Quando o Besc foi incorporado ao Banco do Brasil, o Estado tinha como único vínculo ao banco catarinense as contas do governo e do funcionalismo. Desde 1999, o banco estava sobre controle do governo federal, em uma operação que visava impedir a liquidação da instituição bancária e prepará-la para uma possível privatização _ operação realizada na época em que Esperidião Amin (PP) era governador e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) presidente.

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No último comício da campanha de 2002, em Florianópolis, Lula (PT) e Luiz Henrique da Silveira (PMDB) prometeram que não privatizariam o banco e receberam como resposta a vitória nas urnas catarinenses. Depois, o assunto ficou em banho-maria, com o banco sob gestão federal, tocada pelo petista Eurides Mescolotto. Nessa época, a então senadora Ideli Salvatti (PT) buscava uma solução junto ao governo federal.

– Toda vez que eu chegava perto do Palocci, que era ministro da Fazenda na época, ele já dizia: “lá vem ela me falar do Besc”. Fiquei carimbada pelo Palocci como a mulher do Besc – brinca.

Ao final de 2006, LHS tentou vender o direito de administração das contas do governo estadual e do funcionalismo. Precisou aprovar na Assembleia um polêmico projeto de alteração da Constituição Estadual que extinguia a obrigação de que o serviço fosse prestado pelo Besc, sob vaias de funcionários e sindicalistas.

O leilão foi realizado e vencido pelo Bradesco, que ofereceu R$ 215 milhões. Mas o governo federal barrou a venda no Supremo Tribunal Federal, alegando que a manutenção das contas no Besc estava prevista no contrato de federalização.

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O auge do impasse virou possibilidade de conciliação. Em janeiro de 2007 o recém reeleito presidente Lula recebeu os governadores – entre eles, Luiz Henrique, também reconduzido ao cargo.

– Eu questionei o ministro Guido Mantega (da Fazenda) sobre por que o governo não nos deixou fazer a venda. Ele me disse que o governo federal ia nos propiciar a venda, porque o BB ia comprar com uma oferta maior que a da licitação pelas contas – lembra Luiz Henrique.

A notícia da incorporação do Besc pelo BB se espalhou e foi confirmada em maio daquele ano, quando Lula veio a SC e anunciou:

– O Banco do Brasil vai comprar o Besc e vai manter não só o nome como as agências.

Assim começavam 18 meses de negociações que resultaram em viagens semanais a Brasília de políticos e técnicos catarinenses para discutir o negócio com o Banco do Brasil. Tudo era novidade, porque a incorporação de antigo banco estadual por outro federal era uma operação inédita no país e seria depois usada como modelo nas aquisições da Nossa Caixa, de São Paulo, e do BEP, do Piauí.

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Então secretário de Coordenação e Articulação, Ivo Carminati era figura constante nessas comitivas. Ela lembra que existiram momentos de tensão, mas que a determinação política de que a incorporação seria consumada serviu para desarmar as partes. Entre as maiores dificuldades, o consenso sobre os valores dos bens móveis e imóveis do Besc e o próprio período em que a marca precisaria ser mantida pelo banco federal.

– Nós tínhamos a preocupação de manter a marca Besc por um período de cinco anos porque ele tinha uma imagem muito forte. O BB queria que esse prazo fosse de um ano, mas o governador insistiu nisso – lembra Carminati.

Cada vírgula discutida tinha peso direto na dívida do Estado com a União. Amin questiona a incorporação e nega que a federalização tivesse objetivo de privatizar a instituição.

– Os mais intolerantes em relação à federalização do Besc foram o PT e o PMDB. E foi no governo estadual do PMDB e no governo federal do PT que não apenas se federalizou como sumiram com a marca Besc – afirma.

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A transação é defendida com entusiasmo por seus principais operadores políticos no Estado – Luiz Henrique e Ideli Salvatti.

– Os funcionários foram absorvidos e as agências foram mantidas. Por outro lado, o governo do Estado recebeu a remuneração equivalente à venda do banco e a reverteu em benefício dos catarinenses, em obras e ações. Foi uma decisão exitosa – diz o peemedebista, hoje senador.

– Foi um bom negócio para o governo federal, para o governo estadual e principalmente para a população catarinense. Acho que neste caso podemos comemorar sim como uma questão de sucesso. Uma das coisas que eu mais me orgulho de ter participado – diz Ideli, atualmente ministra das Relações Institucionais.