Poucas coisas trazem tanta vida à cidade como o período de volta às aulas. Grupos de crianças nas calçadas, mães entregando filhos na porta das creches, pais aguardando nos portões do colégio. Ah! E os estudantes zoando dentro dos ônibus. Esse cenário é bom demais! Divertido, até! O que não é tão tranquilo assim são as mochilas cheias de coisas dividindo espaço nos corredores, batendo na gente, roçando pra lá, pendendo pra cá, no caminho de quem passa.

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Por falar em peso de mochilas: tem alguém fiscalizando aquela lei estadual de 2010 que regula o peso máximo tolerável para o transporte do material escolar nas redes pública e privada do Estado de Santa Catarina? Pelo suor escorregando da testa dos baixinhos não…

Tem outra coisa interessante que se observa nessa época, as instigantes percepções dos adolescentes. Sim, pois o tempo de Confissões de Adolescentes (livro, peça de teatro, filme) é passado. É o que me faz pensar a conversa que ouço vinda do banco ao lado.

São duas meninas, uns 12 anos.

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– Fiquei bolada. Não sabia que era gay.

A outra responde:

– Nem eu!

– Só que ela pode estar mentindo porque quer pegar ele também. MP!

Eu, acostumada com a sigla, me pergunto: o que o Ministério Público tem a ver com isso? Será que a garota está falando de encaminhar denúncia?

MP é mente poluída! Gíria de adolescente.

Danadinha essa menina, não? Refiro-me à que pode ter montado a estratégia de difamar o rapaz pelos corredores do colégio. Por sinal não um colégio qualquer: pela camiseta são do Instituto Estadual de Educação, o IEE, considerado o maior colégio da América Latina, com 5.640 alunos. Embora também esperta essa que, um pouco adiante, volta a falar:

– Tem uns meninos bem lindos na outra sala. É só rolar uma selva que tu esquece dele.

A menina, que devia estar triste pela suposta rival, diz:

– Irado.

E eu de novo: selva, o que é isso?

Descubro depois. Selva é festa em que todo mundo pega todo mundo.

Não é danadinha essa aí também? Primeiro semana de aula, já fez contatos e anda com o olho espichado pra outra turma. Por falar em olho: essa eu já sabia, pois uma amiga explicou que hoje elas, as meninas, não falam mais “cruzes, nada a ver, tá louco¿ quando acham um cara feio. Ela aprendeu com a filha, também adolescente: SOS, só o olho salva, quando o sujeito é muito feio.

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Voltando para dentro do ônibus, que já sobe o morro:

– Cara, melhor ser gay do que bandido, corrupto, traficante.

Boa, menina!

– Animal – responde a outra em sinal de aprovação.

Sobre aprovar algo, tem salta uma pérola antes da próxima parada:

– Acho que meus gerentes não vão deixar eu ir na selva.

Nem presto atenção no que a outra responde.Como assim, menina? Que gerente? Que história é essa de “meus gerentes”?

Ah, tá bom: são os seus pais.

Hora de uma delas descer.

– Fui! tchau BFF?

Volto ao meu interior: BFF?

– Best friend forever, melhor amiga para sempre.

Que sejam, meninas. E continuem trazendo vida à cidade…

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