Diretora de políticas e planejamento educacional da secretaria de Educação de Santa Catarina, Julia Siqueira da Rocha defende que a melhor forma de combater casos como o de Curitibanos é investir em ações e políticas de prevenção na escola. A pesquisadora diz que o aumento da violência na escola está relacionado ao aumento da violência na sociedade de forma geral e na desvalorização atual do profissional docente. Ela ainda reforça que casos como este atingem toda a comunidade escolar e precisam ser “tratados” com toda uma rede de apoio e proteção.

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Quais as atitudes que devem ser tomadas na escola após a agressão?

Precisamos entender o que aconteceu exatamente porque é preciso ouvir as duas partes e outras pessoas envolvidas, porque essa é uma violência que atinge de alguma forma a escola toda e todos os estudantes que estavam ali.

O que deve ser realizado do ponto de vista pedagógico?

É preciso fazer projetos com relação a temática da violência, fazer pesquisas com as próprias crianças, trazer os pais para conversar sobre o tema. É absolutamente importante que haja o tratamento com toda a escola porque todos eles foram vítimas desse processo. Nós indicamos que se façam pesquisas sobre o próprio tema, já que uma ação de violência altera todo o clima escolar. E altera para uma sensação de insegurança, de medo, de impotência. E os adolescentes dessa escola, e mesmo os profissionais, podem estar sofrendo uma série de emoções que precisam ser trabalhadas. E mais do que isso, é preciso trabalhar o conhecimento do motivo que leva as pessoas a resolverem seus conflitos com atos de violência. E como que a escola pode organizar ações combinadas de disciplina, de respeito e de respeito de si e de cuidado mútuo para melhorar o clima escolar, envolvendo também a comunidade.

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Quais ações devem ser realizadas com o adolescente?

É preciso acionar a rede de proteção. Ao contrário do que se pensa, não deve ser uma ação punitiva. Isso não significa que ele não tenha que arcar com as consequências do que ele fez. Mas como estamos tratando com um adolescente, precisamos saber o motivo desse adolescente responder as frustrações e adversidades com agressão física. Para isso, temos o sistema de assistência social, o sistema de saúde com os serviços de psicologia e psiquiatria, além dos serviços de Ministério Público e Conselho Tutelar. Então para ele é necessário acionar a rede de proteção para ajudar ele e a família.

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E quais ações devem ser realizadas com o professor?

O professor precisa ser acolhido nesse momento, ser curado dessa ferida que além de física é emocional, até para se restabelecer da condição de profissional, de entrar na sala de aula, lidar com outros estudantes, isso deve ser feito coletivamente na escola.

A que você atribui esse aumento de casos de violência na escola?

Isso tem haver com o crescente índice de violência na sociedade. Temos uma sociedade pouco educada e com profundas desigualdades sociais, que são produtoras de violência. O que acontece é que a escola agora se vê de frente a violências que não faziam parte do seu contexto. Normalmente o professor tinha uma figura de autoridade a ser respeitada e a profissão docente tem sido muito desqualificada. Essa desvalorização também leva outros personagens sociais a desvalorizarem o professor.

Como você avalia esse cenário em Santa Catarina?

SC é o único estado que tem um política de educação, prevenção, atenção e atendimento a violência nas escolas. Essa política preconiza que cada escola tenha um núcleo de prevenção a violência, ele é composto de pais, professores, estudantes e outros membros sociais. Agora temos uma plataforma online, nossa intenção é criar uma expertise para lidar com estas situações e poder auxiliar imediatamente estas situações embora haja distância entre nós e as escolas, além de ter dados mais qualificados como: quais os tipos mais recorrentes de violência, quem é que pratica mais violência? para podermos produzir materiais para as escolas Isso nos abriga a pensar em estratégias para a escola poder sanar esse tipo de situação. Esse é o primeiro ano de implantação, a plataforma está funcionando, mas ainda estamos fazendo adequações.

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Então a melhor forma e combater essa violência crescente é a política de educação e prevenção?

O papel da escola é educar e um dado que a gente já tem claro é quanto mais um país é deseducado, mais violento ele é. Sozinha a escola não vai, ela precisa da rede. O trabalho tem que ser em rede, a rede de proteção dos estudantes, dos próprios profissionais de educação e a melhoria do clima escolar.

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