O pequeno Luan Henrique Martins, três anos, acompanhava com os olhos vidrados cada movimento dos bailarinos. O palco improvisado entre os corredores do Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, em Joinville, recebeu grupos de dança de várias partes do País. As apresentações no local fazem parte da programação do 35º Festival de Dança, que ocorre até o dia 29 na cidade.
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Aos poucos, os passos ritmados levaram um novo colorido ao ambiente, e palminhas festivas começaram a surgir entre as crianças internadas na unidade, assim como Luan. No hospital há oito meses, o menino faz tratamento contra leucemia. Para a mãe, Luana Maraísa do Nascimento, essas intervenções ajudam no processo de cura, porque distraem e mudam a rotina hospitalar. Os dois vieram de Navegantes e ainda aguardam uma data para acabar o tratamento e voltar para casa.
— A dança é uma coisa diferente do que a gente vê aqui no hospital, ajuda a entretê-lo e deixá-lo feliz — afirma.
Larissa Bogas, 21 anos, natural da cidade de Paulínia-SP se apresentar há quatro anos no Festival. Neste ano, a emoção de encarar a plateia foi estendida aos pacientes do Infantil. Uma lágrima tímida escorria no canto dos olhos da bailarina, enquanto rodopiava levemente os passos de balé. A jovem escolheu dançar em frente a uma das janelas da sala de isolamento, onde as crianças não podem sair e nem ter acesso de público externo.
— Como ele não vai poder sair para ver as danças, eu escolhi ficar aqui. É muita tocante trazer a arte da dança até esses pacientes que não vão ter a oportunidade de sair para assistir — orgulha-se.
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Sentado no chão, Lucas Inacio, dois anos, observava atentamente os pliés e tendus de Larissa. O menino foi internado pela primeira vez no hospital há quase um ano para tratar um câncer no pulmão. Mesmo com a quimioterapia, a doença se espalhou para os rins e há uma semana o menino retornou à unidade para dar continuidade ao tratamento. Com o olhar tímido, mas curioso, o pequeno espiava pelo canto da porta as coreografias no palco improvisado.
Além de preencher com alegria o corredor do hospital, as apresentações do Festival ajudam a distrair e tornar a rotina menos tensa. Para o pequeno Lucas, ajuda também a esquecer da saudade do irmão Kauan e das duas cachorrinhas, Sophia e Jully, que ficaram com o pai em Camboriú.
— Ele fica meio emburrado, porque se assusta. Mas é muito importante para o Lucas ver essas coisas diferentes, já que ele fica trancado aqui o dia todo. Ajuda muito na recuperação — conta a mãe, Joicy Jaqueline Bremen.
Além do Infantil, bailarinos já estiveram alegrando o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt na semana passada. Já as pacientes da Maternidade Darcy Vargas receberão as apresentações nesta sexta-feira, dia 28.
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Ferramenta de transformação
Fora o espetáculo nos corredores, a bailarina e curadora do Festival Ana Botafogo também apareceu no hospital nesta segunda-feira. Segundo ela, apresentações como as desta manhã enriquecem a bagagem dos bailarinos, tornando-os mais próximos dos mais variados públicos. Além disso, enxergar a felicidade nos olhos dos que não podem acompanhar a programação fora do hospital é um prática além da dança.
— Não só os pacientes, os próprios bailarinos ficam emocionados. É a missão do Festival, levar a dança para vários lugares. É função do artista levar a arte para esses que não podem sair para assistir — afirma.

Experiente no Festival, Ana enxerga nessas apresentações uma oportunidade na transformação de jovens bailarinos em grandes artistas. Ela destaca que o ato de democratizar a dança para além dos palcos convencionais também é uma forma de acolhimento.
— Eu tenho andado nas ruas e converso com as pessoas daqui e vejo esse carinho do acolhimento. Sobretudo esses bailarinos superjovens, que estão aqui para dar a sua arte e também treinar, porque um dia eles serão os nossos artistas — completa.
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