A Noite de Abertura do 35º Festival de Dança de Joinville receberá uma das primeiras apresentações de Cão Sem Plumas, nova obra de Deborah Colker, coreógrafa carioca premiada e reconhecida internacionalmente, responsável pelo espetáculo de abertura das Olimpíadas no Brasil. Cão Sem Plumas, inspirado em poema do mesmo nome do poeta recifense João Cabral de Melo Neto, é o 12º projeto da companhia profissional de Deborah Colker – o quarto a ser apresentado no Festival de Joinville, por onde também passaram Rota, 4×4 e Tatyana.

Continua depois da publicidade

Leia as últimas notícias sobre Joinville e região no AN.com.br

Cão sem Plumas existe há três anos como ideia, mas foi construído aos poucos, seguindo um fluxo semelhante ao do rio que protagoniza o poema. O Capibaribe cruza Pernambuco com seus 240 quilômetros: ele nasce na fronteira entre o agreste e o sertão, passa por 42 cidades e deságua no Oceano Atlântico.

Para criá-lo, a coreógrafa levou seus bailarinos para experimentar a vida ao lado do leito do rio, onde viveram por quase um mês enquanto ofereciam oficinas de dança para os moradores das comunidades ribeirinhas. É sobre eles, os homens, as mulheres e as crianças que habitam ao redor do Capibaribe, de que João Cabral realmente falava ao escrever O Cão Sem Plumas, livro publicado em 1950, utilizando a metáfora para se referir às condições subumanas dos moradores de palafitas que, no poema, confundem sua pele com a lama do manguezal.

Da mesma forma que o poeta utilizou a literatura para denunciar a realidade social daquela região na metade do século passado, Deborah Colker agora renova este manifesto a partir do que viu e sentiu ao vivenciá-la e encontrar não só problemas sociais semelhantes àqueles percebidos por João Cabral, mas também o total descaso com a natureza.

Continua depois da publicidade

Atualmente, o índice de cobertura de esgoto sanitário em Pernambuco é de 25%, o que faz com que boa parte do esgoto doméstico seja despejado no rio, que também recebe dejetos químicos de atividades industriais. Tudo isso faz com que o Capibaribe seja, hoje, um rio morto.A partir destas experiências, os bailarinos de Deborah Colker tornam-se homens-caranguejo em cena. Sua linguagem corporal é o principal neste espetáculo, diferentemente das outras obras da companhia vistas em Joinville, quando o aspecto acrobático era o centro das atenções.

Festival de Dança motivou a criação da Escola Bolshoi em Joinville

Para isso, o figurino é imperceptível: eles estão cobertos pela lama, em referência ao manguezal. E, no cenário, além de cestos de madeira sobre o palco, há o hibridismo de linguagens. Em parceria com o cineasta Cláudio Assis, todo o processo de pesquisa dos movimentos para o espetáculo foram registrados em vídeo, assim como as paisagens por onde a companhia passou, e estas imagens são projetadas como pano de fundo, completando a narrativa.

Entenda por que o Festival de Dança de Joinville é o mais importante do Brasil

A trilha sonora é composta por Berna Ceppas, parceria frequente nos espetáculos da companhia, em parceria com o vocalista do Nação Zumi, Jorge Dü Peixe e Lirinha, da banda Cordel de Fogo Encantado. Os bailarinos dançam ao som de maracatu, coco e outros ritmos regionalistas, combinados a ritmos eletrônicos e a trechos de canções originais declamados.– A gente vai do clássico ao popular. Uso sapatilha de ponta e ainda vou para a lama – contou Deborah Colker há duas semanas em entrevista à Folha de S. Paulo na estreia do espetáculo, que ocorreu, como não poderia deixar de ser, no Recife.

Joinville é a terceira cidade a receber o espetáculo. Depois, haverá quatro noites de apresentações no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no fim de julho, e turnê pelas principais capitais do Brasil.

Continua depois da publicidade

Conheça os espetáculos das noites especiais do 35º Festival de Dança

Festival de Joinville divulga selecionados para Mostra Competitiva