A manhã deste sábado começou com um arco-íris na praça do Teatro Carlos Gomes, que se espalhava pelo espaço em lenços, fitas, cartazes e balões flutuando sobre as fontes. A aparição das sete cores não fazia parte de um fenômeno natural, mas de um ato de combate à violência e ao preconceito.
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A ação, chamada de Homofobia Mata! Seus direitos + meus direitos + Direitos Humanos, marcou o fim da 1ª Semana Municipal de Luta Contra a Homofobia, que teve ao longo dos últimos dias uma série de eventos voltados à reflexão sobre o direito à livre orientação sexual e identidade de gênero.
Na praça um ambiente contra o preconceito foi montado. Estavam expostas as obras da atriz e fotógrafa Sabrina Marthendal que compõem a série Já te Ouvi Dizer, onde integrantes do Coletivo LGBT Liberdade, de Blumenau, mostram frases homofóbicas que já ouviram. O artista plástico Pedro Gottardi expôs pinturas do universo LGBT, e foram colocados em um varal e em bancos da praça roupas que representavam pessoas mortas por crimes de homofobia.
As reações ao ato eram as mais diversas: muitas pessoas passavam rapidamente, espiavam pelo canto do olho e evitavam contato visual. Alguns vidros se fechavam nos carros enquanto o semáforo ao lado da praça estava fechado _ embora não estivesse sendo feita nenhuma abordagem aos veículos. Várias pessoas se negavam a responder a pesquisa que era feita para saber o que as pessoas conheciam sobre homossexualidade, homofobia ou o movimento LGBT (muitas sequer olhavam para os pesquisadores).
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Outros cidadãos, no entanto, dedicaram um pouco do seu tempo a ouvir os motivos do ato. Foi o que fez a aposentada Norma Furtado da Silva, 67 anos, que respondeu todas as perguntas e ainda ficou durante algum tempo ouvindo as palavras de um dos integrantes do Coletivo e organizador da semana, Lenilso da Silva.
– Somos todos seres humanos e o que cada um faz na sua relação não muda nada para ninguém. Acho que tem que fazer isso sim, tem que lutar contra o preconceito. Se ele é gay, ela é lésbica, ele é preto, eu sou velha, isso não é da conta de ninguém. Tem que aceitar o que a pessoa é, o que vale é o ser humana – declara.
O estudante Rodrigo Kalbusch, 22 anos, já morou em Blumenau e conta que quando soube do ato fez questão de participar usando seu salto alto:
– Eu vejo que aqui os próprios gays ficam com medo, retraídos e preferem não se expor. Claro que ficar na frente do computador dizendo que quer seus direitos é mais cômodo, mas tem que vir pra rua e tem que ser desconstruída essa coisa de que salto é só pra mulher ou homem tem que ser machão. A maior vitória da pessoa é ser quem ela deseja ser.
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Silva avalia que todos os eventos que fizeram parte da Semana Municipal de Luta Contra a Homofobia conseguiram abrir a discussão e mostrar o quanto é importante lutar contra a violência de gênero.
– Esse é um momento muito especial, porque quando não se fala também não se reflete sobre nada, e nós estamos refletindo sobre os direitos e sobre a cidadania da população LGBT. Avaliamos (a semana) como uma conquista, porque superou todas as expectativas – analisa, ressaltando que a luta da comunidade não é contra os heterossexuais, mas contra a violência e o preconceito:
– O tema é polêmico e gera muita discussão, contra e a favor, mas deixo claro que somos contra a homofobia, tanto que temos os heterossexuais como aliados muito importantes.
Beijo apaixonado e ativista
O casal Pedro Gottardi e Pepe Sedrez no ato público contra a homofobia na manhã deste sábado em Blumenau. Foto: Gilmar de Souza
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Ao som dos versos “Essa é a última oração pra salvar seu coração/ Coração não é tão simples quanto pensa/ Nele cabe o que não cabe na despensa” de “Oração”, d’A Banda mais Bonita da Cidade, os participantes celebraram o amor, que foi coroado com um beijo espontâneo e representativo entre o casal formado pelo diretor de teatro Pepe Sedrez e o artista plástico Pedro Gottardi, que fazem parte do Coletivo LGBT Liberdade de Blumenau.
Para Sedrez, a ação do movimento é importante para levantar o debate sobre a posição da comunidade LGBT na sociedade quanto para ajudar quem ainda tem dificuldades de se impor:
– É importante dar visibilidade ao movimento e mostrar para nossa sociedade, que sabe muito bem que nós existimos, a nossa cara, quem nós somos. Muita gente não está aqui e eu me sinto no dever de abrir espaço para quem ainda está sufocado, reprimido. Eu nunca tive problemas graves com preconceito, trabalho na classe artística, sou de religião de matriz africana e isso nunca foi um problema, então eu me sinto privilegiado, mas não acomodado, porque eu preciso lutar por aqueles que não têm essas condições, porque nós temos que avançar muito ainda.