Em meio às transformações pelas quais passou em quase 23 anos no ar, a MTV Brasil deixou fãs de primeira hora saudosos da sua programação musical, ampliou audiência deixando de soprar o vento para seguir o rumo das FMs populares, embarcou com tudo na interação virtual, arriscou-se por outras praias além das sonoras, perdeu sua relevância no revigorado universo do videoclipe e agora agoniza diante de um futuro incerto.
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Segundo informações que circulam nos mercados publicitário e televisivo – nenhuma das partes se pronunciou oficialmente sobre – o grupo Abril, licenciado para operar a MTV no Brasil, deve devolver a marca ao conglomerado de mídia americano Viacom. Mas, em meio a demissões e cancelamento de programas, porém, a MTV Brasil anunciou nesta última terça-feira novas atrações com estreias programadas até setembro. As especulações indicam que a Viacom acerta os ponteiros para manter a emissora em atividade no país, como um canal pago e não mais em sinal aberto UHF.
Essa estratégia de preservação atesta a importância que a marca MTV ainda tem na cultura pop. Para uma geração de apaixonados por música que cresceu assistindo aos musicais do Fantástico ou aos raros programas jovens que exibiam videoclipes nas décadas de 1970 e 1980, a MTV, em operação nos EUA desde agosto de 1981, exibindo música pop 24 horas ao dia, era um sonho. O canal revolucionou a indústria musical, criou uma linguagem visual que foi absorvida até mesmo pelo cinema, revitalizou carreiras de astros veteranos e criou novos ídolos. O som nunca dependeu tanto da imagem quanto na era pós-MTV.
A chegada do canal ao Brasil, em outubro de 1990, foi recebida com emoção e gambiarras de arames de cabide para captar o sinal UHF. Essa estreia no país se deu em um momento especial para música pop: às vésperas da explosão grunge, da onipresença global do Guns N’ Roses e das provocações eróticas de Madonna.
Cada um tinha seu programa e seu VJ favoritos, do hard rock e heavy metal com o Gastão às bandas indies apresentadas pelo “reverendo” Fabio Massari. Em tempos pré-internet, Zeca Camargo, no MTV no Ar, colocava o público em sintonia com o noticiário que antes dependia de revistas importadas. Já não se esperava mais meses até escutar e ver o mesmo que os gringos. As rádios FM, mesmo as mais antenadas, passaram a ser pautadas pelo canal.
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A euforia, entretanto, não se traduziu em audiência que garantisse a viabilização comercial da MTV. Para ampliar seu público, chegou aos anos 2000 abrindo espaço a gêneros populares e distanciando-se da música e apostando em uma linha de programas variados.
Renegar sua origem musical talvez tenha sido um erro estratégico, como mostra o sucesso de canais concorrentes e, sobretudo, desde 2005, do YouTube, que não apenas comprovou que o interesse pelo videoclipe não havia arrefecido como criou ele próprio uma nova leva de ídolos. Psy e Guri de Uruguaiana estão aí para mostrar que a música pode circular com mais eficiência quando embalada numa boa imagem. O videoclipe segue firme e forte. A MTV, no Brasil, nem tanto, muito por subestimar a saúde e a longevidade do monstro que criou.