O sonho de ser mãe não foi algo simples de realizar. Pamela Raquel Nepomuceno teve dois abortos espontâneos devido a problemas de saúde. No primeiro, viu o bebê nascer morto em um vaso sanitário da maternidade, em Itajaí, no oitavo mês de gestação. A traumática experiência a levou a mergulhar no assunto.

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Após ler, pesquisar e consultar especialistas decidiu que tentaria novamente e teria o bebê em casa, onde se sentia segura – Pamela queria um parto humanizado e tranquilo, sem sofrimento para o bebê.

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No dia em que completava seis anos da primeira experiência malsucedida, Pamela estava em trabalho de parto novamente, mas não em casa como gostaria e sim em uma sala cirúrgica, em uma maternidade pública de Florianópolis. Por questões financeiras não pôde ter um parto humanizado como planejava.

Planos tiveram de ser readequados

Foi para o hospital, e lá, após mais de horas de contrações e dilatações, afirma não ter sido incentivada pela médica de plantão.

– De frente para mim ela disse: Ele está em sofrimento fetal, mas a decisão é tua… Ele pode morrer – lembra a mãe de primeira viagem.

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Pamela não demorou para deixar os planos de parto normal de lado e decidir pela cesárea. Ela não colocaria a vida do bebê em risco, em hipótese alguma. Na sala cirúrgica, fez questão de pedir aos médicos que não cortassem o cordão umbilical enquanto ainda pulsava sangue para o bebê. Pediu também que não colocassem colírio nos olhos dele e que não dessem banho.

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– Eles não esperaram e cortaram o cordão. O colírio eles não colocaram, sei que só é necessário em partos normais quando a mãe tem doenças como gonorreia ou candidíase, eu também não queria que dessem banho, pois de acordo com estudos, o bebê nasce com aquele branquinho (vérnix, um material gorduroso branco encontrado sobre a pele do bebê logo após o nascimento) que serve para amenizar a brusca troca de temperatura de dentro do corpo da mãe para o exterior. Eles não deram o banho, conforme pedi.

Mesmo seguindo alguns pedidos de Pamela, ela não se sentiu segura com a cesárea. Alega que foi um sofrimento em vão para seu bebê.

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– O pior de tudo foi quando soube que ele não estava em sofrimento fetal. Ele nasceu com nota 9 no primeiro minuto e 10 nos próximos cinco, no teste de APGAR, que serve para avaliar a saúde dos recém-nascidos. Ele estava muito bem e eu poderia ter tido um parto normal. Foi traumático. Estava sendo costurada e brigava com a pediatra para não colocar o colírio no meu filho. Me senti violentada – define Pâmela.

Parteiras voltam a ter espaço no mercado

A enfermeira obstétrica e professora de pós-graduação da UFSC, Evanguelia Kotzias dos Santos, observa também que os partos normais realizados nos hospitais já não são tão naturais como deveriam ser. Para ela o objetivo do parto é promover o mínimo possível de intervenção.

– A mulher é medicada com um hormônio sintético (ocitocina), que apressa o trabalho de parto e pode trazer riscos para o bebê, além do corte vaginal que é feito – cita.

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Evanguelia lembra ainda quando era enfermeira na maternidade Carmela Dutra, em Florianópolis e chegou a lei proibindo a ação das parteiras. Na época, eram 10. A mulher só era encaminhada ao médico quando acontecia alguma complicação. Com o tempo o serviço foi ficando cada vez mais mecanizado.

– A mulher tem que ser respeitada. A equipe deve apenas monitorar e intervir quando precisar. O problema é que fazemos a intervenção sempre, como se fosse um padrão e pecamos pelo excesso – relata a enfermeira.

Na contramão desta prática, ela afirma que a opção das mulheres pelo parto humanizado – quando elas escolhem onde vão ter os seus bebês em um trabalho de parto que pode durar 14 horas e é sempre acompanhado por uma equipe – tem aumentado. A enfermeira Vânia Sorgatto Collaço explica que a maioria das mulheres opta por ter o bebê em casa e imersas em água.

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– A água ajuda a aliviar a dor, relaxa e diminui as sensações da contração. Monitoramos os batimentos cardíacos e auxiliamos com métodos naturais na redução da dor.

Segundo levantamento da equipe de enfermeiras Hanami, apenas 8% dos casos de parto humanizado são encaminhados ao hospital, quando se percebe que não se está evoluindo.