“Não vou dar boas vindas a vocês porque ninguém é bem vindo dentro de uma prisão. Aqui não é o lugar certo para o ser humano, mas se estão aqui é porque cometeram algum erro e precisam pagar. Mas não é por isso que serão maltratados aqui. Tudo de errado que acontecia no presídio morreu lá”. Com esse discurso o diretor da nova Penitenciária Industrial de Blumenau, Marco Antônio Caldeira, recebeu os 14 primeiros moradores da nova estrutura do sistema prisional do Vale do Itajaí. A penitenciária de Blumenau, inaugurada em janeiro, recebeu hoje de manhã os primeiros presos do regime fechado que vieram do Presídio Regional.
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O clima no ar era de renovação. Não só de estrutura, mas de pessoal, procedimento, tratamento e até, por que não, uma renovação na esperança de ressocialização dos detentos. Os 14 escolhidos para a transferência não sabiam que iriam se mudar até o momento em que foram chamados pelos agentes do presídio ontem por volta das 8h. De lá eles seguiram em comboio até a nova penitenciária e avistaram pela primeira vez o local onde irão cumprir o resto da sua pena. Pelo menos 50 agentes do Departamento de Administração Prisional (Deap) participaram da ação, que deve se repetir por pelo menos mais dois meses, visto que no máximo 30 detentos serão transferidos semanalmente, dos 325 que sairão do presídio. O restante das 599 vagas disponíveis será preenchido por presos da Comarca de Blumenau que estão cumprindo pena em outras cidades – como a própria penitenciária da Canhanduba, em Itajaí.
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Os corredores de paredes limpas, estruturas intactas e sistemas de segurança modernizados chamavam a atenção dos presos acostumados ao local reconhecido como um dos piores centros de detenção do Estado. Enquanto ouviam as explicações dos agentes, olhavam curiosos para as futuras celas com uma pequena janela. Inicialmente cada homem transferido à nova penitenciária ficará pelo menos uma semana em uma cela individual em um setor de triagem. Lá ele passará por instruções sobre a conduta no local, além de atendimento psicológico, médico e social. Só então será encaminhado à ala de convívio com os outros detentos, em celas para até oito pessoas.
– É extremamente importante que façamos essas transferências com calma e prezando por esse período de instrução. O interno será orientado e não repetirá os problemas que tanto enfrentávamos no presídio. Se não é só mudar o problema de endereço – diz Caldeira.
“Está começando do jeito certo”, diz juíza
Ao chegarem na nova penitenciária os presos foram recebidos por discursos dos agentes do Deap, representantes de entidades de classe e representantes da Justiça. A juíza da 3ª Vara Criminal, Jussara Wandscheer, avaliou que a estrutura está começando do jeito certo, sem cometer erros que aconteceram no passado, como a mistura de detentos de regimes diferentes.
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– Ainda há muito para ser feito, fechar o antigo presídio e avançar nas tratativas com empresas que irão fornecer trabalho aos detentos aqui. Mas é de fato um começo. – afirma.
Por enquanto ainda não há trabalho para os presos, mas o diretor da penitenciária afirma que várias empresas estão em negociação e interessadas para contar com a mão de obra do local. Para os detentos, a cada três dias trabalhados um dia será diminuído da sua pena. Esse trabalho, que dá o “industrial” do nome da penitenciária, é o foco principal no processo de ressocialização dos internos, ao lado da educação, que aqui será oferecida do ensino fundamental ao médio.
A terça-feira foi de vários testes para todos. Os próprios agentes da nova estrutura realizaram pela primeira vez alguns processos implantados de forma inédita na penitenciária. O primeiro raiar do sol por lá é às 6h de hoje, quando os 14 homens acordaram em seu primeiro dia na nova morada. Na sequência, com horários extremamente regrados, irão tomar café, ir para o banho de sol, almoçar e seguir o dia até o silêncio total das 22h.
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