Na expectativa do recurso, até o começo da noite desta quinta-feira, as fazendas do Centro de Recuperação de Toxicômanos e Alcoolistas (Creta) continuavam funcionando normalmente. A direção do ingressou na tarde desta quinta-feita com um agravo regimental em recurso no Tribunal de Justiça de Santa Catarina para que as cinco unidades, em Paulo Lopes, permaneçam abertas. Nesses locais estão 308 internos em tratamento, sendo 90% usuários de crack.
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O Creta tenta aproveitar o caráter provisório da decisão. Conforme a promotora Mirela Dutra Alberton, da Comarca de Garopaba, as unidades deveriam permanecer fechadas e não podem receber repasses de verbas. A notícia deixou internos e familiares preocupados. A tensão nas unidades aumentou.
– Estamos todos preocupados e esperamos que a situação reverta. Ninguém quer sair daqui – explicou um dos internos no Creta 12. O Creta funciona em sistema de convênio com a prefeitura de Paulo Lopes. No local estão homens e mulheres com idades a partir de 12 anos.
Dezenas são moradores de rua e não apresentam vínculos familiares. O recurso tenta mudar decisão anunciada na quarta-feira. Até as 19h de quinta-feira, o relator não havia concluída a análise.
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A decisão da Justiça é resultado de uma ação civil pública instaurada pelo Ministério Público de Santa Catarina em maio deste ano. Existem denúncias de desrespeito às normas sanitárias, falta de infraestrutura, cárcere privado, trabalho forçado. Em julho, o Creta ingressou na Justiça e conseguiu reverter a decisão sobre o fechamento. Mas em setembro o TJ reviu a decisão e manteve a suspensão por tempo indeterminado.
Familiares angustiadas com a decisão
A decisão sobre o fechamento das unidades do Centro de Recuperação de Toxicômanos e Alcoolistas (Creta) de Lopes preocupa familiares dos internos. Para alguns, trata-se de um dos poucos locais na Grande Florianópolis que recebe dependentes que estão praticamente consumidos pela droga e com poucas chances de recuperação.
– Meu filho é usuário de crack. Começou com 17 anos e hoje está com 25 anos. Minha paz só existe quando ele está lá, em tratamento – conta Sergio Scarpa, que mora em São José, na Grande Florianópolis.
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O desabafo de Scarpa, que tem participado de campanhas como Crack, Nem Pensar reproduz o sentimento de outras pessoas. Thais de Oliveira, que trabalha no Instituto de Cardiologia, em Florianópolis, também está apreensiva. O pai dela faz tratamento contra o álcool. O abuso com a bebida causou-lhe ferimentos pelo corpo, em decorrência de quedas e sequelas no cérebro.
– Meu pai passou por um período de tratamento, mas recaiu. Hoje está lá novamente tentando, pois aqui fora é muito mais difícil- conta. Para Thais, a decisão sobre o fechamento das unidades é absurda por que as pessoas que estão lá precisam de tratamento, algumas de forma compulsória por não terem mais condições de escolher sobre o estado de saúde.
Drama familiar
Um empresário de Criciúma procurou a reportagem do DC para expor o que chama de “drama familiar”. O filho de 24 anos foi usuário de drogas e depois de um tempo recebeu alta do tratamento.
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– Eu devo a cura do meu filho ao que aconteceu lá. A Vigilância Sanitária tem suas exigências e pode ter notado alguma coisa, mas nada que leva ao fechamento da instituição – sugere.