completa ignorância sobre as normas de segurança.

Faltava o exemplo de uma boate Kiss para lhes acender a luz vermelha da prudência, decerto. Dizer agora é fácil, mas ano passado, na noite da reabertura do teatro que tu abrigas – um dos pontos altos da tua reforma tão aguardada -, o fiasco já podia ser antevisto. Na solenidade em que os estudantes do Bolshoi apresentaram um lindo Dom Quixote, estavam lá o governador, o secretário de Turismo, Cultura e Esporte, o presidente da Fundação Catarinense de Cultura, o ex- governador que te pariu e mais um monte de autoridades que costumam puxar o talão de cheque – dos outros, da inciativa privada – quando ouvem falar em Cultura.

Pois o que aconteceu naquela noite, que deveria ser especial, foi vergonhoso. Estava programada a exibição do documentário Ademir Rosa – A Arte de Viver, sobre a vida e a obra do ator que dá nome ao teu teatro. Quando o telão em que o vídeo seria mostrado se acendeu, fez- se silêncio na plateia. Então Ademir ressuscitou: o Grupo Armação, a parceria com Isnard Azevedo na criação da trupe Dromedário Loquaz e… corta! O documentário sumiu do telão antes do fim. Logo os políticos já ocupavam o palco, era chegada a hora dos discursos. Ninguém explicou a interrupção.

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Foi como se nada tivesse acontecido. E nas primeiras filas, convidadas de honra, estavam Eli da Silva Rosa e Edilma Guimarães Rosa, respectivamente mãe e viúva de Ademir… Então é isso, Centro Integrado. Algo não vai bem contigo desde setembro do ano passado, quando teu teatro foi reaberto em “grande” estilo. Quando irão parar de te tratar a marretadas? Será que um dia a Cultura voltará a integrar teu nome?

Em frente

A quem me escreveu parabenizando pela vitória contra o cigarro, me garantiu que vai reunir forças para largar o fumo e, especialmente, ao policial militar que também deseja um Brasil melhor e sem balas de borracha, o meu muito obrigado, os meus votos de sucesso e a minha admiração.

FAM 2013

Você já foi ao Florianópolis Audiovisual do Mercosul (FAM), no Centro de Eventos da UFSC? O longa- metragem de hoje à noite, Cores, vem bem a calhar nesses dias de protestos da juventude: se passa nos dias atuais, em São Paulo, e mostra como a vida de “três amigos é marcada por uma rotina ordinária e impregnada pela sociedade de consumo”…

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* interido do colunista Sérgio da Costa Ramos