A adição de álcool etílico ao leite, descoberta pelo Ministério da Agricultura em inspeção de rotina no Rio Grande do Sul em junho e julho deste ano, só pode ocorrer de forma intencional. Quem garante é o superintendente do órgão no Estado, Francisco Signor. De acordo com ele, não há nenhuma etapa no processo de produção que possa justificar a presença de álcool na substância.
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As novas ocorrências atingem uma ponta na cadeia de produção da substância até então tida como imune a fraudes, a das cooperativas. Pelo menos duas delas tiveram a presença de álcool etílico em seus produtos e estariam cometendo a irregularidade – Piá e Santa Clara. Elas terão de prestar esclarecimentos ao Ministério Público.
Entenda como o álcool etílico foi parar no leite
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Em entrevista a Zero Hora nesta terça-feira, Francisco Signor ressalta que a responsabilidade pela entrega do leite sem aditivos é da cooperativa e explica que, com o avanço da tecnologia nas análises laboratoriais, será cada vez mais difícil burlar a legislação. Confira os principais trechos:
Onde foi feita a coleta do leite adulterado?
No tanque do caminhão que estava descarregando o produto em Vila Flores (localidade de Nova Petrópolis, na Serra). As cooperativas podem ter feito as mesmas análises num volume maior. O Ministério da Agricultura vai nas indústrias, plataformas, caminhões e até em produtores. Nesse caso específico (Piá e Santa Clara), coletamos de vários caminhões, e num deles achamos o problema.
As cooperativas têm responsabilidade direta nisso?
É na cooperativa que os milhares de litros de leite são misturados e vão para um tanque maior. Ela também faz suas coletas e análises. Se a cooperativa não tem laboratório moderno, deve procurar os credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A legislação é clara: as indústrias são responsaveis por matéria-prima, processamento e distribuição. Seguindo as normas que existem hoje, não tem erro. A questão é que, para conhecer todo o leite que ingressa em pequena quantidade, o custo é elevadíssimo.
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Quanto?
Para um caminhão com três tanques de 3 mil litros cada um, por exemplo, é R$ 2,1 mil para cada tanque. A que preço vai chegar o leite para o consumidor assim? Além disso, é preciso represar o produto até sair o resultado laboratorial, que pode demorar cinco dias. Álcool etílico no leite não é inconsciente. Resquícios de soda podem acontecer sem intenção, mas não álcool.
Após tantas irregularidades, é possível beber leite de forma segura?
Estamos fiscalizando numa intensidade muito grande. Se de fato ocorrer uma pequena fraude, uma ínfima adição de qualquer produto estranho ao leite, não adianta, o laboratório pega. Não tem como burlar isso, e cada dia nos especializamos mais e estamos mais sofisticados. Podemos detectar qualquer coisa errada no leite, não tem perdão para ninguém. Quem quiser arriscar, que arrisque. De qualquer forma, a qualidade do leite é muito boa.