O juiz Marcelo Volpato de Souza decretou as prisões preventivas de Grazielly Dutra, 32 anos, e Rafael da Silva Ribeiro Stringhini, o Alemão, 26, acusados de torturar e matar o estudante de direito e segurança Camilo Cabral Barboza, 28, no Morro da Mariquinha, área central de Florianópolis, em fevereiro deste ano.

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O magistrado aceitou a denúncia criminal por assassinato oferecida pelo Ministério Público contra os dois, que negam o crime. Grazielly e Rafael são considerados réus e poderão ser levados a júri popular, mas antes serão ouvidos pela Justiça.

Os dois foram presos em março pela Polícia Civil e estavam com prisões temporárias decretadas. Responsável pela denúncia, o promotor Andrey Cunha Amorim, que atua no Tribunal do Júri, afirma que Camilo foi cruelmente assassinado após uma sessão de tortura, julgado e condenado a morte pelo poder do tráfico local depois de uma falsa acusação de que teria molestado sexualmente a filha de Grazielly.

A vítima e Grazielly eram vizinhas e moravam em casas alugadas do mesmo proprietário na Mariquinha. Segundo o promotor, com o objetivo de se mudar para a casa de Camilo, maior e melhor do que a sua, Grazielly começou a importuná-lo deliberadamente a fim de que abandonasse o lar. Um dia antes do homicídio, ainda conforme o promotor, a acusada colocou uma mesa na garagem do estudante, dificultando a Camilo o estacionamento do carro, o que gerou grave discussão entre eles.

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No dia 15 de fevereiro, momentos antes do homicídio, o promotor afirma que a acusada imputou falsamente a Camilo um crime, dizendo que ele havia molestado sexualmente a sua filha, notícia que levou aos traficantes que controlavam o morro, ciente de que tal fato é severamente punido com a morte.

A Delegacia de Homicídios apurou que traficantes armados encontraram Camilo na casa de um vizinho e o levaram para o alto do morro, na Bica D’Água, onde o amarraram a um tronco. Consta no inquérito que Camilo foi golpeado por diversas pessoas, entre elas Grazielly, com um cabo de madeira.

“A vítima levou socos, pontapés e golpes do cabo, sendo submetido a uma verdadeira sessão de tortura como castigo em razão de os traficantes terem acreditado que supostamente havia cometido o crime sexual”, escreveu o promotor Amorim.

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Jogado de precipício

O estudante ainda foi jogado de um precipício e fraturou uma perna, sendo encontrado por policiais militares caído, debilitado e ferido. Hospitalizado no Celso Ramos, não resistiu e morreu três dias depois.

O promotor denunciou Rafael e Grazielly por homicídio triplamente qualificado mediante tortura e fez críticas a segurança pública de Florianópolis no documento enviado à Justiça:

“A presente denúncia infelizmente é fruto da angústia pela qual atravessa a segurança pública da nossa cidade, refletindo de certa forma a falta de soberania do Estado em determinadas regiões carentes”, alertou Amorim.

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A vítima

Camilo cursava direito na Faculdade Cesusc e havia trabalhado como segurança na campanha para prefeito de 2012 da hoje deputada federal Angela Albino (PCdoB). Ele morava na comunidade há cerca de um ano.

A defesa dos acusados

O advogado Fábio Amabile Patrão, defensor de Grazielly Dutra, afirma que ela nega o crime e também a história de que teria inventado o suposto abuso sexual da filha para eliminar Camilo.

— É totalmente infundado o que diz a denúncia, algo sem pé nem cabeça. Vamos recorrer e também não sei porque ela está presa, pois colaborou com a polícia. Testemunhas afirmam ainda que a vítima não foi jogado do penhasco, mas que caiu — sustenta o advogado.

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O advogado Cláudio Gastão da Rosa, defensor de Rafael da Silva Ribeiro Stringhini, o Alemão, disse que o seu cliente não foi o autor do crime e não participou do fato. Segundo o advogado, Rafael foi denunciado no caso por estar na comunidade naquele dia e por ser voz ativa no morro.

— O Rafael não tem nenhum envolvimento com esse crime — assegurou Gastão.