A partir das próximas semanas, as comunidades haitiana e senegalesa em Santa Catarina devem ganhar novos integrantes. O Governo do Acre afirma que 350 estrangeiros começariam a sair do Norte do país entre quinta e sexta-feira, viajando milhares de quilômetros até outros seis Estados.

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Embaixador do Haiti conversa com imigrantes na Univali em Itajaí

Idiomas, leis e preconceito são barreiras para haitianos em SC

Florianópolis, Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Cuiabá (MT), Porto Velho (RO) e Campo Grande (MS) estão na lista de destinos – porém, os poderes públicos estaduais e municipais ainda não sabem quantas pessoas ficarão em cada local.

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Segundo a Secretaria de Direitos Humanos do Acre, são oito veículos com capacidade para 44 passageiros cada, somando cerca de 350 pessoas. A pasta diz que 95% deles afirmam interesse em se estabelecer em São Paulo, mas a suspensão do acordo que facilitiva o envio dos imigrantes para lá fez a maior parte optar pelo Sul do país.

Após um acordo entre Porto Alegre e Acre, dois ônibus que teriam saído na tarde desta quinta-feira em direção ao RS ficarão em Florianópolis. A capital gaúcha lida com uma greve dos servidores municipais, o que afetaria gravemente o acolhimento aos imigrantes, segundo a prefeitura.

Desde quarta-feira, um aviso colado na porta do abrigo de Rio Branco (AC) dá as coordenadas aos migrantes. O cronograma inicial prevê a partida de um ônibus por dia entre esta quinta e o dia 30 de maio, totalizando oito viagens para os Estados do Sul.

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Em SC, as maiores concentrações de imigrantes haitianos ficam no Oeste e no Sul, e não na Grande Florianópolis, principalmente por conta da produção agrícola e da indústria cerâmica.

Primeiros ônibus chegam entre domingo e segunda

O governo de SC e a prefeitura da capital catarinense ainda não foram oficialmente informados nem sabem quantos imigrantes a cidade deve receber. Um porta-voz do governo do Acre, Leonildo Rosas, garante que isso será feito assim que o Estado coletar dados mais precisos nos abrigos onde os haitianos estão.

Aviso na porta de abrigo em Rio Branco (AC) cita os destinôs dos ônibus. Foto: Wembley Methas, arquivo pessoal

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Esta semana, eram cerca de 600 imigrantes abrigados em Rio Branco. Aqueles que vão para SC ou RS pegarão mais de dois dias de viagem.

Outros 11 ônibus com destino a São Paulo já estavam na estrada quando a suspensão saiu e mantêm o plano de deixar os haitianos na capital paulista.

A polêmica começou após o Diário Oficial do Acre publicar, em 12 de maio, detalhes sobre a contratação de ônibus para levar imigrantes em “caráter de emergência social” para outros Estados.

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O Acre tem sido a maior porta de entrada para refugiados e estrangeiros em busca de trabalho no Brasil – especialmente haitianos, que ainda amargam consequências do terremoto de 2010.

Na última quarta-feira, o secretário de Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, afirmou à RBS que um dos principais destinos dos haitianos é Florianópolis, a 4 mil quilômetros de Rio Branco. Parte dos viajantes deve descer em Curitiba, e o restante, segue até Porto Alegre.

Nesta quinta, entretanto, o governo mudou de posição e passou o assunto para as mãos do porta-voz Leonildo Rosas. Ele não confirma a informação de Mourão, de que Florianópolis é um dos destinos mais procurados. Segundo Rosas, há também 500 senegaleses em abrigos do Acre, sendo que 52 deles demonstraram interesse em se mudar para o Sul.

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– Recebemos milhares e milhares de imigrantes desde o terremoto no Haiti, em 2010, mas a mínima parte veio para ficar no Acre. Fornecemos comida, acolhimento, abrigo, mas eles chegam com o claro objetivo de se mudar para os grandes centros, especialmente São Paulo – afirma.

O Ministério da Justiça firmou convênio de R$ 1 milhão com o Acre neste ano para garantir a distribuição de haitianos pelo país.

Longo trajeto até o Sul do Brasil

Dois anos após o terremoto que transformou em escombros a capital do país mais pobre das Américas, a saída para muitos haitianos têm sido procurar no Brasil as condições de vida que não existem dentro de suas fronteiras, onde 60% da população está desempregada e 4,5 milhões sofrem com a escassez de alimentos.

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Na fronteira brasileira, Brasileia (AC) é um dos pontos de entrada de cerca dos mais de 22 mil haitianos que já chegaram ao Brasil entre 2010 e 2014, segundo a ONG Repórter Brasil. Sozinhos ou com as famílias, enfrentam um roteiro complexo, muitas vezes com passagens por outros países.

Ali, protocolam um registro de refúgio em um posto da Polícia Federal, onde recebem a autorização provisória para permanecer no Brasil. Após um tempo de espera, imigrantes haitianos ganham autorização para usar o Sistema Único de Saúde (SUS) e trabalhar com carteira assinada. Vários chegam ao país e acabam trazendo os parentes mais tarde.