Um dia depois de a chuva ter surpreendido o joinvilense e causado pelo menos 70 pontos de alagamentos, inclusive em áreas que não costumavam inundar, a Prefeitura se comprometeu com pelo menos cinco ações de curto, médio e longo prazos para minimizar os efeitos colaterais. Só na estação meteorológica do bairro Itaum, na zona Sul, foram registrados 92 milímetros de chuva, e no Centro, 78 mm. De acordo com a Defesa Civil, o esperado para todo o mês de março são 300 milímetros.

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:: MURAL: Você acha que as soluções propostas pelo poder público vão resolver o problema das inundações? ::

– Foi uma chuva atípica, a maior precipitação dos últimos dez anos em um curto espaço de tempo (uma hora e meia). Mesmo que tivéssemos a melhor drenagem, o alagamento seria inevitável – admitiu o prefeito Udo Döhler, que quarta-feira foi conferir de perto os estragos nas ruas Porto Rico e Hermes Kruger, no bairro Floresta.

Em conversa com a reportagem do “AN” quarta-feira à tarde, Udo garantiu que vai intensificar o trabalho de limpeza de bocas de lobo, tubulações e braços de rios. Dentro de dois meses, a Prefeitura também promete lançar uma campanha educativa para conscientizar a população sobre o destino do lixo, especialmente aquele que é jogado em terrenos baldios ou em riachos.

– O lixo contribui para o entupimento de bocas de lobo – reforça.

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Em médio prazo, o prefeito aposta suas fichas na macrodrenagem do rio Mathias, que corta boa parte da região central da cidade. A obra, que vai custar R$ 45 milhões, é complexa e deve causar incômodos.

Será preciso escavar ruas para a construção das galerias, que começarão na rua Otto Boehm, bairro América, descerão pela Fernando de Noronha, Jacob Eisenhut, passarão pela Visconde de Taunay, em frente ao Shopping Mueller, pegando a Jacob Richlin, um trecho da rua do Príncipe e toda a Jerônimo Coelho, até, finalmente, desaguar no rio Cachoeira.

No Cachoeira, serão construídas comportas flap, na foz do Mathias, que fica em frente à Prefeitura, que vão abrir e fechar à medida que o Cachoeira subir por causa da maré. Uma galeria de detenção vai receber a água acumulada da maré alta. Uma estação vai bombear a água ao Cachoeira, assim que a maré baixar.

A ordem de serviço para a macrodrenagem, que promete resolver os problemas de alagamentos no Centro, deve ser lançada em dez dias. A partir disso, a Empreiteira Motta Jr. poderá começar os trabalhos. A expectativa do prefeito é de que a obra seja concluída em 18 meses.

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– Temos uma cidade plana, que dificulta o escoamento, e um complicador, que é o rio Cachoeira influenciado pela maré. Por isso, a obra no rio Mathias vai nos ajudar – completa Udo.

Mirando o futuro, há outro projeto já protocolado no Ministério da Integração que pretende viabilizar a drenagem da bacia do rio Itaum-mirim. Esta obra, que deve custar em torno de R$ 162 milhões, promete acabar com as inundações na zona Sul da cidade. Mas, até agora, só há projeto.

“Não sabíamos que choveria tanto”

Entrevista com Francisco José da Silva, secretário de Segurança Pública de Joinville

A Notícia – Além do Centro de Joinville, outras áreas que não costumavam alagar ficaram alagadas. O que aconteceu?

Francisco José da Silva (secretário de Segurança Pública) – A chuva intensa em um curto espaço de tempo coincidiu com a maré que estava variando entre 1.4 e 1.5. Com isso, houve represamento da água, que não tinha para onde escoar.

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AN – A Defesa Civil tem emitido alertas constantes quando há previsão de chuva forte. Por que desta vez isso não aconteceu?

Francisco – Já havia sido comunicado que ocorreriam chuvas esparsas, mas não nessa quantidade. Fizemos um alerta, tanto que distribuímos mais de 3 mil cartilhas da tábua de marés aos comerciantes e à população, na semana passada, informando os picos da maré e os dias. No site da própria Defesa Civil, emitimos alertas. Mas não havia como prever um fenômeno desses, de concentração de chuva tão alta em um determinado local.

AN – Mas o último alerta emitido no site foi no dia 14 de fevereiro.

Francisco – Os alertas que constam no site são de fenômenos grandiosos e emitidos pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). É por meio dele que nos baseamos para emitir os alertas de perigo. Não foi o que aconteceu na terça-feira. Tínhamos a informação de que choveria no mesmo horário de pico da maré, mas não sabíamos que choveria tanto. Foi um fenômeno atípico, que pegou todo mundo de surpresa.

AN-A limpeza de bocas de lobo e de pequenos rios está sendo feita? Por que não está dando resultado?

Francisco – A cada ponto de obstrução de bocas de lobo que encontramos, comunicamos a Seinfra, que é responsável por fazer a limpeza. Um dos grandes problemas é a educação. A população não pode jogar lixo e objetos que podem obstruir a boca de lobo. Pode ligar no 199 da Defesa Civil que imediatamente alertamos a Seinfra. Estamos fazendo sempre essa vistoria de acordo com a mancha de alagamento.

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A Defesa Civil passou a madrugada toda trabalhando, atendendo diretamente aos chamados e verificando muros, terrenos e os alagamentos. Continuamos em alerta observando os prognósticos dos equipamentos meteorológicos. (O radar meteorológico que será instalado em Lontras até meados deste ano vai ajudar a prevenir mais cedo estes fenômenos).

AN – A única solução para os alagamentos do Centro é a macrodrenagem do rio Mathias?

Francisco – No tipo de fenômeno que ocorreu terça em Joinville, concentrando um volume de chuvas tão elevado, é difícil de dizer que apenas a macrodrenagem do rio Matias resolveria. Mas pode ser uma solução.

AN – E daqui para frente, como a Defesa Civil pretende agir? Vai continuar emitindo alertas e monitorando áreas? Alguma ação nova?

Francisco – A Defesa Civil continua atenta a todos os fenômenos meteorológicos. Estamos em contato com os bombeiros voluntários, com o 62º Batalhão de Infantaria e os batalhões da Polícia Militar para acioná-los em caso de um evento maior que este. Rotas de fuga existem e estão no site.

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Confira as imagens dos alagamentos registrados em Joinville