Presa sob acusação de matar o enteado Bernardo Uglione Boldrini em abril deste ano, Graciele Ugulini não esteve presente na primeira audiência do caso, realizada na última terça-feira no Foro de Três Passos. Mas seu advogado, Vanderlei Pompeo de Mattos, fez um pedido formal ao juiz Marcos Luís Agostini para que a imprensa seja impedida de ingressar no prédio nas próximas audiências e acompanhar os depoimentos das testemunhas, que prestam esclarecimentos importantes na chamada fase de instrução, que antecede o julgamento de Leandro Boldrini, Graciele, Evandro Wirganovicz e Edelvânia Wirganovicz.

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No documento, chamado “Termo de Audiência Crime” – que resume as principais ações da audiência -, consta que “pela defesa de Graciele: requer que na próxima solenidade a imprensa seja impedida de ingressar no Fórum, bem como seja esclarecido quem forneceu à imprensa o DVD com o depoimento da ré Graciele na fase policial e também em relação a carta de próprio punho da referida acusada, juntada nos autos”. Na última terça-feira, 33 testemunhas – 11 de acusação e 22 de defesa – haviam sido arroladas para falar, mas apenas quatro de acusação foram ouvidas. As outras sete de acusação retornam ao Foro no dia 8 de setembro, e as de defesa ainda não têm data prevista.

11 horas e quatro testemunhas: como foi a primeira audiência do Caso Bernardo

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Na parte final da audiência, jornalistas foram ameaçados por uma assessora do juiz de serem expulsos do Foro e não retornar às próximas audiências se não retirassem do ar imagens da ré, Edelvânia Wirganovicz, feitas nas dependências do prédio público. A ameaça, verbal, não encontrou respaldo em documento oficial assinado por Agostini.

A principal testemunha da primeira audiência foi a delegada de Três Passos, Caroline Bamberg Machado, que conduziu o inquérito policial e indiciou os quatro réus por homicídio qualificado. Ela trouxe à tona, no depoimento, detalhes de gravações obtidas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) no telefone celular de Leandro Boldrini, que revelam ameaças de morte feitas pela madrasta de Bernardo e omissão do médico. Zero Hora tentou falar com o advogado de Graciele, mas ele não foi localizado.

Bernardo pedia socorro e sofria ameaças da madrasta

É com um longo apelo de socorro de Bernardo que começa um trecho de um dos vídeos recuperados do celular de Boldrini. “Socorro”, grita o menino cinco vezes seguidas. Na sequência, desenrola-se mais uma das tantas brigas entre a madrasta e o menino, em agosto de 2013, na casa da família, em Três Passos. A discussão é presenciada por Leandro.

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O vídeo foi apagado do celular após o assassinato de Bernardo, mas depois recuperado. As imagens foram exaustivamente examinadas durante a audiência e causaram “grande impacto”, de acordo com a delegada Caroline Bamberg. Caroline explicou que os vídeos foram gravados por Graciele com o intuito de demonstrar o comportamento agressivo de Bernardo em um possível processo. Porém, neste primeiro áudio, na briga, ela perdeu o controle e disparou agressões e ameaças.

Bernardo berrou e clamou por socorro diversas vezes, até que a Brigada Militar foi à residência. O menino ainda foi ironizado pela madrasta, que o chamou de “cagão”, e ficou grogue após receber medicamentos do pai. O advogado de Boldrini, Jader Marques, reconhece que os vídeos são impactantes e explicitam o péssimo relacionamento entre seu cliente e o filho. Mas, segundo ele, não são suficientes para vinculá-lo ao crime.

Ouça trecho da conversa gravada no celular de Leandro Boldrini:

Veja a transcrição do áudio de um dos vídeos:

Graciele: […] vai lá pedir socorro, vai lá.

Bernardo: Vão vocês!

Leandro: Quem que começou a bagunça?

Bernardo: Vocês me agrediram, tu me agrediu.

Graciele: E vou agredir mais. A próxima vez que tu abrir a boca para falar de mim, eu vou agredir mais.

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Leandro: Xingando ela. Ninguém merece ser xingado, né, rapaz.

Graciele: Eu vou agredir mais, eu não fiz nada em ti.

Bernardo: Fez sim. Tu me bateu.

Graciele: Tu não sabe do que eu sou capaz.

Bernardo: Tu me bateu.

Graciele: Tu não sabe.

Bernardo: Tu me bateu.

Graciele: Eu não tenho nada a perder, Bernardo. Tu não sabe do que eu sou capaz. Eu prefiro apodrecer na cadeia do que ficar vivendo nesta casa contigo incomodando. Tu não sabe do que eu sou capaz.

Bernardo: […] queria que tu morresse.

Graciele: Tu não sabe do que eu sou capaz. Vamos ver quem tem mais força. Aí nós vamos ver quem tem mais força. Ahhh, nós vamos ver quem tem mais força.

Bernardo: Quando tu morrer.

Graciele: É, então nós vamos ver quem vai para baixo da terra primeiro.

Bernardo: Tu. Tu vai.

Graciele: Então tá, se tu tá dizendo.

Bernardo: Tu vai.

Veja como teria ocorrido o crime: