Em uma noite de agosto de 2013, véspera do Dia dos Pais, durante uma das tantas brigas entre Bernardo Uglione Boldrini e a madrasta Graciele Ugulini na casa da família em Três Passos, o garoto ouviu dela uma frase profética:

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Vamos ver quem vai para baixo da terra primeiro.

A ameaça de morte, presenciada por Leandro Boldrini – que não tomou nenhuma atitude e ainda mandou o menino “calar a boca” -, foi revelada pela Polícia Civil durante a primeira audiência sobre o caso Bernardo, realizada no Foro da cidade nesta terça-feira. Foram 11 horas e quatro testemunhas ouvidas.

Segundo a delegada Caroline Bamberg, que conduziu as investigações e indiciou Leandro, Graciele e os irmãos Evandro e Edelvânia Wirganovicz por homicídio qualificado, a ameaça está em vídeos obtidos pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) e anexados ao processo na última semana.

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As imagens, que também revelam que o garoto era dopado pelo pai e escutava ofensas sobre a mãe, morta em 2010 supostamente por homicídio, são novos elementos para a acusação e reforçam a tese de que Boldrini não só era ciente das agressões, como também hostilizava o filho, que convivia em uma guerra familiar.

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Os técnicos do IGP conseguiram recuperar os vídeos do telefone celular do médico, que os tinha excluído após o homicídio. Eles foram exaustivamente examinados na sala de audiência e causaram “grande impacto”, de acordo com a delegada Caroline Bamberg, que falou por quase cinco horas.

Ela foi a principal das quatro testemunhas de acusação ouvidas pelo juiz Marcos Luís Agostini. As 22 testemunhas de defesa acabaram dispensadas e serão convocadas em novo depoimento, ainda sem data marcada. As outras sete de acusação retornarão ao Foro de Três Passos no dia 8 de setembro.

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Caroline explicou que os vídeos foram gravados por Graciele com o intuito de demonstrar o comportamento agressivo de Bernardo em um possível processo. Porém, em um dos vídeos, na briga, ela perdeu o controle e disparou agressões e ameaças. Bernardo berrou e clamou por socorro diversas vezes, até que a Brigada Militar foi à residência. O menino ainda foi ironizado pela madrasta, que o chamou de “cagão”, e ficou grogue após receber medicamentos do pai.

– Demonstra bem o comportamento relacionado ao filho. É revelador. Leandro Boldrini presenciava as agressões, o menino era ameaçado de morte dentro da própria casa. Não é só omissão, desde o início venho falando isso. Ele sabia, foi um dos mentores.

De acordo com o advogado da mãe de Bernardo, Marlon Balbon Taborda, as imagens são chocantes e agora fundamentais para a acusação:

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– É muito chocante e com certeza um elemento importante para um futuro Tribunal do Júri. Os gritos do Bernardo são de pavor, de pânico.

O advogado de Boldrini, Jader Marques, reconhece que os vídeos são impactantes e explicitam o péssimo relacionamento entre seu cliente e o filho. Mas, segundo ele, não são suficientes para vinculá-lo ao crime:

– De maneira específica, concreta, não há elementos que vinculem o Leandro ao fato (assassinato). Uma coisa não determina a outra. É necessário que façamos a diferença entre as situações.

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Os irmãos Wirganovicz estiveram presentes na audiência durante todos os depoimentos, de cabeça baixa. Na chegada ao Foro, ouviram gritos de “assassino” e “bruxa” de cerca de 100 moradores da cidade, que tomaram a frente do prédio após um protesto silencioso.

O advogado de Graciele, Vanderlei Pompeo de Mattos, não quis se manifestar.

Silêncio e pedido por Justiça “iluminada”

A mobilização para a primeira audiência do Caso Bernardo começou logo cedo na gelada terça-feira de inverno em Três Passos. Por volta das 8h, mais de 50 moradores vestidos com camisetas brancas, estampadas com o rosto do garoto, se reuniram na esquina da Avenida Júlio de Castilhos com a Rua General Osório, rezaram uma Ave Maria e um Pai Nosso e deram um abraço simbólico no garoto, morto em abril.

A maioria deles, que faz parte da “Corrente do BEm”, grupo no Facebook que acompanha todas as informações sobre o caso e organiza encontros, permaneceu em silêncio em frente ao Foro e só se exaltou quando os irmãos Wirganovicz surgiram escoltados por agentes da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe).

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Apesar da presença de 40 PMs de Santa Rosa e Frederico Westphalen, não houve incidentes e protestos agressivos. O pedido de Três Passos, não apenas no local onde ocorria a audiência, mas em todos os ambientes que Bernardo frequentava, era que a Justiça aja e seja “iluminada”.

Evandro Wirganovicz foi chamado de assassino por moradores de Três Passos

Foto: Mauro Vieira/Agência RBS

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Veja como teria ocorrido o crime: