Aos 34 anos, Lucas Miura fazia carreira como engenheiro agrônomo e já era pai de um menino de seis meses quando a (hoje ex) mulher começou a reclamar que estava com dificuldades para perder os quilinhos extras da gestação.
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– Ela dizia que amamentando não tinha como engravidar- relembra, entre risadas.
Ele se preparava para começar uma pós-graduação em Minas Gerais quando Kenzo nasceu, em 20 de janeiro de 1981. A logística do parto envolveu muitos quilômetros rodados: viajaram de Balneário Camboriú até Rio Grande (RS) para que a mãe fosse amparada pela família enquanto o pai pegava de novo a estrada para continuar os estudos.
Logo depois, mãe e bebês acompanhavam o pai na mudança e nas viagens pelo Brasil:
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– Eu tirava a tampa do porta-malas do Fiat 147 que a gente tinha e colocava o Kenzo e o Masao lá. Era uma festa.
Hoje aposentado, seu Miura descobre entre fios loiros bem fininhos, risadas eufóricas e pés de bisnaguinha as delícias de ser avô. Téo enche a casa de felicidade, sons, brinquedos com a estampa da Peppa Pig e momentos de muita (mas muita) fofura.
Define-se como um “avô babão” e, para desespero do filho e da nora, Josiane, torce para que logo eles aumentem a família. Justifica que é mais fácil criar filhos com idades parecidas e sorri. Sempre sorri.
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Com Téo prestes a completar o primeiro ano, Kenzo se intitula cozinheiro oficial do filho. É ele quem prepara as papinhas que o pequeno adora (e quem chega com uma roupinha especialmente escolhida para as fotos desta reportagem). Assumiu a criação de igual para a igual com a mulher e lamenta que isto ainda não seja tão comum
entre os casais:
– Quando a Josi voltou a trabalhar, o Téo tinha três meses e eu levava ele até ela para amamentá-lo. Usava sling e as pessoas apontavam para mim na rua. Vinham dar parabéns, tiravam fotos.
Com muita cumplicidade, o casal divide a rotina da criação do bebê: eles se revezam durante a manhã em casa, levam o menino para a creche e vão, dia após dia, escrevendo as páginas desta jornada.
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O apoio de seu Miura e dos pais da mulher também são fundamentais, avalia Kenzo. Eles se tornam babás quando o casal tem algum compromisso, dão conselhos e cercam o bebê de mimos.
– Quando o Téo nasceu eu estava superfeliz. Mas foi quando eu vi meu pai e meu sogro na maternidade que eu comecei a chorar e a me emocionar de verdade. Foi ali que caiu a ficha. Ser pai me ajudou a entender muito melhor algumas decisões e atitudes que eu questionava antes no meu pai.
Paternidade em gestação
Bill Clinton tinha recém assumido a presidência dos Estados Unidos, a novela Mulheres de Areia estreara há poucos dias na TV e nas rádios, tocava muito Roxette, Nirvana e Zezé di Camargo & Luciano. Aos 21 anos, o jovem Alaor da Silva não queria saber de nada disso no dia 6 de fevereiro de 1993. Não lhe interessava música, novela, política, o mundo todo. Naquela manhã quente de verão em Blumenau, ele se viu adulto.
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Alaor se viu pai.
Vinte e três anos depois, o corretor de imóveis de cabelos negros, voz grave e sorriso largo toma um café na praça de alimentação de um shopping sentado ao lado de Ramon. À espera de Théo, que nasce entre o fim de novembro e o começo de dezembro, o jovem busca na relação com o pai referências para os sentimentos e situações que vai vivenciar de agora em diante.
– Ele está do meu lado em todas as minhas decisões. Quando saí de casa lembro que ele disse que estaria sempre por perto. Se nada desse certo, ele não me deixaria cair. Meu pai é o meu maior exemplo – sentencia Ramon.
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Exemplo que começa no desejo de ter filhos aos 20 e poucos anos. Ramon tem ares de guri, a barba por fazer e olhos curiosos. Conta que cresceu tendo Alaor como o companheiro de futebol, de brincadeiras, de viagens e churrascos e imaginava-se na situação inversa: sendo um pai jovem, ele teria mais disposição e tempo para crescer junto com o filho.
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– Dei sorte porque tudo se encaminhou muito cedo na minha vida. Sou formado, tenho uma carreira, uma casa.E tive mais sorte porque era uma vontade também da minha noiva – comenta.
Apesar de viverem em casas separadas, Alaor e Ramon mantêm uma rotina de atividades em conjunto: fazem academia quatro vezes por semana, jogam futebol às terças e sábados. Às quintas, fazem a noite da pizza – ou de qualquer outro prato que o pai quiser cozinhar. A agenda de compromissos, conta Alaor, é sinal de que apreciam a companhia um do outro.
– Antigamente ser pai tinha uma coisa mais autoritária. E autoridade, para mim, impõe respeito, mas torna seus conselhos inatingíveis. Eu nunca quis ser assim. Por isso eu sempre fui muito parceiro dos meus filhos (ele também é pai de Vinícius, 17) –
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explica Alaor.
Aos 44 anos, prestes a se tornar avô, ele diz que a única coisa que impôs aos filhos foi a paixão pelo Flamengo, time que, se depender dele, também será o do neto.
– Desde o momento em que eles me contaram da gravidez, vejo brinquedos, roupinhas e tudo ganha outra cara. Já olho pensando no Théo. Ser avô vai ser como ser pai, só que com mais açúcar – diverte-se.