Um boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Polícia de Biguaçu no dia 21 de novembro de 2013 serviu de pontapé inicial para a investigação que resultaria na operação Bola Murcha, que prendeu o ex-deputado Gilmar Knaesel (PSDB) e integrantes de ONGs com por fraudes em contratos com o Governo do Estado na última semana. No documento, Alexandre Ricardo Pinheiro reclamava que Lilian Cristina de Oliveira teria usado sua conta bancária para pagamentos da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte (SOL) para a Sociedade Recreativa Mente Sã, Corpo São (SRMSCS), referente a um campeonato de futebol de 2008. Ao apurar a denúncia, Polícia Civil e MPSC descobriram um esquema de desvio de pelo menos R$ 551.400 através de repasses do Fundesporte.

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De acordo com a queixa na delegacia, em abril de 2008, Alexandre cedeu o número da conta bancária a Lilian, então namorada de sua irmã, para ela sacar uma quantia que estava para receber. Cinco anos depois, o suposto favor feito à namorada de sua irmã se tornaria em uma dor de cabeça para Alexandre. O Tribunal de Contas (TCE) entrou em contato com ele para averiguar gastos que estavam sendo apurados em uma auditoria do órgão. O tribunal investigava justamente os R$ 7mil depositados e sacados da conta de Alexandre, que teria trabalhado como árbitro de futebol na 1ª Copa de Futebol Suíço Amador de Biguaçu, evento organizado pela ONG SRMSCS. No registro do boletim de ocorrência, ele informou que respondeu aos auditores que “não é árbitro, nem da liga amadora de Biguaçu”.

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A revelação do processo instaurado no TCE levou Alexandre a procurar a Polícia meses depois para fazer a denúncia formal. O relato dele afirma ainda que sua assinatura foi forjada em uma nota fiscal avulsa da prefeitura de Florianópolis para a transferência do valor. Uma comparação da equipe técnica da Polícia da assinatura de Alexandre com a contida na nota fiscal avulsa comprovou a falsificação.

Chamada a depor em abril de 2014, Lilian Cristina de Oliveira respondeu que foi procurada por Leandro Laércio de Souza para realizar um evento esportivo. Lilian afirmou que chegou a pedir a conta bancária de Alexandre para depósitos do campeonato de futebol. Em seu depoimento, ela diz ainda que repassou os R$ 7 mil para Leandro e negou ter falsificado a assinatura de Alexandre na nota fiscal avulsa registrada na prefeitura de Florianópolis e que nunca teve qualquer vínculo com o Fundesporte.

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O avanço da investigação comprovaria a relação estreita entre Leandro Laércio de Souza e Lilian Cristina de Oliveira em outros repasses do Fundesporte e que envolviam outras associações sem fins lucrativos. Por isso, ambos foram presos junto com o ex-deputado Gilmar Knaesel no dia 13 de junho, quando a operação Bola Murcha foi deflagrada.

A reportagem entrou em contato com o denunciante Alexandre Ricardo Pinheiro, que respondeu que só “vai se manifestar através dos autos do processo”.

Eventos não recebiam auditoria de Secretaria

Com cinco páginas, o depoimento de Gilmar Knaesel dado à Deic no dia 20 de abril deste ano, em Florianópolis, mostra que não era realizada qualquer auditoria sobre a realização ou não dos eventos que recebiam verba em subvenções da Secretaria de Estado do Turismo, Cultura e Esporte.

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Knaesel, que foi secretário da pasta entre 2003 e 2010, disse à polícia que tinha a atribuição de autorizar recursos para ONGs realizarem eventos depois de atendidos todos os requisitos formais exigidos por lei, mas que depois a secretaria não realizava auditoria.

Indagado pelo delegado Walter Watanabe sobre a 1ª Copa de Futebol Amador Suíço em Biguaçu, o alvo principal da investigação por repasse de R$ 69 mil (a Deic afirma que o evento não aconteceu), o político afirmou que não recordava desse campeonato em razão de ter passado pela secretaria inúmeros projetos.

Knaesel negou no interrogatório todas as suspeitas relacionadas a desvios ou fraudes, garantindo que nunca aconteceu de ter recebido dinheiro repassado a ONGs que a polícia diz que eram sacados e entregues a ele. O mesmo fez em relação aos principais investigados, a não ser em relação ao assessor Kléber e a Leandro Laércio de Souza, os quais disse que conhece. Ainda no interrogatório, afirmou que não tinha conhecimento do inquérito na Deic que apurava repasse de subvenções na épcoa em que era secretário. Ao ser ouvido, o ex-deputado informou que trabalha na Assembleia Legislativa, na Coordenadoria de Orçamento Regionalizado.

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