O secretário estadual da Agricultura, Claudio Fioreze, defendeu as cooperativas Piá e Santa Clara e garantiu a Zero Hora que elas não introduziram intencionalmente álcool etílico em amostras recolhidas do mercado nessa semana. De acordo com Fioreze, o Ministério da Agricultura se precipitou na análise e não levou em conta o histórico das empresas e os investimentos feitos por elas em modernização:

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– Elas têm história e gestão. Não são aventureiras procurando empresas que pagam um centavo a mais. Eu tenho certeza absoluta que não agiram de má fé.

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Em seu perfil no Twitter, Fioreze argumentou que faltou diálogo entre o Ministério da Agricultura e os laboratórios credenciados pelo próprio órgão. Ele não questionou a ação dos fiscais, e sim o pequeno volume de leite detectado com álcool e o fato de que a Piá e a Santa Clara não foram investigadas pela Operação Leite Compen$ado.

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Segundo Fioreze, há duas hipóteses para a fraude divulgada nessa semana: algum produtor pode ter tentado salvar uma carga de leite ou usou álcool para desinfetar equipamentos. De qualquer forma, ele entende que não se trata de um crime.

– O Ministério deveria verificar o histórico da empresa e confrontar as análises dos laboratórios credenciados pelo Mapa. Quando houver tecnologias mais avançadas, que permitam uma detecção rápida e barata, isso será uma rotina nas indústrias.

“Fiscalizamos leite, não marcas”

O superintendente do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul, Francisco Signor, rebateu as declarações do secretário Fioreze e ressaltou que os fiscais não levam em conta o histórico e a marca da empresa nas análises.

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Ele disse a Zero Hora, na última terça-feira, que não há nenhuma etapa no processo de produção do leite que possa justificar a presença de álcool na substância. Signor ressalta que há diálogo entre o governo e as cooperativas, mas que a lei obriga a divulgação das análises, independentemente dos interesses comerciais:

– A análise foi muito bem feita. Nós ficalizamos o leite, não marcas, cooperativas ou empresas privadas. O fiscal nem sabe quem é o proprietário do leite, só depois do resultado do trabalho. É muito impessoal.

Nova fraude no leite

A presença de álcool etílico no produto, descoberta em inspeção de rotina do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul em junho e julho deste ano, aponta para fraude numa terceira ponta na cadeia de produção até então tida como imune, a das cooperativas. Pelo menos duas estariam cometendo a irregularidade – Piá e Santa Clara – e terão de prestar esclarecimentos ao Ministério Público.

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Desde o ano passado, quando foi deflagrada pelo MP a Operação Leite Compen$ado, em maio, os transportadores e a indústria do leite estão sendo investigados. Na primeira etapa, o MP revelou que intermediários estavam adicionando água de poço não tratada e ureia no leite que era transportado do produtor para postos de resfriamento, antes de chegar à indústria. Na ureia, foi constatado que havia formol, substância que causa câncer.

Um ano depois, a indústria foi alvo da Operação Leite Compen$ado e dois donos de laticínios acabaram presos – Ércio Vanor Klein, da Pavlat, e Sérgio Seewald, da Hollmann. Conforme as investigações, os empresários sabiam que cargas com leite deteriorado eram maquiadas com substâncias químicas como soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada.