Os motivos mais comuns são separação, morte e adoção. Cada vez mais pais criam filhos sem a presença da mãe. Na última década o número de pais solteiros aumentou 28%, conforme estudos sobre a desigualdade de gênero e raça divulgado em 2013 pelo Instituto Brasileiro de Pesquisas Aplicadas (IPEA). Os dados indicam que o Brasil adotou um modelo de família que é bem mais comum nos Estados Unidos e na Europa, onde isso acontece desde a década de 90.
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O engenheiro e professor David Daniel e Silva, 48 anos, se encaixa no perfil. Ele assumiu a criação da filha Bianca de Camargo e Silva, hoje com 11 anos, desde que ela tinha um ano e oito meses. Separado da mãe e inicialmente tendo ganho a guarda provisória, o hoje diretor-geral do Centro de Educação à Distância da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) divide-se entre o trabalho e a educação de Bianca.
Se o tempo da troca de fraldas, dar banho, ensinar a comer já passou, a chegada da adolescência apresenta outras dificuldades que vão sendo enfrentadas no dia a dia. A rotina de pai e filha começa cedo, quando David leva Bianca para a escola em tempo integral onde frequenta o 7º ano.
– Reconheço que no começo me assustei um pouco e achei que perderia minha liberdade. Mas busquei ajuda de uma profissional e hoje tenho muito orgulho da nossa relação – conta o pai.
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A sexualidade é tema de conversa entre pai e filha. Para questões mais relacionadas ao crescimento, como menstruação e modificações do corpo, ele conta com uma grande parceria: Jussara Melo, com quem namora há sete anos. David teve também apoio da avó paterna. Bianca é boa aluna. Gosta de ler, toca violão, violino e piano. Ela também gosta de navegar na internet, mas o acesso às redes sociais é controlado.
Pelo menos três vezes por ano ela visita a mãe, em Chapecó. E recentemente ganhou um irmão. Sobre eventuais brigas com o pai, Bianca diz que isso também faz parte. Com 11 anos, demonstra maturidade para entender que nem sempre pode fazer o que quer:
– Meu pai sabe colocar limites. Mas gosto disso – conta.
Entrevista com especialista em comportamento humano
O caminho adotado pelos pais, ao procurarem ajuda das avós na hora de tratar de assuntos mais delicados está certo, avalia Roselake Leiros, especialista em comportamento humano. Com formação completa em Programação Neurolinguística (PNL), Constelações Sistêmicas Familiares e outros, ela sugere que tudo pode ser realizado com leveza. A dica é aprender a conciliar as coisas e tornar essa responsabilidade ou escolha algo que possa ser levado sem o peso de uma obrigação.
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Diário Catarinense – É cada vez maior o número de pais que assumem sozinhos a criação dos seus filhos. Você acha que os homens estão preparados para isso?
Roselake Leiros – Sim, na família moderna cada vez mais os homens participam ativamente. Diferente de antes, eles chegam em casa e tomam conhecimento das rotinas e isso os torna mais preparados.
DC – Culturalmente a educação dos filhos estava mais sob responsabilidade da mãe, enquanto ao pai cabia prover a família. Quando isso se acumula pode haver algum prejuízo ao desenvolvimento da criança?
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Roselake – Essa situação mudou também pelo comportamento da mulher, que foi para o mercado de trabalho. É natural que o homem encontre um pouco de dificuldade em planejar as coisas, mas ele tem a seu favor o fato de ser menos detalhista e mais direto e prático.
DC – Em termos de direitos assegurados em leis, tanto os homens (pais) como mulheres (mães) estão em igualdade?
Roselake – Percebe-se maior igualdade e isso se verifica em processos como guarda compartilhada. Hoje, a justiça leva em conta os direitos dos pais e muitas decisões decorrem dessa realidade.
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DC – Os pais sempre acham que estão buscando o melhor para o filho. Mas se por acaso houver alguma dúvida e o mesmo estiver sozinho, qual o melhor caminho a ser buscado?
Roselake – É importante que um pai nessa condição estabeleça laços e atente para situações como uma empregada de confiança, uma escola segura, uma tia, avó ou amiga que possa ajudar a lidar com determinadas situações. Existem situações em que mesmo as mães possuem dificuldades.
DC – Um filho criado com toda essa atenção e tentativas de compensação não pode crescer muito mimado?
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Roselake – Pode, como também pode ocorrer quando tem pai e mãe e perto. Um pai precisa, independente de sozinho ou acompanhado, ensinar ao filho que ele é importante, que merece atenção e cuidados. Mas que não é o mais importante, se não cria um egocêntrico, um egoísta.
DC – O que você mais observa como queixa e preocupação dos pais que criam sozinhos os filhos?
Roselake – A maior preocupação é com os relacionamentos, pois o gosto pelo jogo de futebol, por estar com amigos, por namorar devem continuar. Um pai ama seu filho, mas também ama estar com os amigos, com os colegas de trabalho, com outras pessoas.
DC – Neste caso, o que é melhor fazer: levar o filho para todo o lugar ou não ir a lugar algum?
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Roselake – É preciso achar o equilíbrio: nem sempre se deve levar uma criança, inclusive por necessidade de preservá-la. Nesses casos, o melhor é deixar com alguém de confiança. Mas tem situações que o pai pode se fazer acompanhar, porém, é importante ele perceber que o filho naquele ambiente precisa de atenção.