Com atraso de sete meses em relação à data marcada para a inauguração, aos poucos o Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) para jovens infratores da Grande Florianópolis começa a receber adolescentes em conflito com a lei.

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De acordo com a gerência da unidade de São José, cinco menores estão recebendo tratamento na unidade desde sexta-feira, quando o Juizado da Infância e Juventude autorizou a abertura do Casep, um módulo para internação provisória de até 45 dias.

::: Funcionamento era previsto para o final de junho

::: Depois prazo mudou para final de julho

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No entanto, a maior parte da estrutura de 8,4 mil metros quadrados, que deve receber jovens com mandado para internação de até três anos, aguarda que o Governo do Estado resolva pendências solicitadas pelo Ministério Público e Justiça.

– A estrutura é ideal, mas constatamos algumas faltas, atividades que não estão prontas para serem oferecidas. Por exemplo, a escolarização e oficinas extras, como informática, grafitismo, música, olaria, etc. – informou o promotor da Infância e Juventude, Gilberto Polli.

Falta conhecer o perfil

Segundo Polli, os programas estão previstos no plano pedagógico, mas ainda não está claro como será oferecido, nem por quem.

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No entendimento do secretário de Justiça e Cidadania, Sady Beck Júnior, a implantação destes programas depende do início das atividades.

– Não podemos colocar os carros na frente dos bois. Como vamos dar um curso sem conhecer o perfil do adolescente que vai entrar ali? Entendemos que os funcionários e a estrutura está pronta para receber jovens esta semana – disse.

Os cinco adolescentes que estão atualmente no Casep recebem acompanhamento psicológico, além de atividades recreativas, como futebol na quadra da unidade.

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Apesar de barbaridades, CER São Lucas não teve um punido até hoje

A preocupação do Ministério Público sobre as atividades no interior do Case tem justificativa no passado, quando casos de fuga, tortura e ingerência colocaram fim às atividades do CER São Lucas, demolido em 2011.

– Não podemos deixar repetirem-se as barbaridades que ocorreram ali. Adolescentes foram vítimas de tortura, prática que estimulava um comportamento rebelde e colocava em risco tanto a própria vida quanto a dos agentes. É baseado nisso que estamos tomando todo o cuidado e o governo tem que ter noção da sua responsabilidade – disse Polli.

Apesar da autorização da justiça para abertura parcial da unidade, com o funcionamento do Casep, o processo que apura as irregularidades no local ainda aguarda sentença da juíza da Vara da Infância e Juventude, Ana Cristina Borba Alves, que deve se manifestar em breve sobre o caso. Ninguém foi punido desde a interdição, em 2010.

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Acusações em apuração

O secretário Sady Beck Júnior afirma ter processo administrativo aberto para apurar as acusações de ingerência por parte do último gestor da unidade, o agente Venício Machado Pereira Neto, além de outros agentes socioeducativos. Entretanto, nenhuma decisão foi tomada até hoje, de acordo com o próprio Sady.

No Portal da Transparência, Venício está lotado como gerente do Plantão de Atendimento Inicial de Florianópolis, mas segundo informações da SSJ o servidor estaria cumprindo funções no Oeste no sistema prisional. Ele não foi encontrado pela reportagem.

Gerente não agrada promotoria

A nova gerente do Case Grande Florianópolis foi indicada pela ex-secretária da Justiça e Cidadania, Ada de Lucca, reeleita deputada estadual. Vera Lúcia Pereira Formentin tem experiência como diretora do Centro Educacional Municipal Jardim Solemar, de São José, além de estar à frente do Posto de Saúde Procasa por seis anos. Em entrevista em junho ao Hora, ela falou em começar do zero, mantendo diálogo e baseando o tratamento dos jovens na educação.

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O promotor Gilberto Polli é relutante quanto ao nome escolhido pelo Estado para administrar a unidade.

_ Não conheço ela e é cedo para afirmar qualquer coisa. Mas ela foi diretora de escola, o que é um jardim de infância perto da responsabilidade que ela vai encontrar pela frente. Era fundamental que tivesse qualificação, capacidade e conhecimento para fazer o sistema funcionar. Só o tempo vai dizer, mas se ela não conseguir, não dura seis meses _ disse Polli.

O secretário Sady Beck Júnior defendeu a nova gestora.

– Tem larga experiência em educação e qualquer julgamento sobre o trabalho dela seria precipitado demais. Tem todo apoio para fazer o trabalho – afirmou.

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Histórico

:: O CER São Lucas foi interditado em 17 de dezembro de 2010 e demolido em junho de 2011, após decisão da juíza Ana Cristina Borba Alves. Na época, uma ação do Ministério Público e uma série de inspeções de órgãos estaduais e federais concluíram que a estrutura não tinha mais condições e os internos sofriam com maus tratos e torturas praticados por monitores da unidade.

:: Com investimento de R$ 12 milhões, o novo Case começou a ser erguido em março de 2013. São 8,4 mil m² cercados por muros de 5 metros de altura. Salas de aulas e profissionalizantes, teatro, ginásio, centro ecumênico, alojamentos, ambulatório, lavanderia, quadra de esportes, quiosques para visitas e horta compõe a estrutura.

:: São 98 vagas, sendo 70 para sentenciados, 20 para provisórios (que ficam por até 45 dias) e 8 ameaçados. Os jovens são separados por módulos, de acordo com a classificação. No caso dos internos, todos serão matriculados e assistirão aulas. A unidade também terá parceria com o Pronatec para profissionalização dos jovens internos.

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Em Santa Catarina

:: Além do Case de Florianópolis, uma unidade semelhante está em fase final de construção – em Joinville – para atender mais 70 adolescentes.

:: Hoje são 27 unidades de atendimento no Estado, sendo a maioria (73%) administrada em parceria com Organizações Não Governamentais (ONGs) e entidades. Para cada interno, o Estado destina R$ 4 mil por mês, que é usado na alimentação e funcionários. Na lista de espera para internação estão 167 adolescentes, segundo informações do Dease.