A chuva e o frio são os menores dos transtornos enfrentados por caminhoneiros parados em rodovias de Santa Catarina (SC). Em protesto que ocorre em todo país, veículos que transportam carga são impedidos de cruzar por trechos de estradas em razão de impasse entre a categoria e a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). Em SC, ao menos seis pontos registram manifestação nesta terça-feira. Um deles é na BR-282 em Catanduvas, Oeste do Estado, onde centenas de veículos são impedidos de cruzar desde a manhã de segunda-feira.
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Entre os caminhoneiros que se sentem prejudicados pela interdição está Dirlei de Menezes Gonçalves, 40 anos. Ele levava carga de caixas plásticas para a prefeitura de Concórdia, mas foi impedido de cruzar por Catanduvas por volta das 13h de segunda-feira. Desde então está sem suporte algum.
– Nos pararam aqui, mas não nos deram nada. Não temos banheiro, não temos sequer um posto próximo para comprar comida. Estamos reféns. Depois que nos param, não podemos voltar e nem seguir adiante. O descontentamento aqui é grande e é de todos – disse Dirlei.
Na profissão há 15 anos, o caminhoneiro recebeu depoimentos de colegas que também se sentem prejudicados com a paralisação.
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– É só o que se fala por aqui. Estão todos reclamando que a greve é do patronal. Quem é caminhoneiro não quer ficar parado – relatou.
Dirlei diz ainda que precisou pedir ajuda para a empresa na qual trabalha, que ficou de deslocar uma pessoa de carro até a região para dar o suporte necessário.
– Mas e os outros, como ficam? Quem não tem gente próxima pra ajudar não está recebendo suporte algum. A situação é complicada – lamentou.
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Segundo Dirlei, somente no trecho de Catanduvas são centenas de veículos de carga parados. Em outros pontos de SC, caminhões são parados nas rodovias, mas levados para locais dentro das cidades. Não há uma estimativa total de quantos veículos estão parados no Estado.
No trecho de Catanduvas, na BR-282, integrantes do movimento grevista começaram na manhã desta terça-feira a parar também veículos que transportam carga viva, como de porcos e bois. Vans e caminhonetes também são parados para verificar se há transporte de carga envolvido.
Os manifestantes aguardam reunião em Brasília para definir o rumo da paralisação, que é comandada pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC). Integrantes da entidade discutem uma solução junto a representantes do Ministério dos Transportes, Casa Civil, presidência da República e ANTT. Uma posição deve sair por volta das 16h.
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Em Santa Catarina, os protestos nesta terça-feira ocorrem em oito pontos:
– Maravilha (BR-282)
– Catanduvas (BR-282)
– São Miguel do Oeste (BR-282)
– Xanxerê (BR-282)
– Cunha Porã (BR-158)
– Dionísio Cerqueira (BR-163)
– Chapecó (BR-480)
– Água Doce (SC-454)
Segundo as polícias rodoviárias, não há registro de incidentes nas manifestações em Santa Catarina. Outros pontos de rodovias estaduaus e federais também sofreram interdições, mas foram liberados.
No último sábado, dia 28, a Justiça Federal proibiu os caminhoneiros de bloquearem as rodovias federais em SC. A multa para o descumprimento foi estipulada de R$ 100 mil.
A justificativa é que as manifestações propostas pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC) impedem o trânsito livre e seguro nas BRs, ou seja, interferem no direito do cidadão de ir e vir.
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Na manhã desta terça-feira, o MUCB informou que não há uma posição da entidade sobre a decisão judicial em SC e nem sobre a possibilidade de multa no caso de descumprimento da determinação.
Veja no mapa a região dos protestos:
Visualizar Protestos de caminhoneiros em SC em um mapa maior
Além de Santa Catarina, protestos de caminhoneiros são registrados em outros nove estados:
– Rio Grande do Sul
– Paraná
– Rio de Janeiro
– Ceará
– Minas Gerais
– Espírito Santo
– Bahia
– Tocantins
– Goiás
Posicionamentos
Para o procurador Pablo Douglas Almeida de Moraes, que atua no Ministério Público do Trabalho (MPT) no Mato Grosso do Sul, a lei que entrou em vigor beneficia os caminhoneiros.
– É de se estranhar que trabalhadores lutem contra a implementação de um direito que lhes beneficia – disse ele em entrevista à Agência Brasil – O locaute (greve patronal) é uma conduta ilícita, viola a lei – concluiu.
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O governo afirma que está atento às paralisações dos caminhoneiros. No entanto, o ministro do Trabalho, Brizola Neto, disse não há espaço para retroceder à legislação que garante melhores condições de trabalho para a categoria e também mais segurança.
– A lei da jornada de trabalho dos caminhoneiros tem sofrido resistência, mas é inegável que a lei é um avanço – disse Brizola Neto.
Enquanto isso, a NTC&Logística, que reúne empresas e sindicatos patronais do transporte de cargas, emitiu nota posicionando-se contra a greve de caminhoneiros. O presidente da entidade, Flávio Benatti, pede “firmeza no cumprimento da lei” por parte da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
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No comunicado, a entidade contesta a representatividade do movimento grevista.
“As manifestações contrárias à legislação têm sido de uma minoria oportunista“, informou a nota. O texto afirma ainda que a paralisação é “lockout“, ou seja, um movimento organizado por empresários e não por empregados.
“Não temos dúvidas de que a ANTT seguirá atuando na defesa da regulamentação e modernização do transporte rodoviário de cargas no Brasil“, concluiu a nota da NTC&Logística.
Motivo dos protestos
Os caminhoneiros reivindicam a revisão das normas e regras estabelecidas pela Agência Nacional doe Transporte Terrestre (ANTT). Elas incluem o cumprimento de intervalo de 30 minutos a cada quatro horas ao volante.
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A categoria também quer reduções no preço do óleo diesel e aumento da segurança nas estradas. A falta de pontos seguros para descanso nas estradas, o que facilitaria o roubo de cargas e a violência contra os motoristas é outra justificativa para o protesto.
A categoria quer revisar a a Lei 12.619/2012, que entrou vigor na sexta-feira, dia 27, e regulamenta a profissão dos motoristas de transporte rodoviário interestadual.
De acordo com proposta, depois de quatro horas de trabalho, os motoristas têm direito a 30 minutos de descanso. Eles ainda podem fazer uma hora de intervalo para as refeições e a cada 24h de trabalho devem descansar outras onze horas.
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O Movimento União Brasil Caminhoneiro alega que algumas normas são impossíveis de cumprir. A ANTT mantém a negociação.