Enquanto analisavam os dados que tentavam explicar os dias sem água no Norte da Ilha, os técnicos da Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico de Santa Catarina (Agesan) tinham a certeza de que havia água suficiente na rede; ela só não chegou na torneira dos consumidores. Além disso, concluíram que os períodos de queda de energia em Florianópolis não foram suficientes para comprometer o abastecimento, nem mesmo no dia 29, quando 13 mil residências ficaram sem água. Foi quando a falta de energia comprometeu 14,5% da produção de todo o período sem água.

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“A Casan tem um poder muito grande e Florianópolis está sempre à mercê dela”, diz especialista em saneamento

No entender dos técnicos, a Casan não soube distribuir a água que estava à disposição quando o sistema foi afetado pela falta de luz nos demais dias. Isso porque um dos 45 poços ou uma das seis estações de captação de água que abastecem o Norte da Ilha dariam conta dos trechos afetados, já que toda a rede da região é interligada. Sendo assim, ficou claro para a Agesan que o que causou o problema no abastecimento de água foi problema interno da Casan.

– Água havia e dava conta de abastecer todo mundo. O sistema é todo integrado: se um poço ou uma estação de tratamento falha, outros deles conseguem responder – afirma o diretor de regulação e fiscalização da Agesan, Sílvio César dos Santos Rosa.

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Ao confrontar os dias, o período e os locais das quedas de luz e onde faltaram água, os técnicos perceberam que as falhas de energia elétrica não foram o fator determinante para provocar tantos dias sem água. Conforme o relatório final da empresa, no dia 29 – quando ocorreu o pico máximo do problema – cinco poços de captação de água foram atingidos pela queda de luz, deixando de produzir 2,5 milhões de litros de água.

O relatório completo não foi disponibilizado à imprensa. Nesta sexta-feira, o diretor da Agesan apenas leu uma ata com as conclusões principais.

Casan é multada em R$ 300 mil

Como o problema foi operacional, a concessionária foi multada em R$ 300 mil – R$ 60 mil em cada um dos cinco distritos que compõem o Norte da Ilha. O valor foi estimado conforme a lei que cria a Agesan – o teto máximo de infração é de R$ 80 mil, mas, como não houve reincidência, foi reduzido. A Casan tem 15 dias para recorrer da multa, que é irreversível. Todo o valor deve ser depositado no Fundo Municipal de Saneamento Básico e revertido para melhorias no próprio sistema.

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Além disso, a Casan também deverá reavaliar o plano emergencial que, no fim de 2013, foi elaborado para enfrentar a temporada. O novo plano de ação deve ser apresentado à agência em até 20 dias.

A concessionária foi notificada da decisão no fim da tarde de ontem. O relatório final da Agesan também foi protocolado na prefeitura, que deve definir neste fim de semana o que fazer em relação às falhas.

O que diz a Casan?

Após a notificação da Agesan, a reportagem entrou em contato por telefone com o presidente da Casan, Dalírio José Beber, e do superintendente da Grande Florianópolis, Carlos Alberto Coutinho. As ligações foram feitas às 19h26min, 19h48min e 20h21min. Até as 21h desta sexta-feira não houve retorno.

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O que diz a prefeitura

Por meio da assessoria de imprensa, o prefeito em exercício, João Amin, confirmou que o relatório da Agesan foi protocolado na prefeitura no final da tarde de ontem e somente na segunda-feira será encaminhado para a Procuradoria Geral do Município, que dará um parecer jurídico sobre o caso.

Calendário de falhas

O relatório da Agesan combina as datas em que faltou água em Florianópolis com as quedas de energia e concluiu que haveria formas de a Casan manter o abastecimento. O único dia em que os problemas de energia comprometeram a distribuição de água foi o dia 29, quando afetou 13 mil residências.

27 de dezembro (sexta-feira) – Santinho

Seis horas e meia sem luz

Problema em um alimentador da Celesc

Casan

Um poço afetado, na Servidão do Jornalista

28 de dezembro (sábado) – Ingleses

44 minutos sem luz

Problema em um ramal da Celesc

Casan

Afetou o principal sistema de produção de água do Norte da Ilha, a Estação de Tratamento de Água (ETA) de Ingleses

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29 de dezembro (domingo) – Rio Vermelho

Duas horas e meia sem luz

Problema em um alimentador da Celesc

Casan

Afetou 5 poços de captação de água no bairro que fornecem água bruta para tratamento na ETA de Ingleses foi o maior prejuízo de produção, em volume 2,5 milhões de litros deixaram de ser produzidos, prejudicando 13 mil residências

30 de dezembro (segunda-feira) – Ingleses

Duas horas sem luz

Um ramal da Celesc

Casan

Afetou a ETA de Ingleses

1 de janeiro (quarta-feira) – Rio Vermelho

Seis horas sem luz

Problema em um ramal da Celesc

Casan

Sem registro de problemas

Fonte: Celesc e Superintendência Regional de Negócios da Casan na Grande Florianópolis